'Não nos resignamos a viver na América Latina', diz cineasta argentina
Lucrecia Martel comparou os personagens de seu novo filme, 'Zama', com os de seu primeiro longa, 'Pântano'
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A diretora Lucrecia Martel comparou os personagens de seu novo filme, "Zama", com os de seu primeiro longa, "Pântano", e afirmou que o ponto em comum entre eles é o fato de que não se conformam em viver na América Latina.
"A classe média branca argentina, que eu conheço bem e a qual eu pertenço, é composta de pessoas que não se resignam em viver aqui", disse durante debate organizado pela Folha de S.Paulo, na terça-feira (28), no Espaço Itaú do Shopping Frei Caneca (SP), após sessão de pré-estreia.
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"São pessoas que estão prestando atenção em atentados na Europa, em acontecimentos nos Estados Unidos; que vão a Miami fazer compras", afirmou.
O roteiro de "Zama" foi escrito por Lucrecia a partir do romance homônimo de Antonio di Benedetto (1922-1956). A obra conta a história de Diego de Zama (interpretado pelo ator mexicano Daniel Giménez Cacho), um burocrata espanhol do século 18 que quer deixar a colônia e aguarda uma transferência que nunca vem.
A frustração do protagonista, que depende da boa vontade de seus hierárquicos superiores para se reunir com a sua família, dita o ritmo do filme, que se desenvolve em meio a paisagens bucólicas do atual Paraguai.
Para Íris Kantor, professora de história da USP, que participou do debate, a obra capta o tipo sociológico do funcionário da colônia que vive uma espécie de desterro. "Embora Zama seja um crioulo [descendente de europeu nascido na América do Sul], ele é um americano que já se encontra em um contexto de tomada de consciência de sua condição de inferioridade perante os espanhóis", afirma.
Sua angústia exemplifica o "mercado de expectativas" criado pelos colonizadores, segundo a professora. "A Coroa espanhola concedia benefícios de forma desigual aos seus agentes do sistema metropolitano desde o início da colonização", disse.
COLONIZADOS
Uma das preocupações de Lucrecia foi mostrar os personagens índios e negros de uma forma diferente da "representação da submissão total, com a qual crescemos e estamos acostumados". A decisão de interpretar a escrava africana Malemba não foi fácil, afirmou a atriz brasileira Mariana Nunes durante o debate.
"É muito difícil e complexo fazer uma personagem como essa nos dias de hoje", disse. Por outro lado, contou ter visto características que diferenciavam Malemba da figura tradicional da escrava que a motivaram a participar do projeto. "Apesar de ser muda e de o papel ser pequeno, a Malemba mostra suas vontades de forma muito clara no filme", afirmou.
"Ela fugiu de seus antigos donos, quer se casar [mesmo sendo escrava] e enfrenta o personagem de Zama olhando-o nos olhos".Segundo Mariana, a maioria dos roteiros que recebe tem personagens negros que são submissos - "infelizmente", diz. Com informações da Folhapress.