Bolsonaro insiste que Brasil está quebrado no setor público e cita prefeituras
Bolsonaro também responsabilizou seus antecedentes e a imprensa pela atual situação econômica do país.
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BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) insistiu nesta quinta-feira (7) na narrativa de que o Brasil está quebrado para justificar o não-cumprimento de uma de suas promessas de campanha, a alteração da tabela do Imposto de Renda.
"Respondi anteontem uma pergunta aqui sobre a tabela do Imposto de Renda. Falei durante a campanha que queria corrigir a tabela, só que veio esta desgraça da pandemia, mais ou menos R$ 700 bilhões de endividamento. Não deu para fazer isso. E falei que o Brasil estava quebrado. E está quebrado na questão pública", disse Bolsonaro a apoiadores no jardim do Palácio da Alvorada.
A declaração foi transmitida por um canal simpático ao presidente que diariamente grava, edita e publica manifestações do mandatário.
Desta vez, o presidente citou a situação de prefeituras pelo país para sustentar seu discurso. "Vê se os prefeitos não estão quebrados. Estão. Estão no limite, pagando suas despesas, pagando suas despesas obrigatórias. Está no limite", afirmou.
Bolsonaro também responsabilizou seus antecedentes e a imprensa pela atual situação econômica do país. "E quebraram o Brasil ao longo de tanto tempo. Que que a imprensa faz? Mas ainda bem que a maioria da população já conhece o que é esta imprensa brasileira, conhece o que é a Rede Globo", disse o presidente à militância bolsonarista.
Na terça-feira (5), Bolsonaro disse a seus apoiadores que o Brasil está quebrado e que ele não consegue fazer nada.
"Chefe, o Brasil está quebrado, e eu não consigo fazer nada. Eu queria mexer na tabela do Imposto de Renda, teve esse vírus, potencializado por essa mídia que nós temos. Essa mídia sem caráter. É um trabalho incessante de tentar desgastar para tirar a gente daqui e atender interesses escusos da mídia", disse o mandatário em manifestação também transmitida pelo canal bolsonarista.
No mesmo dia, horas depois, Bolsonaro disse que "a gente não tem recursos para investir" e voltou a falar de sua promessa de campanha de fazer a atualização da tabela de Imposto de Renda.
"Eu queria mexer na tabela do Imposto de Renda. O cara me cobra: 'compromisso de campanha'. Mas não esperava esta pandemia pela frente. Nos endividamos em aproximadamente R$ 700 bilhões. Complicou mexer nisso aí", afirmou.
Na quarta-feira (6), Bolsonaro afirmou, em tom de ironia, que o país está uma maravilha.
"Confusão ontem, você viu? Que eu falei que o Brasil estava quebrado. Não, o Brasil está bem, está uma maravilha. A imprensa sem vergonha, essa imprensa sem vergonha faz uma onda terrível aí. Para imprensa bom estava Lula, Dilma, gastava R$ 3 bilhões por ano para eles", disse Bolsonaro na porta do Palácio da Alvorada, mais uma vez em em declaração transmitida pela internet.
As declarações destoam de posições apresentadas publicamente pela equipe econômica, que tem batido na tecla de que a atividade econômica do país está em plena recuperação, o que trará resultados positivos para a arrecadação de impostos.
Embora Bolsonaro tenha afirmado que o Brasil quebrou, o governo adotou medidas ao longo da pandemia que ampliam gastos públicos e provocam perdas de arrecadação, inclusive para os próximos anos. As ações são voltadas especialmente a setores simpáticos ao presidente.
Ao mesmo tempo em que o governo concede benesses a áreas mais ligadas ao bolsonarismo, a crise fiscal do país vem sendo usada como argumento para barrar medidas como o auxílio emergencial e até mesmo promessas feitas pelo presidente.
Além disso, mudanças nas atuais regras de benefícios tributários poderiam mais do que compensar o reajuste da tabela do Imposto de Renda.
O ministro Paulo Guedes (Economia) calcula que seriam necessários R$ 36 bilhões para corrigir a tabela do Imposto de Renda e ainda ampliar a isenção para quem recebe até R$ 3.000 por mês (hoje, o limite é de R$ 1.903,98).
Em comparação, o país concederá em 2021 mais de oito vezes o valor citado por Guedes por meio de benefícios tributários a pessoas e empresas em programas vistos por representantes de auditores-fiscais como não justificados.