Abrigo de saúde indígena em Brasília vive caos com pagamentos atrasados
Mais de 13 mil funcionários que atendem indígenas em todo o país estão com seus pagamentos atrasados
© REUTERS / Bruno Kelly
Brasil Tratamento
RUBENS VALENTE- BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - Vinculada ao Ministério da Saúde, a principal unidade de saúde em Brasília destinada a acolher e acompanhar indígenas que passam por tratamento de saúde, incluindo crianças com câncer, e seus familiares vive um caos após ficar sem dinheiro para alimentação e pagamento de salários de funcionários desde a chegada do novo ministro, Luiz Mandetta (DEM-MS).
Sem outra alternativa, o abrigo começou a devolver parentes e indígenas para suas aldeias e procurar vagas em outras unidades de saúde.
O órgão só não parou de funcionar porque os funcionários continuam trabalhando e a empresa fornecedora de alimentos continua enviando os produtos à casa mesmo sem receber seus pagamentos em dia.
+ Jovem com câncer morre após fugir de hospital para comer hambúguer
Mandetta tem dito desde janeiro que pretende mudar o sistema de saúde indígena e levanta suspeitas sobre os gastos no setor. Uma das propostas do governo federal é deixar o atendimento de saúde a essa população à cargo dos municípios e dos estados, deixando à União apenas lugares mais remotos.
Segundo entidades indígenas e indigenistas, mais de 13 mil funcionários que atendem indígenas em todo o país estão com seus pagamentos atrasados.
"Temos pacientes que estão correndo risco de morte. A comida vai acabar a qualquer hora. Temos crianças que passam por tratamento oncológico e não podem sair de Brasília. Agora estamos removendo os pacientes e familiares, devolvendo para aldeias e tentando achar outros hospitais", disse Yssô Truká, que é presidente do Condisi (Conselho Distrital de Saúde Indígena) de Pernambuco e membro da comissão organizadora da 6ª Conferência Nacional de Saúde Indígena, a ser realizada em maio.
A Casai (Casa de Saúde Indígena) do DF está localizada em uma chácara em Sobradinho a cerca de 30 km do Palácio do Planalto. Ela é vinculada à Sesai (Secretaria Especial de Saúde Indígena) do Ministério da Saúde e tem por finalidade, segundo o órgão, "acompanhar os pacientes referenciados aos serviços de alta complexidade, encaminhados pelos DSEIs (Distritos Sanitários Especiais Indígenas) ou pelos estados para a rede de saúde do SUS (Sistema Único de Saúde). Nesta sexta-feira (22) havia na casa 54 indígenas, a maior parte das etnias xavante, em Mato Grosso, e yanomami, em Roraima.
Entre os pacientes da Casai está uma criança de onze anos de idade da etnia macuxi, de Roraima, que aguarda um transplante de medula óssea a ser realizado em outro estado. Há cinco crianças indígenas que passam por tratamento contra o câncer. Os indígenas assistidos pela Casai são atendidos em Brasília pelo Hospital Universitário, Hospital da Criança e hospital Sarah Kubitscheck, entre outros.
Entre os pacientes também está o indígena de 39 anos da etnia pareci que foi tão espancado que perdeu o braço direito em fevereiro, em São Carlos (SP). "Ele não pode regressar a São Carlos porque está sofrendo ameaças e ainda precisa de acompanhamento médico", disse Yssô Truká.
Desde o começo do ano, após a posse de Luiz Mandetta, um deputado federal que integrava a bancada ruralista na Câmara, começaram os problemas na Casai do DF. Os recursos para a compra de alimentação para os índios, seus parentes e funcionários da Casai deixaram de ser pagos à empresa responsável, em um débito estimado de R$ 70 mil por mês. São servidos café da manhã, dois lanches, almoço e jantar.
Além disso, desde fevereiro os funcionários da Casai, contratados do hospital maternidade Therezinha de Jesus, estão sem receber seus salários. São 15 técnicos de enfermagem, sete enfermeiros, um pedagogo, um nutricionista, um assistente social e um farmacêutico.
Sem pagamentos, a empresa fornecedora da alimentação pode cortar os suprimentos a qualquer momento. A Casai começou a devolver os indígenas para seus locais de origem.
Procurado nesta sexta-feira (22), o Ministério da Saúde afirmou que "alguns contratos com empresas conveniadas, que prestam serviços para a Secretaria Especial de Saúde Indígena, estão em fase de finalização, e em breve os repasses serão regularizados. Nos meses de janeiro e fevereiro, foram atendidos 111 pacientes e 165 acompanhantes pela Casai-DF, 75 pacientes e 64 acompanhantes pela Casai-SP. Cabe esclarecer que os profissionais de ambas as Casas de Saúde Indígena são contratos por meio de conveniadas".