Fui assediada a vida toda, mas é falando desse nojo que mudaremos, diz Lorena Comparato
Desde 2020 fora dos palcos, a atriz será Maria Cecília, protagonista de "Bonitinha, mas Ordinária"
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Fama Relato
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Uma personagem clássica da obra do dramaturgo Nelson Rodrigues (1912-1980) traz Lorena Comparato, 34, de volta ao teatro. Desde 2020 fora dos palcos, ela será Maria Cecília, protagonista de "Bonitinha, mas Ordinária", texto já adaptado para o audiovisual algumas vezes.
Na obra rodriguiana, Maria Cecília é estuprada por cinco homens (uma cena impactante tanto para quem leu quanto para quem já viu uma versão anterior), e seu pai decide que que ela precisa se casar para recuperar sua dignidade.
Lorena conhece bem a história: ela é uma estudiosa da obra do autor, e seu pai, Doc Comparato, já produziu uma adaptação dessa mesma obra para o cinema, em 1981, com Lucélia Santos no papel. "O Nelson é um cara que muita gente questiona, mas nós temos a ideia de fazer uma adaptação de um texto clássico que traz uma visão difícil e ecoa até hoje", avalia.
Além da trama da mocinha forçada a se casar com quem não deseja, a peça faz críticas à burguesia e à elite carioca e aborda temas como racismo e machismo, assuntos que sempre fizeram parte do repertório de Nelson.
Lorena está animada com o papel, apesar da angústia e de alguns gatilhos que ele lhe traz. "Partindo do princípio de que sou mulher e que já fui e sou assediada a vida toda, é importante falar sobre isso. Mas é falando sobre esse nojo que mudaremos algo. Estou cercada de pessoas que admiro e me colocam em cena num lugar muito confortável para abordar essas que também são as minhas dores", diz ela à reportagem.
Em 2022, ela revelou que sofreu assédio sexual dentro da própria família durante anos quando mais jovem, abusos mascarados como carinho. Já no ano passado, denunciou ter sido vítima de assédio dentro de um ônibus de viagem. Um homem a tocou enquanto ela dormia.
"Se eu dissesse que hoje isso tudo não faz mais parte de mim, seria mentira. De certa forma, a gente às vezes só entende um trauma após muitos anos de terapia e conversas. Nunca mais consegui dormir em um ônibus", afirma.
"Bonitinha, mas Ordinária" tem direção de Bruce Gomlevsky e no elenco nomes como Agatha Marinho, Dani Marques, Emilio Orciollo Netto, Orã Figueiredo, Sylvia Bandeira e Tonico Pereira. Estreia dia 9 de agosto, no Teatro Caixa, no Rio de Janeiro.