Porta-voz nega falta de recursos para 13º do Bolsa Família
Questionado se ele estava confirmando a existência de dinheiro para pagar o benefício, mas não explicando a origem, o porta-voz respondeu de forma afirmativa
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Economia Bolsa Familia
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - Depois de o presidente Jair Bolsonaro (PSL) criticar a reportagem do jornal Folha de S.Paulo que mostra que o orçamento do Bolsa Família para este ano é insuficiente para pagar o 13º para os beneficiários, o porta-voz da Presidência, general Otávio Rêgo Barros, negou a ausência de recursos, mas não explicou de onde eles virão.
- Jornaleco não vive sem MENTIR.
— Jair M. Bolsonaro (@jairbolsonaro) 20 de novembro de 2019
- Suspendi minha assinatura e muitos empresários têm cancelado contratos publicitários nesse jornal campeão de fake news e desinformação. pic.twitter.com/zdZKzY4NKB
Em entrevista à imprensa no início da noite desta quarta-feira (20), Rêgo Barros disse ter conversado com o ministro da Cidadania, Osmar Terra, sobre o assunto. O programa de transferência de renda é de responsabilidade da pasta.
"Ele afirmou pessoalmente que os recursos financeiros são suficientes para os pagamentos que têm início de pagamento para 11 de dezembro", disse Rêgo Barros. Segundo o porta-voz, o ministro teria pedido que ele não aprofundasse detalhes técnicos e que, se fosse necessário, os jornalistas encaminhassem perguntas à pasta sobre a origem do pagamento.
Questionado se ele estava confirmado a existência de dinheiro para pagar o benefício, mas não explicando a origem, o porta-voz respondeu de forma afirmativa.
Reportagem publicada pela Folha de S.Paulo nesta quarta mostra que o orçamento do Bolsa Família para este ano é insuficiente para que Bolsonaro cumpra a promessa de pagar um 13º para os beneficiários, segundo análise de técnicos do Congresso.
De acordo com nota técnica do Legislativo, faltam R$ 759 milhões na reserva do programa para garantir os pagamentos neste ano. Se não houver suplementação de recursos, cerca de 4 milhões de pessoas poderão ficar sem receber o benefício. O número é aproximado porque depende do valor do benefício pago a cada família.
A publicação da matéria foi alvo de críticas por parte do presidente. "Jornaleco não vive sem mentir", disse o presidente em rede social. "Suspendi minha assinatura e muitos empresários têm cancelado contratos publicitários nesse jornal campeão de fake news e desinformação", afirmou.
O 13º para beneficiários do programa é uma promessa de campanha do presidente. A medida foi anunciada como iniciativa do governo por Bolsonaro e pelo ministro Osmar Terra (Cidadania) em outubro, em evento no Palácio do Planalto.
Para implementá-lo, o presidente assinou uma medida provisória, que tem validade imediata, mas precisa ser aprovada pelo Congresso em até 120 dias. Nessa tramitação, a nota técnica elaborada pela Consultoria de Orçamentos, Fiscalização e Controle do Senado serve para subsidiar deputados e senadores, que irão analisar a adequação da MP às leis orçamentárias.
O documento do Legislativo concluiu que a MP fere normas legais ao não prever de onde sairão os recursos para bancar os gastos com o Bolsa Família neste ano. Responsável pelo gerenciamento do programa, o Ministério da Cidadania havia informado, em outubro, que o 13º seria garantido por um aumento de R$ 2,6 bilhões no orçamento do programa.
Isso foi feito, e, para este ano, ficaram previstos R$ 32 bilhões para a transferência de renda a pessoas em situação de pobreza e de extrema pobreza. Do total, R$ 25,2 bilhões já foram usados até outubro. Por mês, os desembolsos somam, em média, R$ 2,5 bilhões.
Para o restante do ano, o governo precisa desembolsar mais R$ 7,6 bilhões com as parcelas de novembro, dezembro e o 13º. Pelas contas dos técnicos do Congresso, porém, faltarão os R$ 759 milhões para fechar a conta. "Verificou-se o não atendimento de preceitos legais estabelecidos tanto pela LRF [Lei de Responsabilidade Fiscal] quanto pela LDO [Lei de Diretrizes Orçamentárias] de 2019", concluiu a nota técnica.
Procurado, o Ministério da Cidadania disse apenas que o 13º será garantido, mas não explicou como buscará recursos extras. O Ministério da Economia não se manifestou. Para que a situação seja normalizada, o governo pode editar uma portaria remanejando recursos entre órgãos do Ministério da Cidadania.
Outra alternativa é o envio ao Congresso de um projeto de lei orçamentário com uma suplementação de verbas. Nesse caso, a medida dependerá de aval do Legislativo, que precisará avaliar o pedido antes que o recurso acabe.
O Bolsa Família atende pessoas que vivem em situação de extrema pobreza, com renda per capita de até R$ 89 mensais, e pobreza, com renda entre R$ 89,01 e R$ 178 por mês. Em outubro, a cobertura do programa foi de 13,5 milhões de famílias. O benefício médio foi de R$ 189,86 por família.
No governo Bolsonaro, o programa vem regredindo, após atingir o auge em maio, quando a cobertura chegou a 14,1 milhões de famílias.