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Cresce percentual de diretoras no cinema brasileiro, diz Ancine

Número subiu de 14,7% em 2015 para 20,3%, no ano passado; governo pretende estimular presença feminina no setor de audiovisual com premiações e comissões julgadoras paritárias

Cresce percentual de diretoras no 
cinema brasileiro, diz Ancine
Notícias ao Minuto Brasil

18:21 - 07/03/17 por Notícias Ao Minuto

Cultura Audiovisual

O percentual de mulheres que dirigiram filmes lançados no Brasil aumentou de 14,7% em 2015 para 20,3% em 2016, segundo a Agência Nacional de Cinema (Ancine). No ano passado, 29 filmes foram dirigidos por mulheres estreantes e veteranas no setor, entre longas-metragens, documentários e curtas, com temáticas diversas, de comédias românticas a dramas que retratam conflitos de relacionamento e questões políticas.

O percentual de diretoras de cinema no mercado ainda é pouco se comparado aos homens, mas a secretária do Audiovisual do Ministério da Cultura, Mariana Ribas, acredita que o crescimento seja progressivo, tanto por conta do papel que a mulher tem conquistado no mundo moderno, quanto devido às políticas públicas que têm sido pensadas para incentivar este aumento.

Este ano, o Ministério da Cultura pretende fomentar o crescimento da presença feminina no setor realizando premiação para filmes feitos por mulheres e criando comissões julgadoras paritárias. Entre os editais da Secretaria do Audiovisual (SAv/MinC) previstos para 2017 está o de Curta-Metragem, no qual uma das modalidades prevista é a Carmem Santos, que beneficiará obras inéditas, de ficção, dirigidas por mulheres. A SAv também pretende estabelecer comissão paritária de gênero para seleção de editais, para um olhar de gênero mais igualitário na avaliação das obras.

O Ministro da Cultura, Roberto Freire, pontua que “no Dia Internacional da Mulher, se reforça a necessidade de que a mulher tenha a plenitude dos seus direitos garantidos, e todos o empenho para conquistar a igualdade devida”. Freire lembra que, em sua juventude, quando na universidade, era rara a presença da mulher. “Isso avançou muito e hoje vemos a mulher ocupando todos os espaços, sendo reconhecida a sua competência e o seu empoderamento."

Por trás das câmeras

Dois filmes dirigidos por mulheres entraram na lista de 20 maiores bilheterias nacionais do ano: “É Fada!”, de Cris D’Amato, em quarto lugar; e “Um Namorado Para Minha Mulher”, de Julia Rezende, em nono. Já na lista geral de 20 campeões de bilheteria, que inclui lançamentos nacionais e estrangeiros, só há um filme dirigido por mulher: “Como Eu Era Antes de Você”, de Thea Sherrock, na 12ª posição.

Há 21 anos trabalhando com audiovisual, a diretora Cris D’Amato constata o aumento da presença feminina nos sets de filmagem. “Hoje o mercado está diferente de quando comecei. Cada vez mais vejo mulheres na direção, na produção executiva, e também na assistência de câmera, no som. Eu fiz 29 assistências de direção e, desse total, só foram duas assistências para diretoras: Carla Camurati, nos filmes Copacabana (2001) e O mistério de Irmã Vap (2006); e Tania Lamarca, em Buena Sorte (1997). Eu não pensava em ser diretora. Queria ser atriz, fui fazer assistência de direção e acabei me apaixonando pelo cinema”, conta a diretora, que no filme “É Fada!” dirige a famosa youtuber Kéfera Buchmann, no papel de uma fada atrapalhada.

Adriana Dutra, uma das diretoras da produtora Inffinito, criou junto com as sócias Claudia Dutra e Viviane Spineli o Brazilian Film Festival, hoje um dos maiores festivais de cinema brasileiro no exterior. Ela recorda que, quando iniciaram o projeto, em 1997, elas sentiam que eram vistas de forma um pouco paternalista pelos homens, mas conquistaram um lugar no mercado com o sucesso dos eventos no exterior.“As pessoas achavam que nosso trabalho seria passageiro. Éramos conhecidas como ‘as meninas’. Hoje já fizemos mais de 70 festivais, com mais de um 1 milhão de espectadores. Fomos ocupando nosso espaço com seriedade. Quando se é bom profissional, não interessa o gênero”, frisa a diretora, que lançou em 2016 o documentário “Quanto tempo o tempo tem”, um questionamento sobre a falta de tempo no mundo contemporâneo.

A cineasta Sandra Kogut também percebe um aumento da presença feminina no setor audiovisual. “Comecei na televisão, há uns 20 anos. Me lembro que quando chegava para dirigir, era a única mulher presente. De lá para cá, evoluiu muito, mas ainda precisa evoluir mais. É um constante trabalho para que as mulheres tenham mais espaço e voz”, ressalta a cineasta, que lançou em 2016 “Campo Grande”, um drama que retrata o choque entre classes sociais em meio ao caos urbano retratado pela história de duas crianças pobres que são encontradas abandonadas em Ipanema, área nobre do Rio de Janeiro. O filme foi o único brasileiro selecionado para o prestigiado Festival de Cinema de Roma.

A diretora da Ancine, Debora Ivanov, pontua que, dos 29 filmes dirigidos por mulheres no ano passado, 14 foram documentários. O dado, segundo ela, mostra que as mulheres estão presentes em filmes de menor aporte financeiro. A Ancine vai promover este ano uma agenda de atividades para 2017 somando esforços para que as ações em prol das mulheres possam ser trabalhadas de forma continuada. “Queremos compor um calendário com sindicatos, associações, iniciativas da sociedade civil, grupo de mulheres nas redes sociais”, afirma Débora. O primeiro destes eventos ocorre ainda este mês: um seminário para discutir a presença feminina no setor, que contará com a presença da secretária da SAV do MinC, Mariana Ribas.

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