Rainha do Carnaval, Paolla Oliveira diz que é preciso levantar bandeiras
A atriz irá estrelar "Cara e Coragem", da TV Globo, que estreia no fim deste mês
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Fama Musa
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Sábado, dez da manhã. Enquanto muitos ainda dormiam no preguiçoso sábado pós-Carnaval, Paolla Oliveira já havia decorado 24 cenas da nova novela das sete, "Cara e Coragem", que estreia no fim do mês. O dia ainda teria gravações até as 21h, antes que ela começasse a se arrumar para a Sapucaí.
Era a preparação para a atriz fazer um repeteco do show da semana anterior, quando evoluiu na pista em uma lasciva fantasia de pomba-gira, abrindo os caminhos para a bateria nota dez da Grande Rio.
A escola sagrou-se campeã do Grupo Especial carioca com uma vitória inédita, quebrando um jejum de 34 anos. "Foi histórico", diz, categórica, a atriz, que anda em fase esplendorosa tanto na carreira quanto na vida pessoal. Paolla está prestes a protagonizar a trama que substituirá "Quando Mais Vida, Melhor!".
Vai acrescentar ao seu currículo mais uma personagem forte e independente, como a influenciadora Vivi Guedes, de "A Dona do Pedaço" (2019), e a lutadora Jeiza, de "A Força do Querer" (2017). Na nova trama, ela será Pat, uma mãe de família que sai toda manhã "para explodir carros, capotar, pular de prédios".
Peripécias típicas do trabalho de dublê. "É divertido fazer, além de ter uma temática que gosto muito: ela é mãe, trabalha, rala para pagar as contas. Tem muito a ver com personagens da vida real, isso me agrada, acho que cria uma conexão com o público", diz.
Na vida pessoal... bem, na vida pessoal, o namoro cheio de demonstrações explícitas –e recíprocas– da paixão que vem vivendo com o sambista Diogo Nogueira já os colocou no seleto grupo de casais que dá gosto de ver. "Estou apaixonadíssima", anunciou ela no Carnaval, para quem ainda não tinha percebido.
Aos 40 anos, Paolla se diz mais livre e orgulhosa de si mesma hoje do que décadas atrás. Na carreira, nas questões afetivas e diante das críticas. "A maturidade tem que trazer isso, nos deixa viver uma vida mais leve. É muito bom olhar para trás e ver que estou diferente, que me sinto melhor." Leia entrevista abaixo.
PERGUNTA - Que balanço você faz deste título conquistado no primeiro Carnaval pós-isolamento?
PAOLLA OLIVEIRA - Acho difícil fazer um balanço só com a minha visão... Mas foi histórico! Histórico por ser o primeiro Carnaval depois dessa pausa inimaginável, histórico por ser o primeiro título para uma escola -o primeiro sempre tem um sabor especial-, histórico pelo enredo [sobre o orixá Exu]. As escolas buscam enredos polêmicos ou que levantem debates, mas esse é muito especial nesse momento de restrições. Tinha um sentimento diferente, e eu posso falar porque já estive lá outras vezes. Realmente, o balanço é esse: histórico!
Na sua comemoração, você citou dois desejos de aniversário. Um deles estaria realizado (a vitória com a Grande Rio), mas não disse qual seria o outro.
(Risos) Pois é, o Twitter bombou! Assim como a vitória de uma escola precisa da união para que as coisas aconteçam, não depende só de mim, não depende só da bateria, depende de todo mundo. Acredito que meu outro desejo seja um trabalho no mesmo sentido.
P. - Como assim?
PO - Fazendo um paralelo, todo mundo que tem alguma vontade de mudança tem que se unir. Falar com quem está do lado, expor, tirar o título de eleitor, no caso dos mais jovens, a gente tem que se movimentar para para que esse momento tome corpo e a gente possa conseguir esse desejo, que é de tempos melhores do que esse.
P. - Você é a protagonista da nova novela das sete, que estreia no fim do mês. Está ansiosa?
PO - Eu estou é muito animada. A Pat, minha personagem, é dublê de uma atriz e eu tenho uma dublê. Então às vezes são três pessoas em cena com a mesma roupa. É divertido, além de ter uma temática de que gosto muito: ela é mãe de família, trabalha, rala para pagar as contas, tem que sair de manhã para explodir carros, capotar, pular de prédios. Tem muito a ver com o nosso personagem da vida real, isso me agrada, acho que cria uma conexão com o público. Eu sempre busco isso nos personagens.
P. - O Carnaval também costuma exigir um trabalho extra de alimentação, malhação e até psicológico para aguentar o ritmo de ensaios e da própria avenida. Como foi para você este esforço?
PO - Nossa, já fiz muito isso... Experimentei ficar sem comer, malhar todo dia, e foi ótimo na época, mas realmente um esforço grande demais. Agora, por conta do trabalho, que não parou nem no dia do desfile oficial, ficou muito difícil. Mas também acho que não precisa, entende? Sou muito ativa no meu dia, então não precisa desse esforço extra. Mas eu malhei, não é que não fiz nada, senão fica hipócrita: 'ah, não fiz nada'. Tentei pegar leve uma semana antes, a gente quer ficar bem, até porque minha fantasia, vamos combinar, não era muito grande (risos). Mas me dei também essa liberdade. Estou entrando na avenida com 40 anos, fico feliz com isso, fico orgulhosa, então não cabe focar o que deveria ter feito a mais.
