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'Não se discute com ameaças. A gente não vai ceder', diz Lula sobre acordo Mercosul

Lula disse que enviará uma nova carta à UE em duas semanas e que está otimista com a resposta.

'Não se discute com ameaças. A gente não vai ceder', diz Lula sobre acordo Mercosul
Notícias ao Minuto Brasil

11:10 - 19/07/23 por Folhapress

Mundo LULA-BÉLGICA

(FOLHAPRESS) - Em entrevista coletiva na manhã desta quarta (19), em Bruxelas, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou que o documento adicional que a União Europeia entregou em março sobre o acordo do Mercosul era agressivo e que "não vai ceder".

Lula disse que enviará uma nova carta à UE em duas semanas e que está otimista com a resposta. O documento europeu previa sanções econômicas ao Brasil caso o país não cumprisse metas ambientais.

Falou também sobre as compras governamentais, outro motivo de imbróglio para o acordo. A Europa queria incluir no acordo que as empresas estrangeiras pudessem entrar em pé de igualdade com as nacionais nas licitações do governo brasileiro.

Lula descartou a ideia e disse que compras governamentais são "um instrumento de desenvolvimento interno" para pequenas e médias empresas e que, portanto, não pode abrir mão desse potencial.

A entrevista ocorreu após o fim da cúpula Celac-UE, evento que reúne chefes dos 33 países da Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac) e 25 da União Europeia (UE) na capital da Bélgica.

Sobre a Venezuela, disse que as sanções impostas pelos EUA devem começar a cair após o governo e a oposição venezuelanos chegarem a acordo sobre as regras e datas para eleição presidencial em 2024. Confira abaixo os principais tópicos da entrevista de Lula.
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ACORDO MERCOSUL

"A Europa tinha feito uma carta agressiva. Era uma carta que ameaçava com punição se a gente não cumprisse determinados requisitos ambientais. Tem que haver dois parceiros estratégicos, não discutir ameaças. A gente discute com propostas. Nós fizemos a resposta brasileira, que está sendo discutida com os quatro países do Mercosul, e depois, daqui a duas semanas, vamos entregar definitivamente a proposta para a União Europeia."

"Nós não aceitamos a carta adicional da União Europeia. É impossível imaginar que, entre parceiros históricos como nós, alguém faça uma carta com ameaça. Achamos que a União Europeia vai concordar tranquilamente com a nossa resposta. Eu acho que a carta adicional da União Europeia foi possivelmente alguém achando que, fazendo pressão, a gente iria ceder. Não, a gente não vai ceder."

"Pela primeira vez eu senti definitivamente a União Europeia interessada em voltar de verdade para a América Latina. Primeiro para a questão do clima. Segundo, para a questão energética. Ou seja, a parte do mundo que pode produzir o hidrogênio verde que a Europa precisa é exatamente a nossa querida América do Sul."

COMPRAS GOVERNAMENTAIS

"É importante que as pessoas saibam a importância das compras governamentais. No caso do Mercosul, não temos interesse na possibilidade de não nos industrializar. Fazemos a exigência de reindustrialização para que a gente possa ser exportador de manufaturados, coisas com mais valor agregado, gerar empregos mais qualificados. É por isso que não abrimos mão das compras governamentais. As compras governamentais são um instrumento de desenvolvimento interno. Os Estados Unidos fazem isso, a Europa faz isso, a Alemanha faz isso e o Brasil tem o direito de fazer isso. É assim que a gente consegue incentivar o pequeno e médio empresário a sobreviver e a crescer."

"É assim que a gente consegue incentivar o pequeno e médio empresário a sobreviver e a crescer. Vamos pegar a área da saúde. Tenham em conta que não tem nenhum país no planeta Terra com mais de 100 milhões de habitantes que tenha um programa de saúde universal como o SUS. A gente tem que aproveitar o potencial de compra que tem o SUS para que a gente possa desenvolver internamente no Brasil uma indústria da saúde. A gente pode produzir tudo o que a gente precisa, inclusive remédios."

