Brasil não pode ser só a 'fazenda do mundo', diz Mercadante ao assumir BNDES
O Brasil não pode ser somente "a fazenda do mundo", deixando bens industriais para trás enquanto commodities agrícolas ganham cada vez mais espaço no exterior, avaliou.
© Adriano Machado / Reuters (Arquivo)
Economia ALOIZIO-MERCADANTE
(FOLHAPRESS) - Em discurso de posse, o novo presidente do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), Aloizio Mercadante, defendeu nesta segunda-feira (6) uma posição "mais atuante" do banco, com atenção especial à indústria e a empresas de menor porte.
O Brasil não pode ser somente "a fazenda do mundo", deixando bens industriais para trás enquanto commodities agrícolas ganham cada vez mais espaço no exterior, avaliou o novo presidente do banco.
A cerimônia de posse de Mercadante ocorreu na sede do BNDES, no Rio de Janeiro, durante a manhã. O evento teve a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e também mobilizou parte dos seus principais ministros.
"Uma das dimensões para o projeto estratégico de desenvolvimento são as exportações, não apenas de commodities agrícolas", disse Mercadante.
"É muito bom, como diz o querido ministro Carlos Fávaro [Agricultura], que o Brasil é a fazenda do mundo. É muito bom, mas não pode ser só a fazenda. Produtos industriais de alto valor agregado são essenciais para o desenvolvimento do Brasil", acrescentou.
MUDANÇA NA TLP
Mercadante ainda repetiu a promessa de debater medidas para "ajustar" a taxa de juros do BNDES, a TLP (Taxa de Longo Prazo). O presidente do banco, contudo, voltou a negar um retorno ao padrão antigo de subsídios em governos petistas.
"É muito importante compreender o seguinte: não queremos, e não estamos reivindicando, o retorno ao padrão de subsídios, como ocorreu no passado, mas uma taxa de juros mais competitiva, sobretudo para micro, médias e pequenas empresas", disse.
Para Mercadante, a TLP "apresenta enorme volatilidade" e representa um "custo financeiro acima do custo da dívida pública federal". "Penaliza de forma desnecessária micro, pequenas e médias empresas", afirmou.
Analistas financeiros já demonstraram preocupação com eventuais mudanças na TLP, que é hoje mais alinhada a taxas de mercado.
Essa modalidade substituiu em 2018 a TJLP (Taxa de Juros de Longo Prazo), que era menor por uma decisão de governo e acabava impondo custos não explícitos à política de crédito do banco.
A TLP considera o índice de preços do consumidor (IPCA, a inflação oficial), mais a taxa de juros real dos títulos do Tesouro (NTN-B).
'BNDES MAIS ATUANTE'
Segundo Mercadante, a intenção da nova diretoria é colocar a indústria na linha de frente do BNDES. Desde 2018, o setor vem ficando atrás da agropecuária nos desembolsos do banco.
"Se quisermos ter futuro, precisaremos de um BNDES mais presente e atuante e de uma relação de equilíbrio com o Tesouro Nacional. Mas não pretendemos ficar disputando mercado com o sistema financeiro privado", afirmou.
Mercadante ainda prometeu esforços nas áreas do meio ambiente e de igualdade de gênero e raça.
"O BNDES precisa apoiar a transição justa para a economia de baixo carbono, bem como promover a inclusão produtiva e a reurbanização inteligente, visando construir as cidades do futuro."
De acordo com Mercadante, o banco vai propor um programa de estágio para negros. Ele relatou que a instituição terá uma "diretoria plural e com diversidade de gênero".
O presidente do BNDES também confirmou o desenvolvimento de um projeto de Eximbank, um organismo de apoio a exportações de bens e serviços.
Entre os ministros que acompanharam a posse de Mercadante, estiveram o vice-presidente Geraldo Alckmin (Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços), Rui Costa (Casa Civil), Wellington Dias (Desenvolvimento e Assistência Social), Marina Silva (Meio Ambiente), Márcio França (Portos e Aeroportos), Luiz Marinho (Trabalho e Emprego) e Anielle Franco (Igualdade Racial).
A lista de participantes incluiu a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, e a ex-presidente da República Dilma Rousseff (PT).
O governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL), que apoiou Jair Bolsonaro (PL) na corrida eleitoral, e o prefeito da capital fluminense, Eduardo Paes (PSD), também estiveram na cerimônia.
Mercadante ainda agradeceu pela presença de nomes ligados ao setor financeiro, como Isaac Sidney (Febraban), Luiz Carlos Trabuco (Bradesco) e Pedro Moreira Salles (Itaú Unibanco).
O petista aproveitou a ocasião para fazer elogios e declarar apoio a Josué Gomes como presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), outro nome que compareceu ao evento.
"Felizmente, você continua presidente da Fiesp. É o que o país queria, a indústria, também. Muito bom tê-lo à frente da Fiesp", disse Mercadante, em uma referência à disputa pelo poder da entidade.
Até o músico Chico Buarque teve a presença anunciada na cerimônia por Mercadante. "Ele veio do jeito que me ensinou. Põe um óculos escuto, um boné, sai para a rua que no Rio dá para andar", afirmou o presidente do BNDES.