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Estrangeiros saem da Bolsa brasileira após intervenção de Bolsonaro na Petrobras

Entre os dias 1º e 18 de fevereiro, antes de Bolsonaro dar o primeiro sinal de que interferiria mudança na estatal, havia uma entrada líquida de R$ 4,6 bilhões de dinheiro estrangeiro, de acordo com dados da B3

Estrangeiros saem da Bolsa brasileira após intervenção de Bolsonaro na Petrobras
Notícias ao Minuto Brasil

05:21 - 08/03/21 por Folhapress

Economia Mercado financeiro

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A intervenção do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) na Petrobras impulsionou a saída de R$ 6,784 bilhões em investimento estrangeiro da Bolsa brasileira em fevereiro, o pior saldo mensal desde julho de 2020, sem considerar as compras de ações em ofertas iniciais (IPOs) e subsequentes de ações (follow-on).

Entre os dias 1º e 18 de fevereiro, antes de Bolsonaro dar o primeiro sinal de que interferiria mudança na estatal, havia uma entrada líquida de R$ 4,6 bilhões de dinheiro estrangeiro, de acordo com dados da B3.

No dia 22, a segunda-feira após o anúncio de troca no comando da estatal, saíram R$ 6,85 bilhões, segundo dados da B3 compilados pela XP. No dia 23, foram R$ 2,35 bilhões a menos. Nos últimos três pregões do mês, a venda de ações desacelerou e o saldo foi negativo em R$ 2,14 bilhões."

"Se tem uma coisa que gringo não aceita é problemas de governança. A temática de ESG lá fora fica cada vez mais forte", afirma Romero Oliveira, diretor de renda variável da Valor Investimentos.

ESG é a sigla para melhores práticas ambientais, sociais e de governança e é um fator que ganha cada vez mais relevância nas decisões de investidores.

A saída de recursos se estende pelos dois primeiros pregões de março, com saldo negativo de R$ 1,5 bilhão até o dia 2.

No ano, o saldo ainda está positivo em R$ 15,3 bilhões, em razão dos R$ 23,5 bilhões de entrada líquida em janeiro, mês em que o início do governo Joe Biden nos Estados Unidos deu um tom positivo aos mercados.

Um reflexo da deterioração da imagem do Brasil aos olhos do investidor estrangeiro foi a piora dos principais indicadores financeiros do país.

Desde a crítica de Bolsonaro ao atual presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, em uma live na noite do dia 18 de fevereiro, o dólar subiu 4,4% ante o real, que teve o terceiro pior desempenho dentre emergentes no período, atrás apenas da lira turca e do rand sul-africano.

Em relação às principais moedas globais, o dólar americano se valorizou apenas 1,5% no mesmo intervalo, segundo dados da Bloomberg.

O risco-país, desde então, subiu 23%, indo de 159,7 pontos para 196,5 pontos, maior nível desde novembro de 2020.

O CDS funciona como um termômetro informal da confiança dos investidores em relação às economias dos países, especialmente emergentes. Se o indicador sobe, é um sinal de que os investidores temem o futuro financeiro do país; se ele cai, o recado é o inverso.

Além da incerteza quanto à agenda liberal do governo, o mercado se preocupa com a piora da pandemia no Brasil e a volta do auxílio emergencial. Apesar do teto para a ajuda estabelecido pela PEC Emergencial, contrapartidas imediatas para o novo gasto não foram apresentadas.

Investidores temem o aumento de gastos do governo, pois ele eleva a relação dívida/PIB (Produto Interno Bruto) e deteriora a capacidade de o país honrar com seus compromissos.

A alta nos juros futuros refletem este temor. O juro para outubro de 2021 foi de 2,905% ao ano para 3,295% desde o dia 18 de fevereiro. O juro para março de 2025 foi de 6,63% ao ano a 6,95% ao ano.

Juros futuros são taxas de juros esperadas pelo mercado nos próximos meses e anos. São a principal referência para o custo de empréstimos que são liberados atualmente, mas cuja quitação ocorrerá no futuro.

