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‘Tive um chamado para vir ao Brasil’, diz atriz Isabél Zuaa

Após participar de produções independentes e filmes premiados, a artista portuguesa planeja aprofundar projetos que explorem o “triângulo amoroso” entre o país, Portugal e África

‘Tive um chamado para vir ao Brasil’, diz atriz Isabél Zuaa
Notícias ao Minuto Brasil

08:40 - 13/11/17 por Juliana Espanhol

Cultura Cinema

Isabél Zuaa é um nome que vem ganhando projeção na cena cultural do país e promete ser ouvido ainda muitas vezes nos próximos anos. Após emendar dois longas-metragens lançados neste ano - ‘Joaquim’, de Marcelo Gomes, e ‘As Boas Maneiras’, de Marco Dutra e Juliana Rojas - a atriz portuguesa quer trabalhar em projetos que envolvam o Brasil, seu país natal e a África - terra dos pais da artista.

“Eu tive um chamado para vir ao Brasil”, conta a artista, natural de Lisboa. Com formação em teatro e dança, Zuaa veio ao país pela primeira em 2007, por meio de um intercâmbio cultural na área de artes performativas na Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio). “Vim pela possibilidade de ter mais colegas negros. Mas, ao chegar, tive um impacto e fiquei a conhecer outras realidades”, relembra.

Desde essa primeira temporada em terras cariocas, a atriz participou de diversas produções nacionais. No cinema, uma das mais recentes é a atuação como protagonista de ‘As Boas Maneiras’, longa-metragem de terror que venceu o prêmio de Melhor Filme do Festival do Rio neste ano. Na trama, Zuaa interpreta Clara, uma enfermeira da periferia de São Paulo que é contratada para cuidar o filho de Ana (Marjorie Estiano), moradora de um bairro de alto padrão na cidade. “O filme aborda questões da solidão da mulher negra, da segregação e discriminação que as relações entre pessoas de origens diferentes podem ter”, diz. “No entanto, ele traz um tipo de terror do cotidiano, algo que pode de fato acontecer e que assusta mais do que a ficção”, afirma.

A atriz participou recentemente de dois filmes de época. Em ‘Joaquim’, Zuaa interpreta Preta, uma mulher escravizada que lidera uma revolução e funda um quilombo. Já em ‘O Nó do Diabo’, apresentado na mostra competitiva do Festival de Brasília deste ano, o quarteto de diretores Ramon Porto Mota, Gabriel Martins, Ian Abé e Jhésus Tribuzi explora o gênero do terror para falar sobre o racismo histórico no país.

Gosto sempre de imaginar outras perspectivas ao trabalhar em filmes de época. Nós, atores negros contemporâneos, temos de estar alertas para não corroborar com estereótipos”, diz. “Queremos contar nossas histórias”, ressalta.

No currículo de Isabél Zuaa cabem, ainda, produções tão diversificadas quanto o premiado filme independente ‘Kbela’, de Yasmin Thayná, e a minissérie ‘Sob Pressão’, da Rede Globo. “Creio que o mais importante é sempre entender a mensagem do trabalho, encontrar um ponto que te identifique com o projeto”, afirma. Enquanto o filme aborda a relação entre as mulheres negras e seus cabelos, alguns dos temas discutidos na série são a situação das favelas cariocas e a chegada de refugiados africanos ao país.

Projetos atuais

Isabél está em cartaz entre 9 e 19 de novembro no Teatro São Luiz, em Lisboa, com a peça ‘Amazónia’, de Jorge Andrade. O espetáculo mostra a produção de uma novela ecológica gravada na floresta tropical. Na trama, a equipe de produção começa por adotar ideias “verdes” como projetar as falas dos atores para economizar papel, repetir textos de outras novelas para poupar roteiros, até chegar que os diálogos se transformam em grunhidos e os atores abrem mão de qualquer figurino.

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No fim do mês, a atriz volta ao Brasil para atuar na peça ‘Selvageria’, de Felipe Hirsch. A montagem, que estreou no último dia 3 no Sesc Vila Mariana, em São Paulo, pretende escancarar as origens do conservadorismo do país. Para tanto, o diretor recorre às coleções do bibliógrafo José Mindlin e à ‘Bibliografia Brasileira do Período Colonial’, de Rubens Borba de Moraes, documentos que falam sobre a escravidão no Brasil entre os séculos 16 e 19.

Quanto a seus projetos pessoais, a atriz pesquisa questões da ancestralidade negra, do sagrado feminino e de rituais de passagens pelos quais passam as mulheres. Filha de pai guineense e mãe angolana, Zuaa também se diz interessada em explorar este “não-lugar, triângulo amoroso” entre Brasil, Portugal e África. “São pontes que estão cada vez mais estreitas”, resume.

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