Campinas: idoso chora morte do filho e agradece por mulher estar viva
Eles assistiam à missa quando homem entrou atirando
© Amanda Perobelli / Reuters
Brasil Pesar
Amparado pelo filho e pelo neto e aos prantos, o aposentado Milton Monteiro, de 71 anos, foi na tarde desta terça-feira, 11, ao Instituto Médico Legal (IML) do Cemitério Parque Nossa Senhora da Conceição, em Campinas (SP), para reconhecer o corpo do caçula, Sidnei Vitor Monteiro, morto por um atirador na Catedral Metropolitana da cidade. A mulher do idoso também foi baleada, mas não corre risco de morte.
"Ao mesmo tempo em que choro pelo meu filho, ergo a mão para o céu por minha mulher (Jandira, de 65 anos). Ela parou a bala com a mão e graças a Deus está viva", contou o aposentado. Ele diz não saber como dar a notícia da morte de Sidnei à mulher, com quem é casado há 50 anos. "Ela falava com ele por telefone dez vezes por dia. Eram grudados."
Sidnei Vitor era ajudante de eletricista na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e se encontraria com a mãe para ir ao dentista. "Ela é muito católica, decidiu rezar na catedral. Foi aí que aconteceu", disse Monteiro. A mãe levou um tiro na mão, que havia erguido para tentar se proteger, e a bala ainda atingiu a clavícula.
+ Após denúncias, João de Deus comparece a atendimento em Abadiânia
A empregada doméstica Edna Rodrigues chegou aflita ao IML nesta terça em busca de informações sobre a irmã Lourdes, de 79 anos. Ficou aliviada ao saber que ela estava fora de perigo. A idosa foi atingida por um tiro e encaminhada ao Hospital Mário Gatti. "Não vai precisar nem de cirurgia. Graças a Deus. Ela vive na igreja e eu também. Era para estar lá, mas peguei uma faxina. Foi por Deus."
Armas
O caso ainda reabre a polêmica sobre flexibilizar a venda de armas de fogo no País, bandeira do presidente eleito, Jair Bolsonaro. Major Olímpio (PSL-SP), senador eleito, disse que crimes assim geralmente são com armas ilegais e afirmou que, como está, o Estatuto do Desarmamento fez um "empoderamento" dos bandidos. "Flexibilizar o estatuto é estabelecer regras de controle."
Já o ministro extraordinário da Transição, Onyx Lorenzoni, disse que a tragédia não muda a disposição do futuro governo em liberar a posse de armas e destacou o "direito à legítima defesa".
Já para o especialista em segurança da Fundação Getulio Vargas (FGV) Rafael Alcadipani, o ataque reforça o risco de armar a população. "Quanto menos arma, menos crime. É o que mostra a maioria dos achados científicos sérios." Estudos, disse, mais recentes apontam que um crescimento de 1% na circulação de armas pode causar alta de 2% nos crimes em geral.
Mais casos
Também em Campinas, há dois anos, outro ataque com arma de fogo deixou 13 mortos. Um homem atirou contra a ex-mulher, o filho e outros parentes durante festa de réveillon e depois se matou.
Em Goiânia, com arma da mãe policial, um adolescente matou dois colegas na escola e feriu quatro no ano passado. E, em 2011, um jovem atirou contra alunos em uma escola de Realengo (RJ), matando 12 crianças.
Atirador
Euler Grandolpho, de 49 anos, não era casado nem tinha filhos. Órfão de mãe há oito anos, morava com o pai em bairro de classe média de Valinhos (SP). Segundo um amigo, era "um cara inteligente". Dono de oficina mecânica, o amigo ficou surpreso com o caso. "Estive com ele no sábado. Não sei o que deu na cabeça dele." Nos últimos meses, Grandolpho vendeu um carro e uma moto. "Disse que estava com muitos gastos."
Grandolpho entrou nesta terça na Catedral de Campinas e passou a atirar nos fiéis. Matou quatro pessoas e se matou após ser atingido por PMs que chegaram ao local.
Identificado como analista de sistemas, Grandolpho assumiu em 2012 o cargo de auxiliar de promotoria do Ministério Público Estadual, mas foi exonerado em 2014. Aposentado, o pai de Grandolpho é ministro da eucaristia em uma igreja de Campinas. "Uma família muito boa", disse uma mulher ligada à paróquia. Amigos dizem desconhecer se ele tinha problemas psiquiátricos e parentes deixaram o Instituto Médico-Legal nesta terça sem falar com a imprensa. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.