Theatro Municipal do Rio terá 5º presidente em quatro anos
A pasta não informou o motivo da troca de comando
© Alexandre Macieira/ Riotur
Brasil Cargo
Se recuperando de uma crise, o Theatro Municipal do Rio terá seu quinto presidente em quatro anos. O economista e produtor cultural carioca Fernando Bicudo foi exonerado nesta segunda (12) após 11 meses no cargo.
Quem vai substitui-lo é o atual chefe de gabinete da fundação, Ciro Pereira da Silva, que trabalha no órgão há 42 anos, conforme foi publicado no Diário Oficial do estado. A reportagem não conseguiu contato com o atual nem com o futuro presidente até a publicação deste texto.
Em nota, a Secretaria de Estado de Cultura se limitou a agradecer Bicudo e a dizer que Pereira é um "servidor querido e admirado por todos" e "possui amplo conhecimento acerca do funcionamento da entidade", adquiridos "incansavelmente" no tempo em que atuou ali.
Questionada, a pasta não informou o motivo da troca de comando. Segundo o jornal O Globo, a exoneração teria ocorrido depois de uma discussão entre Bicudo o presidente do teatro e o secretário de Cultura, Leandro Monteiro.
O secretário teria pedido que Bicudo emprestasse o teatro de graça para a associação filantrópica Legião da Boa Vontade, para uma apresentação do Corpo de Bombeiros -Monteiro é coronel da corporação.
Bicudo, porém, teria dito que só o faria com aprovação do governador Fernando Pezão (MDB), irritando Monteiro. Os dois já haviam se desentendido antes por problemas com o repasse de verbas para a fundação.
Nos últimos quatro anos, foram presidentes da fundação o maestro Isaac Karabtchevsky (jan. a jun.2015), o compositor João Guilherme Ripper (jun.2015 a fev.2017) e os secretários de Cultura André Lazaroni (mar. a nov.2017) e o próprio Leandro Monteiro (nov.2017 a jan.2018). Nenhum ficou mais do que 19 meses no cargo.
O ator Milton Gonçalves também chegou a ser anunciado como presidente após Ripper ser demitido, em fevereiro de 2017, mas seu nome foi desconsiderado duas semanas depois por "conflito de interesse", por ele integrar o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social da Presidência da República.
O Theatro Municipal vem se recuperando de uma forte crise que se arrastou por cerca de dois anos, reflexo da decadência econômica e política do estado do Rio de Janeiro como um todo.
A irregularidade no pagamento de salários no teatro começou no final de 2015, inicialmente apenas atrasando o dia do recebimento, até que os vencimentos começaram a se acumular. A instituição encerrou 2017 com funcionários endividados e artistas frustrados, após um ano sem apresentar nenhuma grande obra.
Muitos tiveram que recorrer a trabalhos extras para complementar a renda, e parte chegou a receber cestas básicas arrecadadas em campanha. No ano passado, os servidores fizeram ao menos três protestos na escadaria da casa para chamar a atenção para a situação.
Os salários só foram regularizados pelo estado em janeiro deste ano, duas semanas depois que Bicudo entrou na presidência. Ele foi escolhido após a bailarina Ana Botafogo recusar o posto por não ter recebido do governo Pezão a garantia de que os pagamentos seriam feitos.
Em entrevista à Folha de S.Paulo em janeiro ao assumir o cargo, o presidente demitido nesta segunda disse que tinha ciência de que estava chegando após um ano "catastrófico" para o Municipal.
Uma das primeiras decisões de Bicudo foi não ter mais um diretor-artístico, mas um colegiado formado pelos diretores da ópera (Pier Francesco Maestrini), do balé (Ana Botafogo e Cecilia Kerche) e da orquestra (Tobias Volkmann).
Volkmann acabou deixando o posto em maio e foi substituído pelo maestro Cláudio Cruz, que também pediu exoneração nesta segunda. Os últimos presidentes do Theatro Municipal do Rio:
Atriz e cineasta Carla Camurati
Período: 2007 a jan.2015
Por que saiu: para assumir a curadoria da parte cultural da Olimpíada de 2016
Maestro Isaac Karabtchevsky
Período: jan. a jun.2015
Por que saiu: pediu demissão após atrito
Compositor João Guilherme Ripper
Período: jun.2015 a fev.2017
Por que saiu: foi demitido
Ator Milton Gonçalves
Período: 23.fev a 7.mar.2017
Por que saiu: não chegou a assumir; seu nome foi descartado por conflito de interesses
Secretário de Cultura André Lazaroni
Período: mar. a nov.2017
Por que saiu: foi exonerado da secretaria para voltar à função de deputado estadual
Secretário de Cultura Leandro Monteiro
Período: nov.2017 a jan.2018
Por que saiu: assumiu até Bicudo aceitar o cargo
Produtor cultural Fernando Bicudo
Período: jan. a nov.2018
Por que saiu: foi exonerado após atrito
Chefe de gabinete do teatro Ciro Pereira da Silva
Período: assume em nov.2018. Com informações da Folhapress.