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Controle do orçamento dita andamento de reformas no Congresso

A avaliação de deputados é de que, se reeleito, o presidente Jair Bolsonaro (PL) teria uma base já formada na Casa para tentar deslanchar sua pauta econômica de imediato.

Controle do orçamento dita andamento de reformas no Congresso
Notícias ao Minuto Brasil

11:10 - 17/10/22 por Estadao Conteudo

Economia Congresso

O controle do Orçamento pelo Congresso representa uma encruzilhada para o avanço das reformas a partir de 2023. Nos bastidores, a agenda econômica passou a estar condicionada à manutenção do orçamento secreto, esquema negociado com o atual governo e revelado pelo Estadão que consiste na transferência de verba a parlamentares sem critérios de transparência em troca de apoio político.

A avaliação de deputados é de que, se reeleito, o presidente Jair Bolsonaro (PL) teria uma base já formada na Casa para tentar deslanchar sua pauta econômica de imediato. Pelo menos 70% dos deputados e senadores foram contemplados em 2022, ano de eleições, com emendas do esquema, de um total de R$ 16,5 bilhões reservados para o período. Em contrapartida, o petista Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ainda teria de fazer essa costura política prévia. O ex-presidente já afirmou que, se vencer a eleição, vai querer negociar o fim do orçamento secreto.

Parlamenares dizem ainda que pautas consideradas prioritárias pelo mercado, como a reforma administrativa e tributária, teriam de ser votadas logo no início do ano, mas avaliam que a reforma administrativa poderia encontrar resistência por parte da bancada petista. "Se o Lula ganhar, é uma realidade; e se o Bolsonaro ganhar, é outra. Mas os dois vão compreender que terão de negociar bastante. O que muda é a força dos partidos", avalia o analista político João Hummel, diretor executivo da Action Relações Governamentais.

Segundo ele, o aumento de poder do Congresso tem sido percebido pelo controle da pauta de votações e a influência na construção de políticas públicas. Levantamento da Action mostra que, em 2012, de 76 novos marcos legais aproximadamente 57% foram de autoria do Executivo. Já em 2021, os parlamentares foram responsáveis por 64% das proposições aprovadas pelo Congresso, enquanto um terço partiu do Executivo.

O núcleo do Centrão, formado por PL, PP (partido do presidente da Câmara, Arthur Lira), União e Republicanos, elegeu nestas eleições 246 deputados federais, quase metade da Casa. A coligação de Lula, por sua vez, emplacou 122 eleitos. No Senado, o PL se tornará o maior partido em 2023, com 14 senadores, enquanto o PT terá nove integrantes. Como comparação, a aprovação de uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) depende do voto favorável de no mínimo 308 deputados e 49 senadores em dois turnos.

Presidente do Republicanos, o deputado Marcos Pereira (SP) diz que as reformas tributária e administrativa terão prioridade. Ele não vê a possibilidade de mudanças no orçamento secreto: "Com a formação do novo Congresso, acho que não". Também sobre o orçamento secreto, o senador Carlos Portinho (PL-RJ), líder do governo na Casa, diz que "a disposição do Congresso para discutir antecede o segundo turno".

Desindexação de gastos

Líder do governo na Câmara, o deputado Ricardo Barros (PP-PR) disse que o teto de gastos não será mais necessário se o Congresso aprovar a desindexação e desvinculação do Orçamento de 2023. Barros avalia que essas mudanças poderão ser aprovadas ainda neste ano, durante o período de transição política. Para o alto comando do Legislativo, porém, dificilmente qualquer proposta será aprovada ainda em 2022, porque os parlamentares que não foram reeleitos estariam desmotivados e os que conseguiram manter suas cadeiras, cansados da campanha.

A vinculação de receitas e os gastos mínimos obrigatórios são mecanismos que garantem, previamente, recursos para determinadas áreas. Já a indexação acontece, por exemplo, quando a correção das despesas, como benefícios previdenciários e o salário mínimo, está vinculada à inflação.

"Tendo Orçamento livre, não teremos crescimento automático da despesa. Aí, a necessidade do teto de gastos fica eliminada, porque a despesa só cresce à medida que for autorizada pelo Congresso, e nas áreas que forem prioridade naquele ano", defende Barros.

A proposta tem apoio do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), que busca a reeleição para a presidência da Casa em 2023. Ele diz que a mudança garantiria uma maior mobilidade na aplicação de recursos em áreas consideradas essenciais.

Essa é uma agenda que vai na direção contrária das diretrizes de política econômica do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do PT, que sempre defenderam a indexação de benefícios e a vinculação de receitas com a justificativa de proteger direitos de trabalhadores e dos mais pobres e blindar os recursos para áreas como Educação e Saúde.

Já se o presidente Jair Bolsonaro vencer, essa agenda é cara para o ministro da Economia, Paulo Guedes, que deseja continuar no cargo.

Medidas para desvincular e desindexar o Orçamento vêm sendo tentadas desde o governo Temer, e fizeram parte da agenda de Guedes no início do governo, mas não avançaram no Congresso. Quando a discussão estava mais forte, em 2020, durante a pandemia, Bolsonaro cancelou o debate na área econômica dizendo que não iria "tirar dos pobres para dar aos paupérrimos".

Pressão

Outras lideranças do Congresso afirmaram que os parlamentares não vão aceitar revogar o teto de gastos sem colocar uma âncora forte de controle de despesas no lugar. Impor um limite é visto por esse grupo como essencial para manter o orçamento secreto e o domínio do Legislativo sobre os recursos da União.

A lógica de ter uma trava para as despesas é não deixar o Executivo livre para gastar e abocanhar a parte que sobra. As flexibilizações na âncora fiscal, que aumentaram no governo Bolsonaro, foram usadas para turbinar emendas. O volume de recursos nas mãos dos parlamentares foi de R$ 9 bilhões no ano de criação do teto (2016), e chegará agora a R$ 39 bilhões, valor reservado no projeto de Orçamento de 2023.

Lira e o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), sustentam a interlocutores a defesa de um marco fiscal forte para sinalizar responsabilidade fiscal e, ao mesmo tempo, manter o Orçamento nas mãos dos parlamentares.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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