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Lan houses vão além dos games para sobreviver em SP

Algumas lan houses também estão prestando assistência para celulares

Lan houses vão além dos games para sobreviver em SP
Notícias ao Minuto Brasil

10:45 - 16/05/22 por Folhapress

Tech LAN-HOUSE

POÁ, SP (FOLHAPRESS) - Enquanto Reinaldo Soares, 64, conversava com a reportagem da Agência Mural, um cliente esperava de pé para ser atendido, com o celular na mão. O morador foi à RPJ Tecnologia Lan House, localizada no bairro de Nova Poá, em Poá, na Grande São Paulo, porque tinha dúvidas sobre o uso do aparelho.

Esse tipo de atendimento agora é rotineiro na lan house -espaço que antes servia para acessar computadores com internet. Roxo, como chamam Reinaldo no bairro, cobra um valor simbólico de R$ 2 a R$ 3 para repassar seus conhecimentos sobre como usar as funções do celular.

A mudança do modo de conectividade do brasileiro impulsionou novos serviços nesses ambientes. Para que pudessem sobreviver, sobretudo nas periferias, as lan houses se transformaram também em papelarias, aumentaram as vendas de produtos eletrônicos e viraram até uma espécie de correio local, recebendo as entregas do bairro.

"São serviços para a gente estar agregando, né? Porque a própria lan house de hoje não tem um feedback lucrativo, apesar de as crianças estarem com necessidade de fazer trabalhos escolares", destaca Roxo, que possui bacharelado em administração, com pós-graduação em engenharia econômica.

Esse agregado serve para driblar as mudanças no comportamento dos usuários.

Em 2008, o Comitê Gestor de Internet colocava mais da metade dos brasileiros (52%) como usuários frequentes das lan houses. Em 2014 apontava para apenas 22%.

Desde então, o acesso via celular foi apagando as lans dos levantamentos. A casa, o trabalho ou o celular em deslocamento são agora os principais pontos de acesso, segundo a Tic Domicílios (Pesquisa Sobre o Uso das Tecnologias de Informação e Comunicação nos Domicílios Brasileiros).

Por causa da falta de movimento em Itaquera, Roxo se mudou e abriu um novo espaço em Nova Poá, onde possui família. Entre seus objetivos estava inserir os filhos, Jaiane, 35, Mayko, 46, e Reinaldo Júnior, 40, no mercado de trabalho.

Mas não foi possível manter todos. "A receita é muito baixa, não dá para gerar sustentabilidade para todo mundo".

Hoje os filhos atuam com administração e marketing. Apenas Roxo e a esposa, Regina de Jesus Dutra, 59, seguiram no ramo. Ela confecciona peças de artesanato à venda na loja.

Pandemia elevou procura por ajuda digital e local de trabalho remoto A lan house seguiu aberta por mais dez anos até a pandemia de covid, mas a empresa manteve o atendimento de outros serviços digitais. Ajudou moradores até a solicitar e receber o auxílio emergencial.

A reabertura foi em fevereiro de 2022, já com serviços online criados e ampliados, com foco em impressões, venda de produtos e manutenção de eletrônicos. Ainda existe a área de computadores, mas num local separado.

Pensando nesses casos, o casal busca ampliar o comércio colocando pequenos escritórios de trabalho, tendo em vista a crescente demanda de trabalho remoto após o isolamento social causado pela pandemia.

Ao lado dos novos serviços resistem os jogos virtuais. Os clássicos como GTA e Counter Strike permanecem nas máquinas, mas a molecada de 12 anos, que é clientela frequente, já começa a se interessar por novos jogos, entre eles Minecraft e o Lego Star Wars: The Skywalker Saga.

"E isso é gostoso de ver, eles interagindo. Aí um põe um jogo aqui, outro ali, acaba tendo um desafio entre eles, nesses jogos. Isso continua existindo na lan house, o que 'não dá para fazer' via celular", comenta Roxo.

A quatro quilômetros dali, no centro de Suzano, entre lotérica, lanchonetes e mercados, uma fileira de jovens garotos se instala em frente aos computadores de uma garagem na Eletro House.

Por lá, eles conversam, gritam, interagem entre si ou com alguém do outro lado da tela. Mas o cenário dos jogos é outro.

"Hoje o pessoal gosta de jogo de mundo aberto, tem o CS, tem aquele de celular, o Free Fire, tem o Fortnite, saiu também aquele jogo Valorant", diz Cláudio Ferrari, 38, dono da lan house que está em atividade há 13 anos no mesmo endereço.

