Artista faz releitura de Gustav Klimt com gordinhas; veja as imagens
Beto França expõe (e vende) as próprias obras no Instagram e em loja virtual
© Beto França
Cultura Telas
Beto França recebe mensagens de brasileiras, nova-iorquinas, portuguesas, parisienses espanholas, irlandesas. Todas elas são fascinadas pela mensagem de positividade corporal pincelada nas aquarelas que o artista pernambucano publica na própria página do Instagram. Sem frase de efeito sobre o direito de ter quilos a mais nem de emponderamento de quem já aceita o próprio corpo, França acaba por defender exatamente a bandeira do movimento "corpo positivo".
As mulheres gordas pintadas pelo artista são esportistas, sensuais, tristes, felizes, depiladas, cheias de pelos, curvas e de contornos da vida real. Recentemente, o pernambucano pintou a primeira "fofa" (como ele apelida as próprias divas) trans. "No esboço, ela não era trans ainda. Foi só quando comecei a pintá-la que coloquei o órgão genital masculino... Ficou Linda. E curti como está andando bem de boa, sem se preocupar com nada. Está feliz, nasceu ali, na hora. E deixei", relata o artista sobre o mergulho neste novo universo.
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Foi com a mesma naturalidade que Beto superou a estética contemporânea que dita a magreza e se rendeu às gordas. "Sempre desenhei mais mulheres, mas, em 2010, comecei a desenhar mais fofas e postar na internet... na quarta postagem, começaram a falar: 'as fofinhas de Beto'. Gostei!", conta o artista, que admite sempre ter tido figuras das décadas de 1940 e 1950 como referência. "Desde os meus 14 ou 15 anos, acho que elas já estavam nascendo há algum tempo".
As gordinhas acabaram virando um norte para o trabalho de Beto França, que admite que não tinha ideia da proporção que as supermusas tomariam no processo criativo dele. "Foi a partir de julho de 2010, quando fiz uma série toda em aquarela (a primeira em aquarela, pois as outras finalizava digitalmente). Nesse ano, estava estudando em São Paulo, desenho e pintura. Quando voltei para o Recife, fiz a página das Fofas no Facebook. Era 2012 e não parei mais de mostrar meus trabalhos com elas.
A primeira exposição individual das fofas foi em 2015, na galeria A Casa do Cahorro Preto, em Olinda. A repercussão foi excelente entre a mídia, como lembra o artista, mas não passou incólume ao preconceito. Recentemente, Beto França também recebeu críticas pelo "peso" de uma versão que pintou da Mulher-Maravilha. "Teve bastante visualização e vários compartilhamentos. E também muita gente fazendo piada por eu ter feito a Mulher-Maravilha gordinha. Sempre tem um ou outro fazendo piadas de mau gosto", lamenta.
O pernambucano avisa, no entanto, que não vai parar de pintar as gordinhas. A mais nova série lançada por França nas redes sociais faz uma releitura do simbolista austríaco Gustav Klimt. "Gosto muito do Klimt. Sempre vejo alguma obra dele para me inspirar. Em 2010, coloquei uma fofinha no lugar de uma das musas dele. Para mim, é um aprendizado, pois estou ali estudando a paleta de cor que ele usava".
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A nova série foi pintada em aquarela sobre papel com porcentagem de algodão. Beto usa tanto tintas em bisnagas quanto em pastilhas, mas diz que pretende testar o resultado com tinta acrílica e telas. Alguma outra releitura de clássicos à vista? "Acho que o próximo será Van Gogh", antecipa o artista, que também pensa em fazer uma série sobre gordinhas tatuadas. Beto França comercializa a própria obra pela plataforma que acabou lançando-o ao mundo, o Instagram. E também mantém as obras em uma loja virtual.