Caso Marielle: após prisão de suspeito, Anistia cobra nome de mandante
Crime completará um ano nesta quinta-feira (14)
© Renan Olaz/CMRJ
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SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A prisão de dois suspeitos envolvidos no assassinato da vereadora Marielle Franco, crime que completará um ano nesta quinta-feira (14), é para a Anistia Internacional apenas um nó desatado em meio a um universo com "muitas perguntas ainda não respondidas." A principal delas, para a entidade é: onde está o mandante dos assassinatos?
Nesta terça (12), uma grande operação da Polícia Civil prendeu o policial militar reformado Ronnie Lessa, 48, e o ex-PM, Élcio Vieira de Queiroz, 46. Segundo denúncia do Ministério Público, Lessa é apontado como um dos que dispararam a arma que matou a vereadora e seu motorista, Anderson Gomes. Já Queiroz estaria no carro de Lessa quando os tiros foram disparados.
Para a Anistia Internacional, Lessa e Queiroz "devem ser levados à Justiça para que, em um julgamento que respeite o devido processo, a eventual responsabilidade criminal seja determinada." A entidade que luta pela defesa dos direitos humanos reiterou às autoridades brasileiras a necessidade de se criar um "grupo externo e independente de especialistas para acompanhar as investigações e o processo."
"As investigações devem continuar até que os autores e os mandantes do assassinato sejam levados à Justiça", disse a Anistia em nota.
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A ação desta terça que levou à prisão de Lessa e Queiroz foi feita com equipes reduzidas da Polícia Civil e do Ministério Público para evitar chamar atenção. Às 5h, equipes já cumpriam mandados de prisão nos endereços dos suspeitos.
De acordo com as investigações, o carro de Marielle, em que também estavam o motorista, Anderson Gomes, e a assessora da vereadora, foi interceptado em uma região do centro do Rio conhecida como Cidade Nova. No local, um carro emparelhou com o da vereadora e uma pessoa disparou, segundo a polícia, usando uma arma automática.
De acordo com a promotoria, "a empreitada criminosa foi meticulosamente planejada durante os três meses que antecederam o atentado". A reportagem apurou que os presos foram levados para a Delegacia de Homicídios, que lidera as investigações. Está prevista para as 11h uma coletiva com as autoridades do caso.
Lessa foi preso em sua casa, no condomínio Vivendas da Barra, na Barra da Tijuca, zona oeste. O local é o mesmo em que o presidente Jair Bolsonaro tem casa. Os trechos da denúncia divulgados até o momento não mencionam o nome do presidente. Ao menos 34 imóveis ligados à investigação tiveram mandados de busca e apreensão expedidos. Não há notícia até o momento de quais desses locais têm relação com a família Bolsonaro.
De acordo com o jornal O Globo, Lessa entrou na lista de suspeitos após ser vítima de uma emboscada, em 28 de abril, trinta dias depois do assassinato da vereadora. A suspeita seria que pessoas envolvidas no crime teriam tentado promover uma queima de arquivo.
Os investigadores também teriam identificado que o policial reformado teria feito pesquisas sobre a rotina de Marielle e sobre eventos que participaria semanas antes do crime.
Além dos pedidos de prisão, o Ministério Público também pediu a suspensão da remuneração e do porte de arma de Lessa. Também foi pedido à Justiça indenização por danos morais das famílias da vítima e pensão em favor do filho de Anderson Gomes até ele completar 24 anos.
A reportagem apurou que os dois também foram denunciados por tentativa de homicídio da assessora de Marielle, que sobreviveu ao atentado. Segundo a denúncia, Marielle teria sido morta em razão de sua militância em favor dos direitos humanos. A operação desta manhã foi a primeira com a participação do Ministério Público do Rio, por meio do Gaeco, que é o grupo de combate ao crime organizado. Essa unidade investiga crimes relacionados principalmente às milícias no Rio.
A ação foi batizada de Lume, em referência ao Buraco do Lume, praça no centro do Rio em que parlamentares do PSOL costumam se reunir para falar de seus mandatos, toda sexta-feira. Marielle tinha um projeto no local chamado Lume Feminista. "É inconteste que Marielle Francisco da Silva foi sumariamente executada em razão da atuação política na defesa das causas que defendia", diz a denúncia.