Lobão faz versão de músicas dos anos 1980
Cantor ainda disparou contra desafetos célebres, como Caetano Veloso e Chico Buarque
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Cultura disco e show
Lobão acha que já fizeram muita coisa errada com o rock. Até mesmo no período em que o gênero ganhou sua maior popularidade no Brasil, nos anos 1980, num movimento do qual se considera sócio-fundador.
Agora, o músico faz uma revisão carinhosa desse cancioneiro, em disco e show.
No próximo sábado (5), ele apresenta na casa de shows Audio, em São Paulo, muitas das 25 faixas de "Antologia Politicamente Incorreta dos Anos 80 pelo Rock".
São músicas gravadas originalmente entre 1980 e 1989, por colegas de geração. O disco independente, que sai em CD e vinil, traz uma cara mais rock às canções. Pode ser no pop sofisticado de Guilherme Arantes ou no punk acelerado dos Inocentes.
"Eu quero dar a voz do rock and roll que nos foi roubada", diz Lobão à Folha no estúdio montado em sua casa, em São Paulo. A frase de efeito faz sentido imediato para quem leu "Guia Politicamente Incorreto dos Anos 80 pelo Rock" (Leya), lançado em 2017, no qual fica evidente sua convicção sobre o erro dos produtores musicais da época.
Para ele, esses profissionais vinham do trabalho com artistas de MPB e não sabiam gravar corretamente os grupos de rock. "Eu não consigo ouvir meus discos da época. Tudo soava meio iê-iê-iê. Essas regravações vão reiterar o que escrevi no livro. Eu me espantei, depois de fazer tantas resenhas dos discos para o livro, com a qualidade das músicas, da perenidade delas."
"E não são músicas gerenciadas por esse coronelato que existiu antes desse período na MPB e continuou existindo depois, até hoje."
Lobão atira contra desafetos célebres, como Caetano Veloso e Chico Buarque.
"Eles nunca foram meus ídolos. As pessoas dizem 'você fala mal do Chico Buarque porque tem inveja'. Meu, elas não podem imaginar meu desprezo pelo Chico. Tenho influência do Paulinho da Viola, e muita, mas não do Chico."
Lobão se entusiasma com as músicas. "Eu mesmo demorei 30 anos para sentir essa qualidade, porque as gravações originais são péssimas, e outras regravações são até piores. Marisa Monte regravando Titãs é uma coisa horrível. Eu quis fazer um disco de luxo, com produção esmerada."
A opção pelo rock básico tem exceções. "Somos Quem Podemos Ser", do Engenheiros do Hawaii, tem sofisticação, parece Clube da Esquina. "Planeta Água", de Guilherme Arantes, ficou uma moda de viola.
"Botei duas vozes, para ficar sertanejo mesmo, e a segunda parte vira meio Queen. Ficou bonita. Nessas 25 músicas não tem provocação. Só coloquei músicas com as quais eu me emociono profundamente."
Lobão admite que começou a escrever o livro para detonar os anos 1980. "Para mim foi um período detestável. Fui preso, perdi Cazuza, meus discos da época são execráveis. Mas fiquei tomado pela qualidade das músicas", diz. "Eu me emocionei muito, sabe? Chorei muito, as músicas me possuíram. Fiquei surpreso."
Ele afirma que esse envolvimento foi independente de sua ligação com os artistas. Teria sentido o mesmo com as canções de Cazuza, que foi seu parceiro e amigo próximo, e com as de Herbert Vianna, dos Paralamas, com o qual teve um longo histórico de brigas e provocações.
Lobão mostrou sua versão de "Lanterna dos Afogados" para João Barone, num encontro em Niterói, e o baterista dos Paralamas gostou.
Fê Lemos, do Capital Inicial, postou em redes sociais que achou fantástico o arranjo de Lobão para "Leve Desespero". Diz que teve aprovação também de Marina Lima, de Clemente (dos Inocentes e da Plebe Rude) e do Ira!, banda da qual gravou duas faixas. "O Nasi esteve no meu estúdio e chorou! Disse que eu tinha conseguido fazer Ira! puro."
Ele conta que algumas escolhas iniciais não deram certo.
"Tentei 'Índios', da Legião, mas no fim achei a letra uma porcaria. Tentei o Ritchie, mas, quando chegou na hora de cantar 'abajur cor de carne', vi que não conseguiria falar esse verso, não tenho cara de pau para isso." Com informações ds Folhapress.