Preços caem pela 1ª vez em 9 meses, e IPCA tem maior queda para junho desde 2017
Considerando somente os meses de junho, a queda em 2023 é a primeira e a maior desde 2017. À época, a baixa havia sido de 0,23%
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Economia INFLAÇÃO-IPCA
(FOLHAPRESS) - Com a redução dos preços de automóveis, alimentos e combustíveis, o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) teve deflação (queda) de 0,08% em junho.
É a primeira vez que o índice oficial de inflação fica negativo em nove meses, informou nesta terça-feira (11) o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
A deflação anterior ocorreu em setembro de 2022. Na ocasião, o IPCA havia recuado 0,29% sob reflexo dos cortes de tributos promovidos pelo governo Jair Bolsonaro (PL) às vésperas das eleições.
Considerando somente os meses de junho, a queda em 2023 é a primeira e a maior desde 2017. À época, a baixa havia sido de 0,23%.
A queda de 0,08% ficou em nível próximo da mediana das projeções do mercado. Analistas consultados pela agência Bloomberg esperavam recuo de 0,10%, após o avanço de 0,23% registrado pelo IPCA em maio.
Com o novo resultado, a alta acumulada pelo índice em 12 meses desacelerou para 3,16% até junho. É a menor desde setembro de 2020 (3,14%). O avanço estava em 3,94% na divulgação anterior.
CARROS, COMIDA E GASOLINA FICAM MAIS BARATOS
Dos 9 grupos de produtos e serviços do IPCA, 4 mostraram queda em junho. Os destaques foram os recuos de alimentação e bebidas (-0,66%) e transportes (-0,41%).
Os segmentos contribuíram com -0,14 ponto percentual e -0,08 ponto percentual, respectivamente, para o índice do mês.
A queda de alimentação e bebidas está associada principalmente ao recuo dos preços da alimentação no domicílio (-1,07%).
Nesse caso, destacam-se as reduções do óleo de soja (-8,96%), das frutas (-3,38%), do leite longa vida (-2,68%) e das carnes (-2,10%). Batata-inglesa (6,43%) e alho (4,39%), por outro lado, subiram de preço.
A trégua da inflação dos alimentos era aguardada por economistas em razão das baixas de preços no atacado e da oferta maior de produtos neste ano. Em 2022, a safra foi prejudicada por questões climáticas.
No grupo de transportes, a deflação foi influenciada pelo recuo dos automóveis novos (-2,76%) e dos automóveis usados (-0,93%).
Segundo o IBGE, houve impacto de um fator pontual, o programa do governo federal para descontos em carros populares. A medida foi encerrada neste mês.
Os automóveis novos exerceram a principal contribuição, em termos individuais, para a deflação do IPCA em junho (-0,09 ponto percentual).
"Essa redução nos preços está relacionada ao programa de descontos para compra de veículos novos, lançado em 6 de junho pelo governo federal. Isso pode ter relação também com a queda dos preços dos automóveis usados", disse André Almeida, analista da pesquisa do IBGE.
De acordo com o instituto, se os automóveis novos e usados fossem retirados do cálculo do IPCA, o índice teria subido 0,03% no mês passado.
Ainda em transportes, o IBGE destacou o recuo dos combustíveis (-1,85%). Houve queda nos preços do óleo diesel (-6,68%), do etanol (-5,11%), do gás veicular (-2,77%) e da gasolina (-1,14%). Já as passagens aéreas subiram 10,96%, após a baixa de 17,73% em maio.
PROJEÇÕES INDICAM IPCA PRÓXIMO DO TETO DA META
O IPCA serve de referência para o regime de metas de inflação do BC (Banco Central). Em 2023, o centro da meta perseguida pela autoridade monetária é de 3,25%. O intervalo de tolerância é de 1,5 ponto percentual para mais (4,75%) ou para menos (1,75%).
Na segunda (10), a mediana do boletim Focus, divulgado pelo BC, apontou que analistas do mercado financeiro projetavam IPCA de 4,95% no acumulado até dezembro deste ano.
Isso quer dizer que as estimativas ainda indicavam uma variação dos preços acima do teto da meta em 2023. Porém, parte dos analistas não descarta IPCA dentro do intervalo de referência, algo fora do radar até pouco tempo atrás.
A corretora Warren Rena, por exemplo, estima inflação de 4,75% no acumulado deste ano, em linha com o teto.
Mesmo assim, Andréa Angelo, economista da instituição, alertou para questões como os preços dos serviços, que mostraram "desempenho pior do que o esperado" em junho.
O IPCA de serviços saiu de uma baixa de 0,06% em maio para uma alta de 0,62% no mês passado.
ANALISTAS VEEM CORTE DE JUROS EM AGOSTO
Com a trégua da inflação nos últimos meses, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e aliados vêm pressionando o BC por uma redução na taxa básica de juros, a Selic, atualmente em 13,75% ao ano.
O Copom (Comitê de Política Monetária do BC) volta a se reunir nos dias 1º e 2 de agosto para definir o patamar da Selic. Segundo analistas, a deflação de junho reforça a expectativa de queda na próxima reunião do comitê.
"O Copom irá iniciar o processo de corte, uma vez que os critérios que estabeleceu estão sendo cumpridos, entre eles a ancoragem das expectativas", disse o economista André Perfeito.
A Selic de dois dígitos tem sido a estratégia do BC para conter os preços e ancorar as perspectivas de inflação.
O efeito colateral esperado é a perda de fôlego da atividade econômica, porque o custo do crédito fica mais alto para os investimentos das empresas e o consumo das famílias. Esse cenário preocupa Lula e aliados.
Em julho, o IPCA deve ser pressionado pelo retorno da cobrança integral de tributos federais sobre combustíveis. Na semana passada, o litro da gasolina teve alta de 5,8% nos postos brasileiros, segundo pesquisa da ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis).
O impacto das deflações registradas no segundo semestre de 2022 também deve sair da base de cálculo do IPCA no acumulado de 12 meses até o final de 2023. Isso deve contribuir para uma variação maior até dezembro do que a atual, de acordo com analistas.
Às vésperas das eleições do ano passado, os preços de produtos e serviços como gasolina e energia foram reduzidos pelo corte de tributos promovido pelo governo Bolsonaro.
Na visão do C6 Bank, a inflação acumulada em 12 meses atingiu seu patamar mínimo em junho e voltará a acelerar a partir de julho, quando tende a ficar acima de 4% novamente.
"Um dos motivos que corroboram nossa projeção é a saída do cálculo (em 12 meses) das deflações registradas no IPCA no ano passado em função dos efeitos da desoneração de impostos", disse Claudia Moreno, economista do C6 Bank, em relatório.
"Ou seja, sairão da conta as deflações de julho, agosto e setembro de 2022 e entrarão os resultados positivos de julho e agosto e setembro deste ano", acrescentou.
Ela ainda afirma que os núcleos de inflação monitorados pelo BC, que excluem elementos voláteis e não recorrentes, continuam pressionados. Isso, segundo a economista, indica que a inflação estrutural segue resiliente, desacelerando em ritmo lento. O C6 prevê IPCA de 5,8% em 2023.
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