Guedes aposta que Covid perderá força, mas equipe vê incertezas
Guedes aposta que Covid perderá força, mas equipe vê incertezas
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Economia Ministro da Economia
O ministro Paulo Guedes (Economia) tem afirmado a interlocutores que a intensidade da pandemia de Covid-19 deve diminuir em um horizonte de três meses no Brasil.
Para o ministro, a vacinação concentrada nos grupos mais vulneráveis à doença vai ser responsável por fazer decrescer o número de mortes e, em consequência, a força da crise sanitária nos próximos meses.
O tempo estimado para a perda de força da pandemia fica dentro da duração dos programas anticrise relançados neste mês.
Tanto o auxílio emergencial quanto o programa de manutenção de empregos preveem quatro meses de duração.
Caso a estimativa se confirme, a necessidade vista pelo governo de lançar novos estímulos fiscais ao longo do segundo semestre pode diminuir, assim como as chances do acionamento do estado de calamidade pública –algo que Guedes procura evitar por considerar a medida um cheque em branco.
O ministro vê sinais de resiliência da atividade doméstica atualmente, com crescimento de empregos formais mesmo em meio ao que considera ser o auge da crise sanitária no país.
Não é a primeira vez que o titular da Economia faz prognósticos positivos em relação à pandemia –e nas vezes anteriores suas projeções acabaram frustradas. Guedes calculou em R$ 5 bilhões o gasto para exterminar o vírus, por exemplo. Mas só em 2020 foram usados R$ 524 bilhões em medidas contra a Covid.
Além disso, especialistas alertam para os riscos de continuidade da pandemia, inclusive no próximo ano. "Não há dúvida de que a epidemia não terá se extinguido em 2022", disse Margareth Dalcolmo, pneumologista e pesquisadora da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), em entrevista à Folha na semana passada.
"A se manter esse ritmo de vacinação tão lento e um pata- mar de transmissão ainda mui- to alto, sobretudo contaminando camadas da população mais jovem, e falta de medidas restritivas, não tenho ilusão de que teremos a epidemia controlada em 2022", disse.
O alerta é feito também pela OMS (Organização Mundial da Saúde). Michael Ryan, diretor-executivo da entidade, afirmou em março que é "prematuro e irrealista" falar em fim da pandemia em 2021.
A própria equipe econômica tem admitido em análises formais que a continuidade da pandemia em 2021 gerou incertezas sobre qual será a duração da crise sanitária e de suas consequências, inclusive para os próximos anos.
Tal incerteza foi mencionada pelo governo no projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias para 2022. Enviado há cerca de 15 dias ao Congresso, o texto não apresentou cálculos de impacto da Covid nas contas e mencionou dificuldades para traçar o cenário.
"Em 2021, a continuidade dos impactos advindos da pandemia da Covid-19 torna o cenário ainda bastante desafiador para a realização de projeções que envolvem a perspectiva econômica para o triênio de 2022 a 2024", afirmou o governo no texto.
"Permanece elevado o nível de incerteza para prever a intensidade, a extensão e a duração da pandemia e, consequentemente, a magnitude de seus reflexos sobre o nível de atividade econômica global e doméstica."
Por enquanto, a duração estimada para o programa de emprego é considerada adequada pelos segmentos mais afetados pela crise.
Paulo Solmucci, presidente-executivo da Abrasel (Associação Brasileira de Bares e Restaurantes), afirmou que o período de quatro meses de duração da medida deve dar conta para enfrentar a crise.
"Os 120 dias serão provavelmente suficientes", disse ele –que critica, por outro lado, o atraso no programa.
"Se tivesse vindo dentro do prazo de 15 dias prometido, teria sido bem mais útil e salvo muitas empresas e empregos, porque teria coberto o período de portas completamente fechadas", disse.
Apesar de o discurso pregar rápida recuperação, Guedes e equipe criaram dispositivos para renovar as medidas anticrise de forma facilitada neste ano, caso seja necessário.
O programa de emprego e o auxílio emergencial preveem em suas regras a possibilidade de prorrogação por decreto do Executivo.
Bruno Dalcolmo, secretário de Trabalho, já afirmou que pode haver prorrogação do programa de emprego. Ele lembrou que, para isso, a MP (medida provisória) do programa de emprego precisa ser aprovada pelo Congresso. O texto traz a possibilidade de renovação via decreto do Executivo.
"A expectativa é que o programa seja aprovado e que tenhamos autorização para a prorrogação do programa. Agora, isso só pode acontecer havendo disponibilidade orçamentária", disse.