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'Carteira Lula' de ações da Bolsa sobe 13% em dois anos, apesar da forte queda em 2024

Papéis de empresas que costumam ser beneficiadas em gestões petistas sofrem com novo ciclo de alta dos juros

'Carteira Lula' de ações da Bolsa sobe 13% em dois anos, apesar da forte queda em 2024

Getty Images

Notícias ao Minuto Brasil

23/12/24 06:10 ‧ Há 3 Horas por Folhapress

Economia Bolsa de Valores

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) venceu as eleições de 2022, analistas do mercado financeiro começaram a elencar quais ações da Bolsa teriam grande chance de surfar a onda de um governo que, a exemplo das experiências passadas, é afeito aos benefícios sociais e contrário às privatizações.

 

base em relatórios de bancos e casas de análise, a Folha de S.Paulo elencou algumas das ações mais citadas pelos analistas na época e encomendou um levantamento à Elos Ayta Consultoria para conferir o desempenho dos papéis ao longo dos dois primeiros anos do terceiro mandato de Lula.

A reportagem simulou uma carteira de investimentos, apelidada de "carteira Lula", composta sobretudo por ações do setor da construção civil, varejista, educacional e algumas alternativas às estatais, já que o receio de intervenções do governo afasta os investidores desses papéis. No caso das petrolíferas, a Prio foi uma alternativa muito mencionada no lugar da Petrobras.

No setor de bancos, o Bradesco foi uma possibilidade levantada por analistas da Genial Investimentos, principalmente pelo perfil da carteira de crédito, focada mais em pessoa física e mais exposta à baixa renda do que outros bancões.

Segundo o levantamento, no primeiro ano do governo, essa carteira simulada disparou 45,19%, acima da alta do principal índice da Bolsa, o Ibovespa, que em uma subida intensificada no fim do ano saltou 22,28% em 2023.

Neste ano até o dia 18 de dezembro, porém, esses papéis reverteram parte dos ganhos e recuaram 22,27%, em um desempenho ainda pior do que o do Ibovespa, que recuou 10% no período. Mas, na soma dos dois anos, o saldo ainda segue positivo, com uma alta de 13,33% no conjunto de ações, enquanto o Ibovespa sobe 10,06%.

Um segmento que expõem bem esse quadro retratado na carteira simulada é o da construção civil mais voltado ao Minha Casa, Minha Vida.

Após o presidente Lula turbinar o programa habitacional, em meados do ano passado, o salto no preço das ações de companhias como Cury, MRV, Plano&Plano, Direcional e Tenda impulsionou o Índice Imobiliário da B3, o Imob, que foi o que mais subiu na Bolsa em 2023, com uma alta de 53,27%. Neste ano, contudo, o índice recua 24,28%. O saldo ainda é positivo, com valorização de 16,05%.

Índice de Consumo da B3, o Icon, também trilhou um caminho parecido. No ano passado, teve uma alta mais tímida, de 6,98%. Em 2024, porém, o índice recua 21,90%. No total dos dois anos de governo, a queda é de 16,45%.

Na carteira montada pela reportagem, estão três ações do setor varejista muito citadas por analistas, que apostavam que os programas de transferência de renda do governo impulsionariam os papéis: Magazine Luiza, Casas Bahia e Assaí.

Mas, afundadas em um alto endividamento com a subida dos juros bem em um momento de expansão dessas empresas, elas não conseguiram ter um desempenho positivo nem no ano passado.

Outro grupo de ações que compõem a carteira é de empresas educacionais. Ânima, Cogna, Cruzeiro do Sul, Ser Educacional e Yduqs foram embaladas em 2023 com as perspectivas de impulsionamento de seus resultados com programas sociais voltados ao ensino superior, como o Fies e o ProUni.

Mas, assim como aconteceu com os outros setores, o pessimismo do mercado neste ano com o governo pressionou essas ações e muitas delas devolveram em 2024 todos os ganhos conquistados no ano passado.

"As ações que compõem essa carteira têm como principal componente o fato de serem voltadas ao mercado doméstico. Ou seja, elas são muito afetadas por aspectos macroeconômicos, e, num cenário de piora da inflação, deterioração dos indicadores e das perspectivas e alta dos juros, como estamos vendo, elas acabam prejudicadas", diz Matheus Amaral, especialista em renda variável do banco Inter.

O analista observa que muitas dessas empresas vinham de um ano de recuperação nos seus balanços e em seu desempenho na Bolsa, com a queda dos juros no ano passado.

Mas a forte desconfiança dos investidores em relação ao resultado fiscal e à dívida pública a partir do meio do ano, que trouxe como consequência o endurecimento da política fiscal, causou um revés. "A percepção de risco voltou, e isso pune essas companhias", afirma.

Segundo Amaral, enquanto no início do ano o cenário externo era o que mais impactava o desempenho do mercado financeiro brasileiro, agora a Bolsa está praticamente dependente dos desdobramentos políticos e econômicos no ambiente interno. Ele diz que, no ano que vem, a recuperação da Bolsa vai depender do compromisso fiscal do governo.

"Até o meio deste ano, o mercado doméstico estava quase todo sendo direcionado pelas decisões do Federal Reserve (banco central americano). Mas, quando os Estados Unidos começaram a cortar juros, o investidor estrangeiro passou a olhar com mais atenção para o Brasil e o cenário fiscal brasileiro entrou no radar", diz.

Com isso, o país acabou não conseguindo surfar a onda dos cortes das taxas de juros americanas, porque os riscos fiscais ocuparam o centro das preocupações dos investidores.

RENDA FIXA

Os papéis de renda fixa tiveram uma trajetória parecida do mercado acionário nestes dois anos de governo. No ano passado e em grande parte deste ano, as gestoras estavam investindo pesado em fundos de infraestrutura e o mercado imobiliário estava fazendo várias emissões de títulos de dívida no mercado.

Mas Luis Miraglia, sócio da Seneca Capital, diz que os gestores estão começando a migrar as aplicações desses fundos, que estão atrelados à inflação, para aqueles indexados ao CDI (Certificado de Depósito Interbancário), que acompanham o movimento da taxa básica de juros, a Selic.

"O mercado de crédito privado ganhou pujança nos últimos anos e os títulos estão se alongando cada vez mais. Porém, uma parte desse mercado remunera com a inflação. Se ela sobe, os investidores que tomaram esses títulos hoje sofrem perdas. Os fundos de mais longo prazo, como de infraestrutura e construção civil, já estão tendo perdas agora em dezembro", diz.

Miraglia diz que, com a forte subida dos juros, os investidores tendem a ficar estacionados na renda fixa e fugir cada vez mais da Bolsa no próximo ano. E dentro da renda fixa o que tem acontecido, segundo ele, é essa mudança dos fundos que remuneram com uma taxa fixa mais o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) para aqueles que pagam uma taxa mais o CDI.

Pelo lado das empresas, ele observa que, enquanto alguns títulos do Tesouro Direto passaram de uma taxa de 6,5% para 8,5% em um mês, as dívidas das empresas já estão sendo emitidas com uma remuneração de 10%. Essa situação deve levar as empresas a emitir menos títulos e, com isso, o mercado de crédito privado deve diminuir consideravelmente no próximo ano, segundo Miraglia.

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