"A gente vai ter que aprender que, em negociação, a gente não ganha tudo o que quer. E é isso que eu estou disposto e que o Mercosul está disposto. E é isso que vai acontecer. É importante lembrar que, no caso do Brasil, a gente já teve a indústria significando 30% do nosso PIB. Hoje a gente está por volta de 11%. Na Argentina também desapareceu a indústria.

"Eu estou otimista, estou muito otimista. Pela primeira vez, eu estou otimista de que a gente vai concluir esse acordo ainda este ano."

AMBIENTE

"Temos um compromisso histórico de campanha assumido por mim na COP 25, de que nós vamos, até 2030, acabar com o desmatamento na Amazônia. Nós não precisamos da União Europeia, da China, dos Estados Unidos. É um compromisso nosso. Agora, eles têm a obrigação de cumprir com o compromisso de fazer a doação de US$ 100 bilhões (R$ 480 bilhões) para que os países possam, no mundo inteiro, preservar. Nós gostamos do nosso povo que mora na Amazônia. Nós queremos que seja bem tratado. Nós queremos que o ribeirinho seja bem tratado. Nós queremos que as pessoas que vivem de trabalho na Amazônia e na floresta sejam bem tratados. Por isso é que assumimos esse compromisso. E quem quiser contribuir com o Fundo Amazônico será bem-vindo."

"O Brasil é um país que tem um potencial excepcional. Temos 87% da nossa energia elétrica renovável. O mundo só tem 28. Nós temos de toda a matriz energética, envolvendo combustível, 50% totalmente renovável, contra 15% do resto do mundo. Dou esse número para dizer que pouca gente tem autoridade moral para falar em transição ecológica com o Brasil sem levar em conta a realidade brasileira."

"Nós temos um compromisso soberano de acabar com o desmatamento na Amazônia. Nós queremos transformar a zona num centro de desenvolvimento verde. Queremos compartilhar a exploração científica com quem queira participar, porque achamos que é possível extrair da grandeza e da grandiosidade do ecossistema da Amazônia e da riqueza da biodiversidade coisas importantes para desenvolvimento de novas indústrias. Ou seja, o Brasil vai mostrar ao mundo que nós vamos definitivamente entrar na chamada bioeconomia, na economia verde."

VENEZUELA

"Fizemos uma reunião sobre a questão da Venezuela. A situação da Venezuela vai ser resolvida quando os partidos, junto com o governo, chegarem à conclusão da data da eleição e das regras que vão estabelecer as eleições. Com base nisso,há um compromisso de que as punições impostas pelos Estados Unidos comecem a cair. Sanções absurdas, como a Venezuela não poder usar seu dinheiro que está nos bancos de outros países."

"Então, o que eu sinto? Eu sinto que depois de tanto tempo de briga, todo mundo está cansado de todo mundo. Eu sinto que a Venezuela está cansada também. Eu gostei da reunião, eu não esperava resultado da reunião. Se ele se entenderem, com relação às regras e à data das eleições, eu acho que nós temos autoridade moral de pedir o fim das sanções."

CÚPULA CELAC-UE

"Acho que de todas nós que eu participei com a União Europeia, essa foi a reunião mais exitosa de todas elas. Eu poucas vezes vi tanto interesse político e econômico dos países da União Europeia com os seus interesses para a América Latina. Possivelmente pela disputa entre Estados Unidos e China, possivelmente pelos investimentos da China na África e na América Latina, possivelmente pela Nova Rota da Seda, possivelmente pela guerra."

"O dado concreto é que a União Europeia demonstrou muito interesse em voltar a fazer investimentos, anunciando um investimento de € 45 bilhões (R$ 243 bilhões). Certamente, esses € 45 bilhões já fazem parte de muitos projetos que já estão em andamento. Mas não deixa de ser extremamente importante voltar a reafirmar os investimentos na América Latina"

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