Os jogos de mundo aberto são aqueles em que o usuário tem liberdade para explorar e realizar as atividades do cenário desenvolvido pelo game.

Formado em tecnologia da informação, Ferrari criou a lan house com o intuito de continuar uma tradição da família voltada para o comércio e unir com uma paixão: os jogos.

Se os meninos ainda continuam jogando, a interatividade mudou. "Ouço as conversas deles: 'Ah, eu estou jogando com uma pessoa lá de Minas Gerais, uma dos Estados Unidos'." Uma conectividade impossível de imaginar no boom das lan houses na primeira metade dos anos 2000.

Outro fator nostálgico do auge das lan houses eram os famosos "corujões". Uma atividade em que o público virava a noite jogando dentro do lugar.

"Não dá nem para contar quantos corujões a gente fez, o pessoal que ia jogar e ficava horas e horas jogando", relembra Ferrari.

Mesmo com o público jovem, de 15 a 32 anos, frequentando o local, restrições de funcionamento acabar com os corujões.

Hoje, enquanto os jovens permanecem nos games, boa parte do público vem para impressões e cópias relacionadas a documentos e realização de currículos. "Eu venho aqui ultimamente para fazer impressões. Eu não tenho impressora em casa, sempre foi útil pra mim", diz o cliente Almério de Cássio Rodrigues, professor de geografia do município, enquanto esperava pela entrega de um documento impresso das mãos de Ferrari.

Ferrari diz que frequentemente está mudando, testando novas opções, desde doces até geladeira com refrigerante, uma ideia que teve que ser descartada por causa do alto consumo de energia. Um fliperama ainda resiste na entrada da lan house. No começo havia até três máquinas instaladas.

Idosos procuram pelo aparelho e se reúnem depois do trabalho para jogar e matar a saudade dos velhos tempos, assim como os jovens que descobrem uma nova atividade que não conheciam.
"Muita gente não pode ter um computador em casa, ainda mais um computador gamer que hoje ainda está bem caro", diz Ferrari.

Fazendo uma busca pelo site Therabyte, especialista na venda de PC Gamer, uma máquina desse tipo, desenvolvida para aguentar os gráficos e vídeos de jogos sem travar e com bom rendimento, vai de R$ 3.500 a R$ 15.691.

Na lan house em Suzano a hora para jogar games custa R$ 3, em computadores com alta capacidade para jogos virtuais. Mas Ferrari ressalta: "Não chega nem aos pés do que era em 2009, porque não era só jogo. O pessoal procurava muito para usar redes sociais".

PANDEMIA ELEVOU PROCURA POR AJUDA DIGITAL E LOCAL DE TRABALHO REMOTO

Um outro mercado que também entrou no foco desses negócios foi o de entregas. Durante a pandemia, Roxo foi procurado pelo Mercado Livre e pela Shopee para oferecer uma parceria para realizar a entrega e recebimentos de mercadoria pelo bairro.

Em Mogi das Cruzes, a calçada da Área X Lan House e Papelaria viveu algo parecido. Na frente um banner com diversos símbolos de serviços de entrega como Mercado Livre, Shopee, Magalu, Amazon aparecem sob um fundo amarelo.

Para Tomás Machado dos Santos, 36, dono do estabelecimento, a parceria foi uma salvação, juntamente da ampliação do comércio para papelaria, em julho de 2021.

"No começo eu pensei que não ia dar muito certo, porque era muito pouco, poucas caixas [de mercadorias]. Hoje está indo super bem. São em média, 300 caixas, todos os dias."

Além da questão da pandemia, Tom, como prefere ser chamado, comenta que a instalação de prédios residenciais no bairro fez diminuir o uso dos computadores. Antes da pandemia, eram 15 máquinas, hoje são apenas 6.

O lugar também abre espaço para mochilas e brinquedos, que dividem espaço com embalagens de presente, itens escolares, fones de ouvido, pen drive, teclado, mouse e alguns salgadinhos e doces -os primeiros itens a aparecer no catálogo além das máquinas.

Quando Tom começou, em 2006, "tinha público que fazia fila"; a queda de movimento começou a ser mais sentida em 2018.

"Hoje o pessoal já procura muito para fazer documentação, uma segunda via de conta, alguma coisa do INSS. Com a pandemia tinha muita coisa que tinha que ser feita pela digital, tem gente que vem aqui procurando por isso. A gente sempre vai precisar de um local próximo do bairro para imprimir um documento."

Entre outros serviços rápidos realizados por Tom, ele menciona o download de músicas para CD e a transferência de dados para pen drive ou celular.
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