P. - Falando sobre essa ditadura da beleza, você ainda se sente cobrada?
PO - Me incomodo com algumas perguntas, mas acho que a gente tem que falar sobre isso. Tem pessoas que ainda estão presas num formato antigo. Ontem, tinha uma pessoa mais velha que eu do meu lado e a gente falando sobre isso e ela disse: 'não, vocês, mais jovens, estão liberadas em falar sobre corpo, eu na sua idade já me escondia'. Aquilo me deu um calor, eu falei: 'ela tem razão, as coisas estão melhores'. As pressões existem, em relação à idade, ao corpo, a emagrecer, a ter filhos. Mas não me apego mais a elas, eu não sofro mais com elas, faço o que consigo, foco o que me faz bem o que acho que me deixa bonita e em como eu quero envelhecer. A maturidade tem que trazer isso, nos deixa viver uma vida mais leve.
P. - Mas foi um processo de aprendizado até alcançar isso...
PO - Sim. Já caí em todas as ciladas. De ficar triste com a internet, de se deprimir com um trabalho que não agradou, de me questionar: 'Eu deveria fazer isso?', 'será que eu estou passando do ponto?', 'será que eu deveria casar?', 'será que eu ri demais num lugar?'. Caí em todas as ciladas, mas é tão bom olhar para trás e ver que estou diferente, que me sinto melhor e essas coisas não são mais importantes para mim.
P. - No Carnaval, você declarou que está "apaixonadíssima". Como é ter uma relação tão exposta como a de vocês?
PO - A pressão é da sociedade e se tivermos que enfrentar uma sociedade inteira, eu enfrento, não tem problema. Mas a gente está superbem! Eu continuo discreta, as pessoas podem não ter essa noção, mas eu continuo discreta. Exponho o que não tem como esconder, o Diogo é uma pessoa pública também, então não tem como. Mas isso [essa exposição] também é resultado da liberdade que ganhei. Sempre me mostrei como uma mulher sociável, com compromissos, muito familiar, mas nunca me permiti mostrar que posso ser feliz como mulher, viver um relacionamento, trocar um carinho. Agora, me permito.
P. - As agendas sempre lotadas dos dois é um problema?
PO - Vou dizer que quando a gente tem boa vontade e está realmente apaixonado encontra um tempinho, e qualquer tempinho é bom demais. Quando eu saio das gravações, a gente vai jantar, conversar, quando estou um pouquinho mais calma aos finais de semana, que é quando ele trabalha, eu vou aos shows -as pessoas devem até se questionar 'nossa, ela vai a todos os shows?', mas é um momento que a gente tem para ficar junto. Mas estamos tão felizes... Estamos juntos, colados quando dá. Trabalha-se muito, mas aí marcamos um horário na agenda para se encontrar, mas está tão bom. Nesse momento, eu digo que não está faltando nada. A gente entrosou as famílias, agora somos uma família só, então isso é o mais importante.
P. - Tem tido tempo para ver séries, filmes, ler?
PO - Olha, eu gosto de fazer tudo junto. Começo a ler um livro, assisto a séries, às vezes vejo em três etapas. Mas o Oscar foi a ultima coisa que consegui ver antes desse evento Carnaval. Vi todos os filmes do Oscar, faltou apenas "Os Olhos de Tammy Faye". Neste momento, estou um pouco defasada, mas vi os filmes do Oscar, porque acho que eles fala muito do que está acontecendo no mundo como arte, tem estrangeiros, tem animação, o que o mundo está vendo como arte boa, então acho que fico de olho nessas coisas.
P - E quais foram os seus preferidos?
PO - Gostei muito de 'A Filha Perdida', foi um filme que me tocou muito. Ele é incômodo e fala de uma coisa muito antiga, mas que não se fala na verdade, que é essa situação da maternidade, de como não se sentir culpada com algumas coisas que acontecem nesse período. Sou suspeita porque tem também 'Mãe Paralelas', que é do Almodóvar, que sou fã. Mas 'No Ritmo do Coração' foi especialmente bom para mim. Ele é fácil, palatável, mas ao mesmo tempo, para quem tem um olhar, ele é muito sensível, fala sem dizer literalmente sobre aquela família se adaptando as barreiras da vida. Chorei, foi um horror. Eu assisto aos filmes e choro, consigo ser espectadora, vou ao teatro e choro, não fico me questionando, consigo de verdade me entregar, viajar, curtir, tenho uma opinião bem normal.
P. - Estamos em ano eleitoral. Como vê a importância de a classe artística se posicionar e falar abertamente sobre política?
PO - É extremamente importante! Acho que é o momento de a gente perder as restrições e se expor, porque quem fica parado está consentindo e isso é uma dor muito grande. Nesse momento, não temos mais o direito de nos calar, porque calados estamos consentindo. Cada um no seu grupo, cada um com a sua importância, a gente tem que falar. Ficar calado sempre foi um direito, mas agora é uma obrigação a gente sair desse lugar.