Cerca de 100 presos provisórios votam em MG
O domingo foi movimentado no Presídio Regional de Sete Lagoas. As eleições alteraram a rotina dos presos provisórios. Cerca de 100 detentos saíram das celas para ir às urnas. A Constituição Federal impede o voto apenas de quem foi condenado pela Justiça e não cabe mais recurso. Por isso, o preso provisório, aquele que aguarda a decisão judicial, pode participar do pleito.
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Brasil Sete Lagoas
A unidade tem 451 presidiários e à época do alistamento eleitoral, que terminou em 7 de maio, 216 detentos mostraram interesse em votar, mas menos da metade foi às urnas neste domingo (5). O juiz da Zona Eleitoral de Sete Lagoas, Evandro Cangussu explica que a rotatividade no presídio é grande e entre a data do cadastro e o dia da eleição há diversas prisões e solturas. “Aqui em Sete Lagoas é uma média de 90 a 100 presos entrando e saindo na unidade por mês. É muito fluido esse número. O prazo para ele ficar lá é em média 100 dias. Como o cadastro é um momento pode ser comparado a uma fotografia daquele instante.” Aqueles que não votam, ao sair do presídio acertam a situação com a Justiça Eleitoral.
A maioria levou a colinha distribuída pelo Tribnal Regional Eleitoral para anotarem o número dos candidatos. É caso de Paulo*, que escolheu os candidatos a partir da propaganda eleitoral na televisão. Ele explica quais áreas merecem mais atenção: “Acho que tem que melhorar a saúde e a educação. Não tem como pedir muita coisa, então isso é primordial”.
Já Daniel* acredita que os eleitos devem dar mais atenção ao sistema carcerário do país e, principalmente, resolver o problema da superlotação. “A gente que está aqui dentro, conhece os problemas. Por isso, é preciso votar para melhorar. E eu lembro em quem eu voto, então lá na frente eu vou cobrar o que ele prometeu. Promessa é dívida.”
Com mais de 20 anos como voluntário em eleições, o presidente da mesa da seção eleitoral, Tinoco de Santana Filho, trabalhou pela primeira vez no presídio. Ele destacou o interesse dos presos. “A maioria já vem preparado com a cola, já sabe votar, eles não têm dúvidas. É muito tranquilo”. Ele explica que a seção funciona normalmente, a diferença é a segurança reforçada. Para isso, agentes penitenciários buscam os presos nas celas e acompanham até a seção. Em seguida, eles pegam o título eleitoral – que fica guardado na administração da unidade –, apresentam aos mesários e podem votar normalmente. O presidente diz ainda que alguns eleitores que se alistaram à época do cadastro, mas receberam o alvará de soltura, voltam ao presídio para votar.
Foi o que aconteceu com Eli Silva, que passou cinco meses no presídio. Nas eleições municipais, ele votou na unidade. Com a cola na mão, ele defende que todos deveriam votar para exercer a cidadania. “Resolvi voltar para votar, porque quero regenerar minha vida, ser cidadão de novo, sair do mundo do crime. Espero que quem for eleito dê mais atenção às crianças. Também quero que melhore os presídios. Aqui é muito cheio, tem muita briga, ninguém quer saber de ninguém. E também tem muita gente inocente aqui”.
Em todo o país, cerca de 10 mil presos provisórios e adolescentes que cumprem medida socioeducativa estavam aptos para ir às urnas. Os estados com o maior número de eleitores nessa situação são: São Paulo, com mais de 5.800 detentos e menores de idade, seguido da Bahia, com 1.500 e Minas Gerais, com cerca de mil eleitores.
Segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral, nas eleições de 2010, 18.928 presos provisórios votaram em todo o país. Já em 2012, nas eleições municipais, foram 8.871.
*Nomes fictícios