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Congonhas cresce e ultrapassa Guarulhos nas maiores rotas domésticas

Alvo de críticas sobre o limite de sua capacidade, ruídos e poluição, aeroporto tenta retomar patamar pré-pandemia

Congonhas cresce e ultrapassa Guarulhos nas maiores rotas domésticas
Notícias ao Minuto Brasil

10:00 - 11/09/23 por Folhapress

Economia aeroportos

SÃO PAULO, SP, E SALVADOR, BA (FOLHAPRESS) - Alvo de críticas devido à capacidade limitada e de reclamações de vizinhos sobre o excesso de ruído em seu entorno, o aeroporto de Congonhas passou a concentrar as principais rotas domésticas do mercado aéreo brasileiro que antes pertenciam, sobretudo, a Guarulhos.

A oferta mostra a volta do protagonismo de um terminal marcado por acidentes nas décadas de 1990 e 2000 e que também está na mira de queixas sobre o impacto ambiental e os congestionamentos recorrentes nos seus arredores.

A informação foi obtida por um levantamento feito pela Folha de S.Paulo com base em dados públicos disponibilizados pela Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) que considera os cinco trechos domésticos com maior fluxo de passageiros nos sete primeiros meses de cada ano no período de 2010 a 2023.

Congonhas já encabeçava a lista nos anos anteriores com a ponte aérea que o liga ao Santos Dumont, na capital fluminense –trecho mais movimentado do país. Em 2022, porém, o terminal passou a ocupar também a terceira e a quinta colocação com as rotas cujos destinos são Porto Alegre e Brasília.

Agora, o comportamento observado mostra expansão, já que o aeroporto, nos primeiros sete meses deste ano, abocanhou os quatro trechos domésticos que transportam o maior volume de passageiros no país –com o fortalecimento da rota Congonhas-Confins (MG).

O domínio de Congonhas coincide com a retomada do terminal após o efeito das restrições sanitárias impostas pelo coronavírus.

O aeroporto, que registrou uma queda maior no fluxo de passageiros do que Guarulhos, vem recuperando aos poucos sua movimentação, mas ainda permanece abaixo do nível pré-pandemia, em 2019.

De acordo com Ruy Amparo, diretor de segurança e operações de voos da Abear (Associação Brasileira das Empresas Aéreas), por estar localizado na capital paulista, Congonhas atrai boa parte do público de executivos, que ficou impedido de viajar nos últimos anos.

Nesse período, o tráfego para São Paulo passou a se concentrar em Guarulhos, diz Amparo.
Durante o isolamento social, a diferença entre o número de passageiros dos dois principais aeroportos de São Paulo foi o maior observado na série histórica levantada pela Folha de S.Paulo.

Nos primeiros sete meses de 2010, Congonhas teve apenas 700 mil passageiros a menos do que Guarulhos –patamar que subiu para quase 6 milhões em 2021.

"A pandemia esgotou o tráfego de maneira cavalar. Na prática, parou Congonhas. O tráfego de e para São Paulo se concentrou em Guarulhos. A foto está voltando a ser como era antes", diz Amparo.

O cirurgião dentista André Lins, 45, diz passar por Congonhas pelo menos uma vez ao mês. A frequência aumentou há cerca de um ano, desde que ele viu suas viagens a trabalho se tornarem mais recorrentes.

Por estar dentro da maior cidade do país, a localização é o principal atrativo, mas a infraestrutura não é das melhores, diz.

"A área onde o táxi e o Uber deixam a gente, por exemplo, é muito precária. Fica muito tumultuado, sobretudo hoje em dia. Parece que não anda. Isso tumultua bastante."

Lins não é o único a compartilhar uma opinião negativa sobre a estrutura do terminal.

No último ano, em meio à concessão de Congonhas para a companhia espanhola Aena, associações de vizinhos intensificaram as reclamações e chegaram a sugerir à Prefeitura de São Paulo o recolhimento de uma taxa de poluição e ruído.

Desde março deste ano, Congonhas opera com capacidade de 44 pousos ou decolagens por hora, sendo 36 para a aviação comercial e 8 para a aviação geral, que inclui aeronaves de pequeno porte e jatos executivos. No geral, o patamar representa três movimentos a mais do que o teto anterior.

Em 2008, ano posterior ao acidente com o Airbus da TAM em Congonhas, que matou 199 pessoas, o número era de 34 movimentos por hora, ao todo.

