Meteorologia

  • 07 NOVEMBRO 2024
Tempo
--º
MIN --º MÁX --º

Edição

Mercado espera pressão sobre combustíveis, mas Petrobras diz que não reajusta agora

A cotação internacional do petróleo Brent bateu na cada dos US$ 105 por barril pela primeira vez desde 2014, jogando pressão pela estatal, que já vinha praticando preços abaixo do mercado

Mercado espera pressão sobre combustíveis, mas Petrobras diz que não reajusta agora
Notícias ao Minuto Brasil

05:19 - 25/02/22 por Folhapress

Economia PETROBRAS-NEGÓCIOS

RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) - O diretor de Comercialização e Logística da Petrobras, Cláudio Mastella, disse nesta quinta-feira (24) que a empresa vai aguardar a evolução do cenário internacional antes de decidir por repasses da disparada da cotação do petróleo após o início dos ataques russos à Ucrânia.

Especialistas, no entanto, acreditam que o conflito na Ucrânia manterão as cotações pressionadas, com impactos sobre a inflação brasileira, que já sofre com a escalada recente dos preços dos combustíveis e da energia.

A cotação internacional do petróleo Brent bateu na cada dos US$ 105 por barril pela primeira vez desde 2014, jogando pressão pela estatal, que já vinha praticando preços abaixo do mercado. O preço do gás natural também subiu e deve impactar a conta de luz.

"A gente precisa continuar observando um bocadinho, não temos resposta fácil nem simples", afirmou Mastella, em conferência virtual com analistas para detalhar o lucro recorde de R$ 106,6 bilhões registrado pela empresa em 2021.

A Petrobras já vem sendo questionada pelo longo tempo sem reajustes em um cenário de alta nas cotações internacionais. Os últimos aumentos nos preços da gasolina e do diesel vendidos pela empresa foram feitos em 12 de janeiro.

Na quarta (23), mesmo com a valorização do real, a defasagem entre os preços interno e internacional preço do diesel era de 5%, segundo a Abicom (Associação Brasileira de Importadores de Combustíveis). No caso da gasolina, chegava a 9%.

Na conferência com a diretoria da Petrobras nesta quinta, analistas perguntaram qual o limite para segurar repasses.

"Em função de diversas tensões geopolíticas, a gente tem observado elevação dos preços. Em paralelo, o dólar está se desvalorizando", destacou Mastella. "Com esses dois movimentos em contraposição, a gente conseguiu manter nossos preços."

Sobre os impactos da situação na Ucrânia, ele disse que o mercado vive hoje um "pico de volatilidade" e que o momento ainda é de "extrema incerteza". Por isso, a empresa seguirá observando o mercado antes de tomar decisões.

"Nesse cenário, vamos continuar observando [a evolução das cotações] minuto a minuto", resumiu o presidente da Petrobras, Joaquim Silva e Luna, em conferência virtual com analistas estrangeiros.

Para especialistas, o conflito deve pressionar as cotações.

"Os preços do petróleo e do gás estão subindo e os esforços para explorar reservas estratégicas ou chegar a um acordo nuclear com o Irã pouco farão para interromper o impulso de alta", diz Edward Moya, analista de mercado financeiro da Oanda em Nova York.

"Mesmo que um acordo nuclear com o Irã seja revivido, a perspectiva de curto prazo ainda tem um enorme déficit de petróleo e não importa se você trocar as sanções do Irã pelas russas", conclui.

O mercado espera forte pressão sobre o preço do gás natural, já que a Europa tem grande dependência da Rússia no abastecimento deste combustível. Em 2021, cerca de 30% dos 84 milhões de metros cúbicos por dia consumidos, em média, no Brasil foram importados em navios, sob a forma liquefeita.

Com a recuperação dos reservatórios e o consequente desligamento de térmicas, essas importações caíram para cerca de 14 milhões de metros cúbicos por dia. Mas a busca europeia por alternativas à Rússia amplia a competição pelos contratos de suprimento.

"As instalações de exportação de GNL [gás natural liquefeito] dos Estados Unidos já estão operando perto da capacidade total e estiveram durante grande parte do ano passado", diz Ross Wyeno, analista líder para o mercado de GNL das Américas da S&P Global Platts Analytics.

Segundo ele, a demanda europeia pode justificar ampliação dessas instalações, mas os resultados só começariam a ser percebidos em 2024.

"A gente não vê risco na questão de movimentação de carga para atender nossos compromissos contratuais. O que a gente vê é um impacto bastante significativo em termos de custo", disse nesta quinta o diretor de Refino e Gás Natural da Petrobras, Rodrigo Costa.

"A gente já vê o GNL voltando a US$ 30 [R$ 153] por milhão BTU [unidade de poder calorífico], o que seria equivalente a US$ 300 [R$ 1.530] por barril", completou.

No fim de 2021, a disparada do preço do gás aumentou o rombo na conta destinada ao pagamento das usinas térmicas que foram ligadas para poupar água nos reservatórios, o que levou o governo a negociar novo empréstimo ao setor elétrico, estimado em até R$ 10,8 bilhões.

Em 2021, acompanhando a escalada do preço do petróleo e a desvalorização cambial, a Petrobras vendeu seus combustíveis por um valor médio de R$ 416,4 por barril, o maior já registrado pela empresa. Os repasses levaram os preços de bomba no país também a recordes históricos.

A elevação das cotações internacionais e o repasse para o preço dos derivados foi o principal motor do lucro recorde registrado pela empresa no ano. Pelo desempenho, a companhia distribuirá um total de R$ 101,4 bilhões em dividendos.

Na conferência com analistas nesta quinta, Silva e Luna, comemorou "excelentes resultados operacionais e financeiros" e reforçou a defesa de que uma Petrobras lucrativa garante maior retorno para toda a sociedade.

A empresa alega, por exemplo, que retornou a acionistas e governos 57% de toda a sua geração de caixa operacional, tanto em pagamento de impostos quanto em distribuição de dividendos, um total de R$ 230 bilhões.

Para Silva e Luna, "isso só é possível porque imprimimos racionalidade tanto no nosso plano estratégico quanto na nossa gestão financeira e operacional".

A alta nos preços dos combustíveis se tornou uma dor de cabeça para o presidente Jair Bolsonaro (PL), diante dos possíveis efeitos da escalada inflacionária sobre a campanha por sua reeleição.

O governo já tentou dividir a responsabilidade com governadores, depois passou a criticar a própria estatal e, por fim, tenta aprovar no Congresso a redução dos impostos sobre os produtos.

A política de preços dos combustíveis também é alvo também de pré-candidatos à Presidência da República, como o líder das pesquisas, Luiz Inácio Lula da Silva, que fala em rever o modelo atual.

Campo obrigatório