'Portugal abriu espaço aos quadrinhos brasileiros', diz autor premiado
Henrique Magalhães recebeu o prêmio de melhor álbum de tiras no Festival Internacional da Amadora, em 2016. Agora lança em Portugal 'Maria - A maior das subversões'
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Os quadrinhos brasileiros atravessaram o Atlântico e parecem ter conquistado o seu espaço entre as poesias de Fernando Pessoa. Quem garante é o quadrinista Henrique Magalhães, que foi premiado no Festival Internacional de Banda Desenhada da Amadora, em 2016, e regressou este ano, entre quatro artistas brasileiros convidados pela programação, para lançar o seu novo álbum.
“Maria - A maior das subversões”, sobre a personagem que o acompanha há 42 anos, foi lançado pela editora portuguesa Polvo.
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Criador da editora Marca de Fantasia, cujo catálogo prioriza as publicações de quadrinhos (em Portugal conhecidos como “banda desenhada”), Henrique Magalhães conversou com o Notícias ao Minuto por telefone, diretamente da Amadora, região metropolitana de Lisboa, onde participa do evento.
Ele, que já havia arrebatado o Prêmio Nacional de Banda Desenhada 2016, na categoria “Melhor Álbum de Tiras Humorísticas” com “Maria!...”, dividiu o espaço com outros nomes brasileiros do segmento artístico, a exemplo de Marcello Quintanilha, André Diniz e Laudo Ferreira.
“Acho muito importante esse intercâmbio, que na verdade é de mão única, de lá para cá. Significa uma atenção e uma abertura muito grande dos portugueses aos quadrinhos brasileiros. São vários os autores que já estiveram aqui, tanto no Festival de Banda Desenhada da Amadora quanto no Festival de Beja”, comentou o paraibano.
Nesta edição, a participação do autor - que também é professor de Comunicação em Mídias Digitais da Universidade Federal da Paraíba -, celebra o resgate de um álbum lançado no Brasil, em 1984. O mesmo livro será relançado em breve nacionalmente, o que mostra a atualidade da sua personagem lésbica, feminista e ativista.
Maria saiu das páginas dos jornais e dos álbuns de tirinhas para se tornar interesse de pesquisa acadêmica de graduandos e pós-graduandos, ganhando até um documentário exclusivamente sobre ela: “Eu sou Maria”, de Matheus Andrade e Regina Behar. No festival, o autor foi recebido com uma boneca da personagem, confeccionada no seu tamanho.
“Há um fator muito interessante nesse movimento, uma confluência de atitudes tanto editoriais quanto promocionais dos eventos. Existem editoras portuguesas, como a Polvo, de Rui Brito, que têm dado muita valorização aos nossos quadrinhos. É um reconhecimento extraordinário dos quadrinhos brasileiros, principalmente dos autorais”, disse Magalhães.
Sobre o cenário da HQ no Brasil hoje, ele avaliou que o mercado sempre esteve muito restrito às publicações de massa, de bancas de revista, como a obra de Maurício de Sousa, criador da “Turma da Mônica”.
“Ele criou um processo industrial de produção, mas não sobra muito espaço no mercado para autores individuais. Esse mesmo mercado tem perdido fôlego para outras expressões, como os jogos eletrônicos e o cinema, também por conta do imperialismo, pois os quadrinhos chegam de fora muito baratos”.
Tais fatores seriam o calcanhar de aquiles para a concorrência nacional, na opinião do criador de Maria. Mas o veterano das tirinhas é otimista e acredita na renovação do segmento também no seu país.
“Há um movimento muito forte, independente, de editores que lançam quadrinhos para adultos, sejam adaptações literárias ou obras originais. São publicações que carregam um caráter underground e experimental como motor criativo”, concluiu o editor da Marca de Fantasia, que do lado tropical desse intercâmbio já publicou obras de quadrinistas portugueses, argentinos e franceses.
Festival BD Amadora
O Festival de Banda Desenhada da Amadora vem sendo promovido anualmente na Amadora, região metropolitana de Lisboa, capital portuguesa. A 28ª edição do evento começou no dia 27 de outubro e vai até 12 de novembro. A programação completa pode ser acessada na página oficial.