Segundo Aline Mafra, diretora de vendas e marketing da Latam, apesar da expansão recente da capacidade, Congonhas continua sendo um aeroporto limitado, restrito a rotas de maior interesse no mundo dos negócios.

"Ele [Congonhas] tende a ser um produto muito corporativo na maioria dos casos. A gente tem crescido onde tem espaço para crescer. Houve, sim, um aumento de capacidade, mas não na mesma proporção do nosso investimento em Guarulhos", diz ela.

A Azul, por sua vez, vem tentando penetrar no terminal, que é dominado pela Latam e pela Gol. Em março deste ano, a empresa anunciou a duplicação da operação em Congonhas, para 84 movimentos diários.

A companhia aérea também passou a oferecer a rota com destino a Brasília partindo da capital paulista, trecho inédito em sua malha.

Com uma participação menor, de 20 movimentos por dia, a Voepass disse à reportagem que o aeroporto de Congonhas é o mais cobiçado na América do Sul e, considerando sua saturação, sempre terá protagonismo.

"Existe toda a expectativa sobre a atuação do novo concessionário, que deverá trabalhar para a expansão das operações", afirmou a empresa, em nota.

Companhias aéreas e suas associações representantes se mostram otimistas em relação à retomada do mercado doméstico. De acordo com os dados da Anac, no entanto, ainda é cedo para cravar a volta do segmento de voos entre destinos nacionais.

Entre janeiro e abril deste ano, o volume de passageiros ainda não havia atingido o mesmo nível de 2019. O cenário se reverteu em maio, mês que registrou cerca de 7,5 milhões de viajantes transportados no mercado doméstico –cerca de 250 mil a mais do que no mesmo período de 2019.

A vantagem continuou em junho, mas não se manteve em julho. Tradicionalmente impulsionado pelas férias, o mês concentrou 8,6 milhões de passageiros em voos nacionais, patamar ligeiramente menor na comparação com julho de 2019.

Portugal é destaque entre os destinos internacionais

Para os destinos internacionais, o cenário é mais pessimista, e as companhias aéreas não planejam um retorno ao nível pré-pandêmico tão cedo.

Em julho, por exemplo, o volume de passageiros transportados para fora do país foi de aproximadamente 1,8 milhão, abaixo dos 2,2 milhões do mesmo mês em 2019.

Bruno Balan, gerente de planejamento estratégico de malha aérea da Gol, aponta a inflação global como um dos motivos para o desestímulo às viagens internacionais.

"O custo de uma viagem para o exterior, principalmente para os destinos mais consolidados, como Estados Unidos e Europa, sempre foi dolarizado ou em euro. Mas tem uma questão de custo devido à inflação global. Hoje, passar uma semana em Nova York sai bem mais caro do que saía lá atrás", diz.

Há, porém, destaques positivos. O fluxo de viajantes brasileiros para Portugal, por exemplo, bateu recorde para o mês de julho na série levantada pela Folha de S.Paulo, com 233 mil passageiros transportados no período.

Na opinião de Carlos Antunes, diretor para as Américas da companhia aérea portuguesa TAP, o resultado é reflexo do desempenho do euro e sua aproximação à cotação do dólar.

"A Europa e os EUA são destinos completamente diferentes. Os EUA são os parques, as compras. Mas, para o brasileiro fazer compras com o dólar alto, perde atratividade. E a Europa, como um destino de gastronomia e experiência, se torna mais atrativa com o euro mais fraco", afirma.

Voos para alguns países da América do Sul também estão se fortalecendo.

Apesar de ainda não estarem no nível pré-pandemia, destinos tradicionais na vizinhança, como o Peru e o Chile, cresceram em julho na comparação com o mesmo período dos últimos anos. Já os voos com destino à Colômbia bateram recorde em volume de passageiros para o mês dentro desta série histórica.

"A gente tem visto América Latina um pouco mais aquecida. Colômbia e Caribe, por exemplo. Para essas viagens mais próximas, a gente consegue atender com aviões menores. Para voos mais longos, como Nova York e Europa, precisa de aviões maiores, e aí tem uma falta de capacidade da indústria em conseguir retomar a oferta com esses aviões por diversos fatores, que surgiram tanto na pandemia quanto com a Guerra da Ucrânia", diz Bruno Balan, da Gol.

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