'Colheita Amarga', sobre genocídio camponês, é filme sem alma
Yuri é neto do grande guerreiro Ivan. Mas Yuri tem sensibilidade artística, e por isso sua família procurou evitar a herança bélica do avô
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Cultura Crítica
SÉRGIO ALPENDRE - A estreia de alguns filmes é a ocasião propícia para certos esclarecimentos. É o caso de "Colheita Amarga", produção canadense rodada na Ucrânia e falada em inglês, sobre o genocídio de camponeses promovido por Josef Stalin nos anos 1930.
O primeiro esclarecimento é bem óbvio, mas ainda são muitos os que o desconsideram: tema nobre não garante um grande filme.
O segundo também é óbvio, e já foi feito há mais de oitenta anos pela crítica francesa: um filme feito para grande público, normalmente considerado apenas um entretenimento inconsequente, pode atingir o estatuto de uma grande obra, enquanto um filme que se apresenta como mais sério, "de arte", pode ser um fiasco.
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Por mais que seja difícil vermos grandes obras dentro do cinemão hollywoodiano, convém não desprezar o que alguns diretores conseguem fazer dentro dessa redoma comercial.
Já "Colheita Amarga", sejamos francos, parece saído de algum computador. Jogaram os ingredientes em um programa com o objetivo de se chegar a um filme com potencial em premiações das mais diversas.
O resultado é um filme como muitos outros, sem riscos, sem alma.
Yuri (Max Irons, filho do grande ator Jeremy Irons) é neto do grande guerreiro Ivan (o mítico Terence Stamp). Mas Yuri tem sensibilidade artística, e por isso sua família procurou evitar a herança bélica do avô.
Até que se intensifica a perseguição aos camponeses ucranianos após a morte de Lênin e a subida ao poder de Stálin, quando o regime soviético procurou sufocar os pequenos latifundiários visando uma coletividade forçada dos meios agrícolas.
Tudo isso é explicado no filme. E tem ainda um romance, iniciado na infância e que atravessará muitos anos, entre Yuri e Natalka (Samantha Barks).
Algumas poucas cenas entre os dois indicam uma outra possibilidade, e aliviam, infelizmente por pouco tempo, as doses exageradas de vilania e maniqueísmo, em que as pessoas do bem são geralmente frágeis e tolas e as pessoas do mal parecem robôs programados para matar e explorar.
Ou seja, é o tipo de filme extremamente conservador, com uma plasticidade visual brega, assinado por George Mendeluk, veterano alemão de carreira medíocre em Hollywood.
Como interessante contraponto, temos o novo "Os Vingadores: Guerra Infinita". Que não é um bom filme, mas ao menos procura novas possibilidades dentro da surrada fórmula de super-heróis.
O que "Colheita Amarga" promove, por outro lado, é apenas o empobrecimento do cinema, reduzido mais uma vez a uma cartilha do filme edificante.
COLHEITA AMARGA (BITTER HARVEST)
QUANDO Estreia na quinta (24)
CLASSIFICAÇÃO 14 anos
ELENCO Max Irons, Samantha Barks, Terence Stamp
PRODUÇÃO Canadá, 2017
DIREÇÃO George Mendeluk
AVALIAÇÃO Ruim
Com informações da Folhapress.