Lula chama de 'imbecis' apoiadores de privatização da Petrobras
Embora defendida por integrantes do governo Jair Bolsonaro, a privatização da Petrobras nunca chegou a ser discutida no Congresso. Houve apenas uma tentativa de mudar o nome da companhia, ainda no governo Fernando Henrique Cardoso.
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Economia Petrobrás
NICOLA PAMPLONA
ITABORAÍ, RJ (FOLHAPRESS) - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) chamou nesta sexta-feira (13) de imbecis os defensores da privatização da Petrobras e voltou a criticar a gestão de ex-estatais privatizadas, como a Vale e a Eletrobras.
"Quantas vezes já tentaram privatizar a Petrobras? Quantas vezes já tentaram mudar de nome a Petrobras?", questionou, em discurso durante cerimônia no antigo Comperj (Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro, um dos alvos da Operação Lava Jato.
"Quantas vezes já disseram: 'não, nós temos que vender a Petrobras porque o petróleo vai acabar e a gente vai ficar com uma empresa que não presta para nada?' Isso é um bando de imbecil", completou. "O dia que acabar o petróleo, a Petrobras será a maior empresa produtora de biocombustíveis nesse país."
Embora defendida por integrantes do governo Jair Bolsonaro, a privatização da Petrobras nunca chegou a ser discutida no Congresso. Houve apenas uma tentativa de mudar o nome da companhia, ainda no governo Fernando Henrique Cardoso.
Lula afirmou que, sem conseguir debater a privatização, governos anteriores optaram por vender ativos da companhia, como a BR Distribuidora e Liquigás, distribuidora de gás de botijão. "O que isso melhorou para a Petrobras? Nada", defendeu.
Ele voltou a afirmar que a empresa precisa cumprir um papel social, além de dar lucro. "Uma empresa pública como a Petrobras, ela serve não apenas para lucrar, ela serve para prestar serviços para o conjunto da população."
Nessa linha, ele disse que os presidentes de Vale e Eletrobras ganham salários muito maiores do que os pagos na estatal mas não dão retorno à sociedade.
"O presidente da Eletrobras ganhava R$ 60 mil por mês. Hoje, ganha R$ 360 mil por mês, fora bônus", disse, em inauguração de obra da Petrobras em Itaboraí (RJ). "O CEO da Vale, R$ 55 milhões por ano. Não é R$ 55 mil, não. É R$ 55 milhões".
"Cadê a vontade dessa empresa privatizada? O que é que ela trouxe de verdade e lutou mais?"
Segundo levantamento do especialista em governança corporativa Renato Chaves, o presidente da Vale recebeu R$ 52,6 milhões em 2023, valor próximo ao citado pelo presidente. Na Eletrobras, o salário do presidente foi elevado a R$ 300 mil em 2022.
As críticas foram feitas enquanto o presidente elogiava a Petrobras por retomar investimentos paralisados após a descoberta do esquema de corrupção investigado pela Operação Lava Jato, como o Comperj (Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro).
Nesta sexta, a empresa inaugurou a primeira obra do empreendimento, uma unidade de tratamento de gás natural. A empresa prevê ainda R$ 13 bilhões para concluir a refinaria do local, cujas obras estão suspensas desde 2015.
Lula e aliados têm criticado Vale e Eletrobras desde o primeiro ano de mandato. No caso da mineradora, reclamam de demora para fechar o acordo para indenização das vítimas da tragédia de Mariana (MG) e querem mais dinheiro para a renovação das concessões ferroviárias da empresa.
O governo tentou intervir na mudança de comando da Vale, que demitiu no início do ano o seu presidente, Eduardo Bartolomeo. Lula tentou emplacar o ex-ministro Guido Mantega, mas a empresa optou pelo seu diretor financeiro, Gustavo Pimenta.
No seu discurso, o presidente admitiu que pediu a Lázaro Brandão, dono do banco Bradesco, a demissão de Roger Agnelli, que presidiu a Vale até 2011 e morreu em 2016. "A gente estava fazendo um esforço imenso para abrir estaleiros no Brasil", contou, "e a Vale comprou três navios na China".
No caso da Eletrobras, o governo briga para ter maior participação na gestão da companhia, privatizada durante o governo Jair Bolsonaro. O caso está sendo mediado pelo STF (Supremo Tribunal Federal).
Lula usou os salários dos executivos para criticar também o Banco Central e o mercado financeiro, por alertas contra impactos inflacionários de reajustes no salário mínimo. "O cara ganha R$ 360 mil por mês e não é inflacionário? O outro ganha R$ 55 milhões e não é inflacionário?"