Explicações sobre Orçamento não foram boas o bastante e geraram risco fiscal, diz Campos Neto
O titular do BC afirmou, em evento virtual do banco Itaú nesta terça-feira (6), que a falta de clareza sobre os gastos do governo com a pandemia de Covid-19 gerou ruídos e elevou o risco fiscal
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Economia ROBERTO-CAMPOS NETO
(FOLHAPRESS) - O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, criticou o impasse em torno do Orçamento de 2021, que foi aprovado pelo Congresso, mas ainda aguarda sanção do presidente Jair Bolsonaro (sem partido).
O titular do BC afirmou, em evento virtual do banco Itaú nesta terça-feira (6), que a falta de clareza sobre os gastos do governo com a pandemia de Covid-19 gerou ruídos e elevou o risco fiscal.
"Provavelmente a explicação sobre o Orçamento não foi boa o bastante e criou muita incerteza em algo que as pessoas esperavam ver em um formato mais simples e claro. Acho que o ministro Paulo Guedes [Economia] explicou [depois]. A circunstância em torno disso gerou algum prêmio de risco [fiscal]", disse.
"Temos que explicar às pessoas o que está sendo feito porque precisamos remover isso [o risco fiscal], o que é relativamente fácil de ser feito", continuou.
O presidente da autarquia reafirmou que o benefício de aumentar gastos emergenciais após o recrudescimento da pandemia é limitado. "Os efeitos econômicos vindos de disfunções no mercado, em variáveis macroeconômicas, é são bem maiores que os efeitos [positivos] de se gastar R$ 25 bilhões a mais", disse.
"Temos que ser cuidadosos com a narrativa que será usada, se seguirmos por esse caminho. Se não houver a narrativa certa, eu vejo claramente um efeito negativo de algo que esperamos que tenha um efeito positivo", completou.
Mais cedo, em um evento do FMI (Fundo Monetário Nacional), Campos Neto reiterou que o maior desafio atualmente é o cenário fiscal e que a inflação, embora seja temporária em sua avaliação, está contaminando as projeções para 2022.
Ele justificou que quando a autoridade monetária levou a taxa básica de juros (Selic) ao menor patamar da história, a 2% ao ano, as expectativas eram de queda de quase 10% no PIB (Produto Interno Bruto) e de inflação abaixo de 2%.
"A taxa de juros a 2% ao ano foi desenhada para um cenário que não se concretizou [de retração maior na economia e inflação baixa]. Fazer [a elevação] mais rápida agora [com alta de 0,75 ponto percentual e sinalização de nova elevação em maio] significa ter que aumentar menos no final", afirmou.
O pacote de estímulos, com auxílio emergencial e linhas de crédito subsidiadas pelo governo, fizeram com que o tombo na economia fosse menor ao final de 2020, de 4,1%. A inflação, por outro lado, foi a 4,52%, pressionada por alimentos e combustíveis.
Para tentar conter a escalada de preços, o Copom (Comitê de Política Monetária) elevou a Selic em 0,75 ponto percentual, a 2,75% ao ano, em 17 de março. A alta veio acima das expectativas do mercado.