Médium João de Deus pede aval da Justiça para atender
Medida valeria até que haja novo desfecho das investigações dos relatos de mulheres que acusam o médium de abuso sexual
© Marcelo Camargo/Agência Brasil
Brasil Investigação
O advogado de João de Deus, Alberto Toron, afirmou nesta quinta (13) ter levado um pedido à Justiça para que o médium possa manter os atendimentos espirituais na Casa Dom Inácio de Loyola, espécie de hospital espiritual criado por ele em Abadiânia, no interior de Goiás.
A medida, diz, valeria até que haja novo desfecho das investigações dos relatos de mulheres que acusam o médium de abuso sexual.
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"Há um clamor para que ele continue a trabalhar, porque muita gente se beneficia desse trabalho", afirma. "Essa é uma vocação dele, que já ajudou muita gente."
Na quarta-feira (12), o Ministério Público de Goiás protocolou pedido de prisão preventiva do médium, acusado de abuso sexual por ex-frequentadoras da Casa.
No sábado (8), 13 mulheres relataram ao programa Conversa com Bial e ao jornal O Globo terem sido vítimas de abuso sexual em atendimentos individuais de João de Deus. Desde então, o número de relatos tem crescido –o que levou o Ministério Público de Goiás a criar uma força-tarefa junto a promotores de outros estados para receber denúncias e investigar os casos.
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Segundo Toron, o que motivou o pedido para que o médium possa manter os atendimentos espirituais foi uma preocupação em saber se uma eventual continuidade das atividades poderia ser interpretada como afronta à Justiça.
"Levei uma petição ao juiz explicando que, se ele quiser que todas as atividades sejam filmadas e acompanhadas por policiais, isso é bem-vindo. Queremos mostrar como tudo é feito normalmente."
Toron diz que o médium só deve retomar a rotina "após o juiz dizer como e em que condições ele pode trabalhar."
"É importante que isso não seja visto como uma afronta e muito menos como uma continuidade de práticas delitivas que nunca existiram."
O advogado afirmou ainda que não teve acesso até o fim da tarde desta quinta-feira (13) ao pedido de prisão preventiva do médium feito pelo Ministério Público de Goiás.
O pedido foi feito na quarta-feira (12), horas depois de o médium tentar retomar os atendimentos na Casa Dom Inácio de Loyola. Em visita ao espaço, que durou menos de dez minutos, João de Deus disse que estava "nas mãos da lei brasileira" e que era inocente.
Toron afirma que o médium "está à disposição da Justiça" em Goiás e está abatido diante do caso. "Ele se sente muito injustiçado". Ele também critica a falta de acesso aos depoimentos das vítimas.
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Internacionalmente conhecido, João de Deus já recebeu, em Abadiânia, pessoas como a apresentadora americana de TV Oprah Winfrey, o ex-jogador Ronaldo Nazário e a artista plástica Marina Abramovic. O presidente Michel Temer (MDB) recebeu um passe do médium na véspera da delação de Joesley Batista. E o ministro do STF Luís Roberto Barroso, também já se disse admirador de João de Deus.
Nesta quinta, a Casa Dom Inácio de Loyola amanheceu em clima de tensão. O tradicional silêncio deu lugar a pequenas rodas de conversa onde frequentadores e voluntários comentavam o caso. Por volta das 7h30, a área central do espaço tinha quase todas as cadeiras vazias.
Dentro da sala principal, uma fila de cerca de 40 pessoas esperava para entrar em um espaço interno dedicado a orações e meditação –o habitual, porém, é ver filas que contornam quase toda a área.
Os visitantes eram, na maioria, estrangeiros. "Se João for preso, a cidade inteira vai chorar", diz Francisco Lobo, um dos principais encarregados da Casa, sobre os impactos à economia do município."Todo mundo fica chateado. Até o Beira-Mar, vamos dizer assim, tem o lado bom dele. O João também. Ele sempre foi bom para o povo", disse.
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Ao contrário dos dias anteriores, funcionários passaram a vetar a entrada de câmeras na Casa. Um carro da Polícia Militar também circulava em frente ao local. "Hoje a energia aqui está pesada", afirmou um frequentador, que pediu para não ser identificado por medo de represálias.
Após seis meses no centro, ele dizia se preparar para ir embora nesta sexta. "Não dá mais para ficar aqui", disse.
Em frente ao portão que dá acesso ao centro, um estrangeiro meditava no meio da pista, em um protesto silencioso. "Help João. A meditação começa aqui", dizia o cartaz à sua frente.
Para voluntários, o aviso era uma mensagem à imprensa. "É um protesto dele contra vocês [imprensa]. Cada um se expressa da maneira que acha interessante", afirmou Lobo.
APOIO AO MÉDIUM
Um grupo de voluntários, comerciantes e frequentadores da Casa Dom Inácio de Loyola realizou, nesta quinta-feira (13), uma manifestação em apoio ao médium João de Deus e à instituição criada por ele em Abadiânia, no interior de Goiás, para funcionar como uma espécie de hospital espiritual.
O grupo carregava cartazes com dizeres como "Unidos pela casa", "Médium João estamos com você" e "Gratidão".
A reportagem contou cerca de 150 pessoas no ato, que se iniciou por volta das 14h10. Após orações, o grupo saiu em caminhada pela rua principal, em frente ao hospital.
No sábado (8), 13 mulheres relataram terem sido vítimas de abuso sexual em atendimentos individuais feitos pelo médium na Casa Dom Inácio.
Desde então, dezenas de outras mulheres passaram a fazer relatos semelhantes. A situação levou o Ministério Público de Goiás a criar uma força-tarefa para receber as denúncias de abuso e investigar.Com o acúmulo de novos relatos, o Ministério Público em Goiás protocolou pedido de prisão preventiva do médium, na quarta-feira (12).
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Questionados se o protesto ocorria em defesa do médium, alguns participantes titubeavam e contestavam: "É em defesa da Casa Dom Inácio". Fundada em 1976, a instituição vive hoje uma das maiores crises de sua história.
Outros participantes do protesto, no entanto, diziam palavras de apoio a João de Deus. "Queremos justiça!", gritou Jacilda Soares, que afirmou atuar como guia na casa desde a década de 1980.
"Sou uma mulher, assim como outras aqui, que recebeu só amor do médium João", afirmou.
"Essa casa é de cura, é um grande pronto-socorro espiritual. Estamos todos unidos pelo médium João", disse a médium Elisângela Paranhos.
O protesto durou cerca de 30 minutos. Em seguida, o grupo retornou à Casa. O movimento no local, no entanto, tem registrado queda de até 70% nos últimos dias, o que preocupa donos de pousadas e comerciantes da região que, em grande medida, dependem do local–alguns estavam presentes no ato.
Em meio à crise, funcionários da Casa Dom Inácio de Loyola já cogitam antecipar o recesso de fim de ano e suspender as atividades. Com informações da Folhapress.
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