Haddad diz que possibilidade de negociação no comércio exterior em moedas locais é concreta
Mais cedo, Luiz Inácio Lula da Silva defendeu que os países façam comércio em suas próprias moedas, sem passar pelo dólar
© Getty Images
Economia Haddad
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse a jornalistas nesta quinta-feira, 13, que a possibilidade do comércio exterior em moedas locais é "concreta" e as conversas podem avançar. Mais cedo, Luiz Inácio Lula da Silva defendeu que os países façam comércio em suas próprias moedas, sem passar pelo dólar.
"Uma das tarefas que Lula pretende deixar é que os bancos multilaterais dos quais o Brasil faz parte possam servir de catalisadores desses processo de alternativa às moedas tradicionais, como euro e dólar, que respondem pela maior parte do comércio internacional", afirmou o ministro.
Em entrevista à Globonews, Haddad disse que se pode pensar em comércio internacional bilateral com moedas locais com muita tranquilidade e que a vantagem é "é escapar da camisa de força de ter comércio fixado em moeda de um país que não faz parte da transação".
O ministro afirmou que não acredita que a declaração de Lula nesta quinta em Xangai vá comprometer a relação do Brasil com Washington.
"As transações em dólar vão continuar acontecendo, mas em casos específicos, onde os parceiros são muitos fortes, pode-se pensar em mecanismos mais condizentes", Haddad, citando o crescente comércio entre Brasil e China. "O Brasil não é um país alinhado no sentido tradicional do termo, sempre dialogou com todos os quadrantes do planeta sem privilegiar ninguém, já se aproximou da Alemanha, dos Estados Unidos, mas nunca fechou as portas para ninguém", destacou, em Xangai.
Em entrevista à Globonews, Haddad acrescentou que os EUA sabem que podem contar com o Brasil, que tem planos de reindustrialização tanto com investimentos americanos quanto com chineses. "O Brasil não pode ter preconceito por seu tamanho contra qualquer que seja, a não ser em situações limites."
Haddad ressaltou que o comércio entre países em moeda local é uma "ideia acalentada há muito tempo", desde a Segunda Guerra Mundial. Em um momento como o atual, marcado pela guerra da Ucrânia e outras crises, essa discussão vem a calhar.
Os Brics, sigla que reúne Brasil, Rússia, Índia e China, já respondem por um Produto Interno Bruto (PIB) superior a do G7, os países mais ricos do mundo, comentou Haddad. Nesse contexto, com o crescimento do Novo Banco de Desenvolvimento, como é chamado oficialmente o banco dos Brics, a instituição pode ter um papel em avançar nas conversas sobre as transações em moeda local. Haddad admitiu que o assunto é complexo, mas precisa seguir, ou o comodismo vai fazer que as coisas continuem como estão.