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Redução do bilhete aéreo envolve revisão da política de preço da Petrobras, diz presidente da Azul

Redução do bilhete aéreo envolve revisão da política de preço da Petrobras, diz presidente da Azul

Redução do bilhete aéreo envolve revisão da política de preço da Petrobras, diz presidente da Azul
Notícias ao Minuto Brasil

11:30 - 18/12/22 por Folhapress

Economia JOHN-RODGERSON

JULIO WIZIACK
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - Braço direito do fundador da Azul, David Neeleman, há mais de duas décadas, John Rodgerson é um gringo -expressão que gosta de usar para definir os estrangeiros- muito brasileiro. Ele está no país há quase 15 anos, fala um português cheio de gírias, é brincalhão, e aprendeu, como ninguém, o que é dar um jeitinho.


Amigos afirmam que sua vida se mistura com a da companhia. Em entrevista, quase só usou verbos na primeira pessoa para se referir à própria companhia.
Em 2023, a Azul começará a operar com mais força em Congonhas. O executivo defende que o setor discuta com o novo governo a formação de preço do combustível pela Petrobras, um dos itens que pesam sobre as passagens.
*
Folha - Por que as passagens aéreas ficaram tão caras?
John Rodgerson - O combustível dobrou por causa da Guerra [da Ucrânia]. Se ele dobra, o imposto também dobra. Tem o câmbio, que desvalorizou nos últimos dois anos. Isso impacta o preço final. Mas só posso cobrar preço alto se houver alguém disposto a pagar. E a demanda está forte, como nunca vimos.
Folha - Mas não é só por isso que as passagens estão tão caras, é? 
John Rodgerson - Depende do combustível e o problema está na paridade internacional. Por que eu pago 40% mais que o gringo paga em Miami [EUA]?
Folha - Por que é mais caro no Brasil?
John Rodgerson - Há impostos. Nos EUA, não. Um estrangeiro quando abastece sua aeronave para retornar a Miami não paga imposto. Eu [Azul] abasteço para viajar ao Recife e pago imposto. Voo internacional não paga. É mais barato ir para Miami.
Folha - Isso é só uma questão tributária?
John Rodgerson - Não. Tem a forma como somos [aéreas] cobrados. A Petrobras diz que, se ela não existisse, teríamos de importar [combustível], e aí pagaríamos impostos e encargos -o que daria 40% acima da paridade internacional. Por que me cobram a mais em cima de um produto que já está aqui, que não está sendo transportado? E depois incide ainda o ICMS. O problema aqui é como se forma o preço.
Folha - Considera que há abertura no novo governo para discutir isso?
John Rodgerson - O governo Bolsonaro começou a estudar. Acho que o novo governo vai querer estimular mais viajantes no país. A classe A sempre vai viajar, mas as classes B e C, não. É uma vergonha que o chileno, o colombiano e o mexicano viajem mais que os brasileiros porque nesses lugares o combustível é mais barato. Além disso, quando se voa São Paulo-Rio e, por vontade divina, o aeroporto fecha, eu tenho de pagar hotel, comida, transporte e ainda corro o risco de sofrer processos judiciais. Como é possível vender uma ponte aérea por R$ 40 se eu tiver de bancar R$ 2.500 com cada passageiro [que não voar por razões climáticas]? É por isso que nenhuma companhia low-cost [baixo custo] vem para cá.
Folha - Se resolver isso, então, o preço da passagem cai?
John Rodgerson - Sim. E isso vai gerar emprego e melhorar a economia. Cada voo da Azul ajuda o cara que vende queijo no Nordeste. E o motorista do Uber, que transporta mais turistas.
Folha - Por que o setor não teve redução do ICMS sobre combustíveis? 
John Rodgerson - Precisa perguntar para o governo. Nós pleiteamos. Aliás, diferente de outros países, as companhias brasileiras não receberam subsídio na pandemia. Os EUA concederam US$ 100 bilhões para as aéreas não quebrarem. A Europa também ajudou. Aqui, só os aeroportos receberam.
Folha - Agora a Azul vai disputar com Gol e Latam grandes capitais a partir de Congonhas. O que vai mudar? 
John Rodgerson - Cada vez que um voo da Gol e da Latam decola, a chance é de 92% que vá pousar no Rio, São Paulo ou Brasília. Eu estou voando o [cliente do] agronegócio, o interior de Amazonas, Pernambuco, Bahia. Há cidades que só são servidas pela Azul. A Gol e a Latam atendem cerca de 52 cidades, cada uma. Mas são as mesmas -juntas atendem 58. Chego a 160.
No ano que vem, teremos Congonhas. Vamos voar de lá para Brasília, Curitiba, Confins, Recife, e a ponte aérea (Rio-SP). Nos últimos 14 anos, construímos uma empresa super-rentável, sem o subsídio, vamos dizer, de Congonhas. É fácil ganhar dinheiro em um aeroporto em que você chega ao centro de SP, maior PIB do país. Esta é a última peça do nosso quebra-cabeça. A foto vai ser mais linda depois.
Folha - O que leva a crer que continuarão sendo diferentes sem reproduzir o negócio da Gol e Latam? 
John Rodgerson - Nossa malha é diferente e operamos com aeronaves menores. Quando entrarmos em Congonhas, vou voar para Porto Alegre, por exemplo, e, de lá, conectar com mais dez cidades.
Folha - Por que alguém vai trocar Gol e Latam pela Azul só por causa da conectividade? 
John Rodgerson - Você pode comprar Gol até Curitiba, mas sua mala pode não chegar, você fará dois check-in, passará no raio-X de novo. Quando você compra a coisa completa, não. Para Caruaru (PE), você voará de Congonhas ao Recife, trocará de aeronave, e seguirá até o destino. A experiência e os preços serão melhores.
Folha - A Azul já planejou se fundir à JetBlue e à TAP. Não faria sentido retomar esse plano hoje para compensar o peso do câmbio na operação? 
John Rodgerson - É sempre bom ter parceiros, mas uma coisa societária é complexa e não está nos planos.
Folha -
Como estão as margens de lucro devido à pandemia? 
John Rodgerson - Estamos melhorando agora, mas ainda queimando caixa.Raio-X
John Rodgerson
Carreira: Foi um dos principais executivos da americana JetBlue e entrou na Azul em 2008. Mas atuou muito antes, quando ela ainda era uma ideia de David Neeleman, seu fundador, na busca de investidores para viabilizá-la. Em 2017, foi alçado à presidência da companhia e, neste ano, se tornou CEO. Hoje cuida da estratégia.

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