Além da intervenção na Petrobras, há um outro fator que impulsiona a saída de recursos do Brasil: a alta nos juros dos títulos do Tesouro americano (Treasuries), o que impulsiona um fluxo de investimentos para os Estados Unidos em detrimento de países emergentes.

COMO LEVAR DINHEIRO PARA O EXTERIORMOEDAS ESTRANGEIRAS

Uma das formas mais simples de fugir do risco Brasil é por meio do investimento, no Brasil, em moedas estrangeiras fortes, como o dólar, euro, libra esterlina e o franco suíço, que tendem a se valorizar ante o real em momentos de crise.

Para isso, especialistas recomendam a compra de fundos cambiais ou de contratos derivativos, como o contrato futuro de dólar.

AÇÕES ESTRANGEIRAS

Outro método para acessar os mercados internacionais é via BDR (recibo depositário de ações, na sigla em inglês) e ETF (fundo de índice). Ambos são negociados em reais na Bolsa de Valores brasileira da mesma forma que ações.

O BDR permite que o brasileiro invista em ações de empresas listadas fora da Bolsa brasileira por meio de um recibo. Além da variação do papel, ele reflete a flutuação diária no câmbio.
Já o ETF dá a possibilidade de investir indiretamente em um índice acionário estrangeiro, como o americano S&P 500. Há ETFs no Brasil que replicam o mercado de ações de outras regiões também, como China e Europa.

Fundos de investimento que investem em ativos internacionais são outra opção para acessar ativos de outros países.

CORRETORAS NO EXTERIOR

O brasileiro também pode abrir uma conta em uma corretora no exterior pela internet e acessar mais produtos financeiros em outros países, como as Treasuries.

São exigidos praticamente os mesmos documentos necessários para abrir uma conta em corretora brasileira: passaporte ou documento de identidade e comprovante de residência. Algumas instituições pedem cópia do Imposto de Renda.

Com a conta aberta, é preciso enviar os recursos para fora do país com incidência do IOF (imposto sobre operações financeiras).

Os valores investidos devem ser informados ao Banco Central, de acordo com o calendário de declarações de capitais no exterior. As aplicações também devem ser reportadas à Receita Federal na declaração do Imposto de Renda, e, quando há ganho, os valores são tributados aqui no Brasil.

Cada corretora tem um custo por transação e também pode haver custo para manutenção da conta.

CONTA BANCÁRIA NO EXTERIOR

Desde os atentados do 11 de Setembro, aumentaram as restrições e a requisição de documentos para a abertura de contas de estrangeiros no exterior como forma de conter o financiamento do terrorismo e a lavagem de dinheiro.

Segundo especialistas, para abrir uma conta em bancos tradicionais dos EUA, como Goldman Sachs e Bank Of America, é preciso que algum conhecido faça a ponte com o gerente.

Em bancos digitais e fintechs, o processo é menos burocrático, mas, mesmo com a abertura pela internet disponível, pode ser necessário comparecer a uma sede física para dar continuidade ao processo.

Uma alternativa mais simples é abrir a conta no exterior por um braço de um banco brasileiro nesse país.

OFFSHORE

Para o público de alta renda, a criação de uma offshore pode ser uma alternativa na redução de custos.

Segundo especialistas, com uma quantia no exterior acima de US$ 300 mil (R$ 1,7 milhão) já é vantajoso abrir uma offshore.

Uma offshore é uma empresa aberta no exterior. A preferência, geralmente, é por países com menos tributações, como Panamá, Bahamas e Ilhas Cayman.

Para abrir a empresa, é preciso procurar um escritório de advocacia ou empresas especializadas nesse serviço.

Abrir uma offshore não é ilegal, desde que feito de acordo com as leis do Brasil e do país em que a empresa está sediada.

Também é preciso prestar contas à Receita Federal e pagar os impostos devidos.

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