Entenda como ganhar com a alta do dólar em um cenário com mais riscos
No Brasil, a recuperação do crescimento no pós-pandemia tem sido revisada para baixo e o clima de disputada eleitoral antecipada turva o cenário, afetando esses dois indicadores
© Dólar cai para R$ 5,29; Bolsas americanas derretem
Economia Investimento
CLAYTON CASTELANI
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Dólar e Bolsa costumam ser bons termômetros para medir o risco de um país. O primeiro sobe e o segundo cai quando investidores visualizam problemas no cenário econômico ou político. No Brasil, a recuperação do crescimento no pós-pandemia tem sido revisada para baixo e o clima de disputada eleitoral antecipada turva o cenário, afetando esses dois indicadores.
O dólar comercial subiu 5% entre janeiro e setembro deste ano, enquanto o Ibovespa, índice de referência da Bolsa de Valores brasileira, caiu 6,75% no mesmo período.
Segundo analistas, oscilando perto da casa dos R$ 5,40 há duas semanas, a moeda americana tende a continuar em alta nos próximos meses diante da permanência dos principais fatores que levam investidores a buscar segurança na divisa, como a crise política interna e o avanço da inflação nas principais economias do mundo.
Nesse contexto, o investidor que que se sente confortável em em lidar com mercados de risco poderá tirar proveito -ou conseguir alguma proteção- durante essa turbulência se dedicar mais atenção ao dólar.
Além da compra da moeda em si, existem ao menos quatro modalidades para atender a essa finalidade e que são facilmente contratadas por meio de corretoras de valores ou instituições financeiras, segundo Zeller Bernardino, especialista em câmbio da Valor Investimentos.
Entre as opções mais populares vinculadas ao dólar no momento estão as BDRs, sigla para Brazilian Depositary Receipts, recibos emitidos por instituições financeiras brasileiras com rendimento vinculado ao de ações de empresas estrangeiras. Com as BDRs, o investidor brasileiro pode, por assim dizer, dolarizar as suas operações, obtendo participação em empresas como Apple e Disney, por exemplo.
Outra possibilidade para ter acesso ao rendimento de ativos em dólar são os ETFs, sigla para Exchange Traded Funds, que é basicamente um fundo de investimento que acompanha índices acionários no exterior.
O IVVB11, por exemplo, replica a rentabilidade do S&P 500, que é o índice de referência do mercado acionário americano por reunir as principais empresas do país, como Google, Facebook e Microsoft.
Por ser uma modalidade de fácil acompanhamento, as ETFs costumam ser recomendadas a investidores que estão iniciando a exploração do mercado no exterior.
Ganhos com a alta da divisa americana também podem ser obtidos por meio de fundos que aplicam em ativos em dólar, os chamados fundos dolarizados.
Na cesta de investimentos desses fundos pode haver cotas de outros fundos no exterior, ações de companhias estrangeiras, ETFs e BDRs, por exemplo. A escolha varia conforme os objetivos perseguidos pelos gestores.
Para uma aposta diretamente ligada ao câmbio, sem utilizar as aplicações em Bolsa de Valores como veículo, o investidor conta com os fundos cambiais.
Nesse caso, o fundo operado por uma instituição financeira aplica em derivativos de títulos de moeda estrangeira, e não diretamente no dólar ou qualquer outra moeda específica.
Para investidores com apetite para o risco, a recomendação neste momento é a alocação de 15% a 20% da carteira em ativos internacionais.
A opção por ativos vinculados ao dólar, porém, expõe o investidor a um risco duplo: além da oscilação do câmbio, há também a exposição ao ativo incluído na carteira, como a ação de uma empresa ou índice.
"Não são aplicações para pessoas de perfil conservador, que ficam desconfortáveis quando observam a carteira balançando com o mercado", diz Bernardino.
"O dólar oscila muito e, para quem é conservador, há opções na renda fixa, que também podem oferecer ganhos no atual contexto de elevação de juros", afirma.
Cabe destacar que opções vinculadas a índices ou empresas americanas, independentemente do câmbio, se mostraram vantajosas em relação à Bolsa brasileira ao longo deste ano.
De janeiro a setembro, enquanto o Ibovespa caiu quase 7%, os índices Dow Jones, S&P 500 e Nasdaq avançaram 10,58%, 14,58% e 12,11%, de acordo com dados da Bloomberg.
Esses mesmos índices, porém, operam em viés de baixa neste momento devido à expectativa de redução da compra de ativos e elevação dos juros básicos pelo governo americano, medidas que devem ser adotadas para desacelerar a inflação.
Setembro foi mês de pressão cambial Apesar da baixa de 1,48% nesta sexta-feira (1º), o dólar apenas devolve parcialmente os ganhos recentes, evidenciando o prêmio de risco maior cobrado pelo investidor diante dos problemas do país.
A divisa acumulou alta de 3,11% nas últimas sete sessões de setembro, a mais longa série de ganhos desde os oito pregões de aumento entre o fim de junho e início de julho. O preço do ativo repercutiu a combinação de riscos globais e domésticos.
No mundo, as principais economias enfrentam o avanço da inflação devido à quebra das cadeias de abastecimento durante a pandemia e, pelo mesmo motivo, derrapam ao tentar retomar o crescimento.
No Brasil, além dos fatores externos, há o risco de um apagão de energia e o receio quanto a eventuais medidas populistas do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) em busca da reeleição, para citar apenas alguns dos problemas.
Sobre a turbulência gerada por fatores domésticos, há consenso entre analistas de que ela persistirá até as eleições presidenciais em outubro de 2022. E as questões internas tendem a ter maior peso na desvalorização do real frente ao dólar, segundo Fernanda Consorte, economista-chefe do Banco Ourinvest.
"O câmbio é uma medida de risco do país, por isso as questões políticas internas acabam pesando mais", diz Consorte. "Se o retrato do país não é bom, não dá para ter uma taxa de câmbio baixa", afirma.