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Conheça as brigas lendárias entre escritores

De Gabriel García Márquez a Proust, autores sempre trocaram a luta vã com palavras pela luta física

Conheça as brigas lendárias entre escritores
Notícias ao Minuto Brasil

18:14 - 21/09/18 por Folhapress com MAURÍCIO MEIRELES

Cultura Livro

Treta, treta, tretinha. Eis uma arte que os escritores cultivaram com afinco, muitas vezes resvalando em socos, sopapos, tapas e pontapés.

Mas sempre surpreende, em um meio literário afeito aos tapinhas nas costas, quando alguém parte para um soco no peito – como Lourenço Mutarelli fez com o escritor Marcelo Mirisola no domingo (16), na Festa Literária Internacional da Mantiqueira.

Houvesse um museu dos escritores brigões, seria preciso colocar na porta uma estátua de Púchkin. O autor russo, que já era encrenqueiro, um dia cansou de ouvir as fofocas de que seu cunhado tinha um caso com sua mulher.

Púchkin subiu nas tamancas e resolveu lavar a honra com sangue, marcou um duelo com o rival para uma tarde de 1837. O valentão saiu de lá morto. Nos anos 1970, o escritor Andrei Siniavski diria que o autor "inscreveu a si mesmo com pólvora e sangue na história da arte".

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Tudo muito comum por aquelas bandas, pelo visto, a contar por uma reportagem de quatro anos atrás na agência de notícias Ria Novosti: "Russo amante de poesia esfaqueia até a morte colega que defendeu a prosa". Calma, rapazes.

Até Proust, quem diria, um moço de saúde frágil, resolveu se meter em um duelo contra um crítico literário -o que algum escritor contemporâneo brasileiro ainda há de fazer.

A briga foi com o crítico Jean Lorrain, em 1897 -embora fosse ele próprio gay, fez uma alusão, em um texto, à homossexualidade do autor de "Em Busca do Tempo Perdido". Eles se encontraram em uma floresta fora de Paris, mas erraram os tiros um no outro.

Já houve até quem lucrasse com tentativa de assassinato -no caso, uma briga de amor. O revólver calibre 7 mm com o qual Paul Verlaine tentou matar Arthur Rimbaud, em 1873, foi leiloado há dois anos por mais de R$ 2 milhões.

Verlaine, que já deixara mulher e filhos por causa do relacionamento, tentava se livrar de Rimbaud a qualquer custo. Depois de uma noite em um quarto de hotel, Verlaine sacou a arma e deu dois tiros no autor -um acertou o pulso esquerdo do poeta, outro ricocheteou na parede e foi parar na chaminé.

Há um soco até hoje sem explicação. Em 1976, em um cinema de Barcelona, Vargas Llosa, num acesso de macheza, deu um cruzado na cara de Gabriel García Márquez, quase dez anos mais velho.

Especula-se até hoje sobre os motivos da peleja , mas Gabo morreu sem dizer palavra sobre o assunto. Seriam as diferenças políticas dos dois? Ambos tinham sido fãs de Fidel Castro, mas enquanto o colombiano continuou de esquerda, o peruano foi se tornando um liberal.

Os brasileiros também têm embates. Há a discussão acalorada entre Ferreira Gullar, morto em 2016, e Augusto de Campos, depois que o primeiro disse ter sido o responsável por reavivar o interesse na obra de Oswald de Andrade.

Gullar dizia ter descoberto o modernista para os concretos. Os dois trocaram uma série de insultos na Folha de S.Paulo. "Que crédito pode merecer um sujeito tão desligado que chega a mijar na lata de lixo pensando que é o vaso sanitário?", Campos escreveu.

"Augusto, que nunca mija fora do penico quis retratar-me como um sujeito ególatra e presunçoso, dono da verdade. Pergunto: alguém assim escreveria uma crônica intitulada 'Errar é comigo mesmo', confessando suas trapalhadas? Augusto jamais o faria, uma vez que, modesto como é, não erra nunca. Ele e Deus", retrucou Gullar.

Como se vê, os escritores nem sempre se comportam como santas criaturas. E pensar que Carlos Drummond de Andrade dizia que a luta vã era a luta com as palavras. Com informações da Folhapress.

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