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'Vieram à mente cenas de ataques nos EUA', diz PM que entrou em escola

PM teve a certeza de que se tratava de uma tragédia quando, logo após cruzar a porta da escola, se deparou com os corpos pelo chão

'Vieram à mente cenas de ataques nos EUA', diz PM que entrou em escola
Notícias ao Minuto Brasil

17:11 - 15/03/19 por Folhapress

Brasil Suzano

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A equipe do sargento Anderson Luiz Camargo, 44, chegou à escola Raul Brasil, em Suzano, na Grande São Paulo, quando os adolescentes, alunos do colégio, ainda escapavam desesperados pelo portão principal em meio a gritos e choros.

Ao ver, entre os jovens, uma adolescente ensanguentada, o PM teve uma intuição. "Vieram à minha mente aquelas cenas de ataques nos EUA. Pensei: esses assassinos entraram aí e estão matando todo mundo", contou o sargento à reportagem.

O policial já empregava o termo assassinos porque, naquele momento, estava no encalço de duas pessoas que tinham acabado de balear o proprietário de um lava-jato, a pouco metros da escola.

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Luiz Henrique de Castro, 25, e Guilherme Taucci Monteiro, 17, mataram cinco estudantes e duas funcionárias após invadir a escola. Outras 11 pessoas ficaram feridas. O proprietário do lava-jato, que era tio de Guilherme, também morreu.

"Falaram para a gente na agência que seria um rapaz jovem, vestido de preto, com máscara de caveira no rosto e que tinha empreendido fuga em um carro branco", disse. "Nós estacionamos atrás do veículo branco, que estava em frente à escola, e adentramos", afirmou o policial.

O PM teve a certeza de que se tratava de uma tragédia quando, logo após cruzar a porta da escola, se deparou com os corpos pelo chão. "Olha, nem sei precisar quantos", disse.

Entre tantas pessoas desesperadas deixando o prédio, o PM viu um homem orientando a saída dos adolescentes; ficou sabendo ali que era um policial à paisana.

"Os adolescentes estavam tão desesperados que pareciam não saber nem onde era a saída. O colega gritava para eles: 'por aqui, vem, vem'."

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Além de Camargo, formavam a primeira equipe que entrou na escola a cabo Ariana da Silva Torres e o cabo Vantuir Rodrigues Diniz.

"Eles estão lá no fundo", orientou o colega à paisana sobre a dupla que fazia vítimas na escola.

Para avançar, a equipe da PM entrou em formação tática: Diniz segurou um escudo balístico, Camargo tinha uma pistola em punho e Ariana, também armada, cuidava da retaguarda para evitar surpresas.

"Eu nunca achei que fosse ver tanto adolescente morto. A gente que é pai, então, é muito difícil. Isso toca o coração da gente", disse o sargento, pai de uma moça de 18 anos e de um menino de 10 anos.

Camargo notou ali algumas evidências de que o ataque ocorria no horário do recreio. "Os pratos estavam sobre as mesas, todos com as comidas ainda."

Quase no final de um corredor, os policiais viram um grupo de jovens acuados atrás de uma parede. A equipe protegeu o grupo para que saíssem dali sem correr risco de serem baleados pela dupla.

"Foi aí que a gente ouviu os dois disparos. Não sabíamos se estavam matando mais gente", disse Camargo. "Aí, a gente progrediu e achou lá na frente, no corredor, os dois caídos no chão."

"Não visualizamos [os dois ainda vivos]. Só ouvimos os estampidos. Mas com certeza eles nos viram."

Depois de confirmar a morte dos assassinos, o trio avançou pelo corredor para verificar se havia no banheiros dos alunos mais algum criminoso.

Não havia ninguém, mas havia uma sala de aula fechada, ainda cheia de alunos. "A gente falava que era a polícia, mas eles relutavam em abrir. Estavam apavorados."

"Aí, quando nos viram, saíram uns 50 alunos, com os professores, passaram por cima dos corpos, em direção a saída da escola", conta o PM.

Foi neste momento, segundo o sargento, que aconteceu um dos momentos mais marcantes de seus quase 21 anos de Polícia Militar de São Paulo, 15 deles como integrante do Corpo de Bombeiros.

Um aluno, ao ver os policiais, foi em direção deles, deu um abraço em cada um. "Obrigado, Deus abençoe vocês! Muito obrigado", disse o menino, segundo o sargento, antes de se juntar aos colegas. Mais tarde ele ficou sabendo se chamar Gabriel, filho de um bombeiro da cidade. "Isso realmente me marcou, essa cena ficou em mim."

Quando os policiais deixavam o fundo do corredor, viram chegando reforços da PM e também equipes de socorro. "Quando entramos na polícia, juramos defender a vida das pessoas com a nossa própria vida, se preciso for. Aprendi que podemos fazer o bem a qualquer hora, e de várias formas. Acredito que, se não fosse nossa ação, o desfecho poderia ser outro. O mal poderia ter sido ainda maior", disse.

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