BC pode começar a relaxar política monetária sob certas condições
O BC brasileiro manteve a taxa básica de juros (Selic) em 14,25% ao longo do terceiro trimestre
© Agência Brasil / Wilson Dias
Economia Ilan Goldfajn
O presidente do Banco Central do Brasil, Ilan Goldfajn, afirma que a instituição poderia começar a relaxar a política monetária do país sob certas condições. Em entrevista ao Wall Street Journal realizada na quinta-feira, Goldfajn disse que ele deve esperar para ver o resultado do esforço do governo para restringir gastos e monitorar a inflação, particularmente no setor de serviços, menos afetado pelos voláteis preços das commodities.
"Nós olharemos as previsões e então observaremos todos esses fatores e tomaremos uma decisão", afirmou a autoridade num intervalo das reuniões do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial realizadas em Washington.
O BC brasileiro manteve a taxa básica de juros (Selic) em 14,25% ao longo do terceiro trimestre para combater a inflação, apesar de uma profunda recessão e das incertezas causadas pela turbulência política.
O quadro político parece ter estabilizado sob a presidência de Michel Temer, que assumiu o poder após a então presidente Dilma Roussef sofrer um impeachment em agosto. Muitos economistas esperam um corte nos juros até o fim do ano.
A economia brasileira deve crescer 1,3% no próximo ano, disse Goldfajn. Isso deve ajudar na retomada da confiança nas instituições brasileiras, afirmou ele. O banco central informou no mês passado que espera que o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro recue 3,3% em 2016. O PIB do País caiu 3,8% no ano passado.
Embora a inflação siga alta, em 8,96% em agosto, Goldfajn disse esperar que ela desacelere ao longo dos próximos poucos anos, para chegar à meta do BC de 4,5% em 2018. "Há também mais confiança no futuro e isso é refletido pela queda na expectativa de inflação."
Muito depende, porém, de uma proposta que tramita no Congresso brasileiro para limitar o crescimento dos gastos do governo à taxa da inflação. No passado, governos rotineiramente buscavam impulsionar a economia com gastos públicos financiados pela elevação de impostos ou por empréstimos do exterior. Isso gerou inflação e altas nas taxas de juros, além de frear a atividade no setor privado.
"Eu tenho dito explicitamente: veja, se você faz as reformas fiscais, isso me ajuda no meu processo de desinflação", afirmou Goldfajn.
A autoridade brasileira não previu choques econômicos significativos do exterior. Uma elevação de juros pelo Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) poderia gerar volatilidade financeira no curto prazo, disse ele. Muitos analistas e participantes do mercado esperam que possa ocorrer uma elevação dos juros nos EUA em dezembro.
Mas no prazo mais longo uma elevação de 0,25 ponto porcentual na taxa básica de juros do Fed ainda manteria os custos de empréstimo nos EUA bem abaixo daqueles praticados nos mercados emergentes, além de sinalizar uma economia mais saudável nos EUA, notou Goldfajn.
Enquanto isso, disse ele, o Brasil precisa aproveitar o quadro de juros baixos do Fed para colocar a casa em ordem. "Para os mercados emergentes, é na verdade um período benigno", afirmou. "Nós ainda temos taxas de juros muito baixas em economias avançadas", disse Goldfajn. "Há uma fuga da taxa de juros zero que ajuda a apoiar alguns de nossos ativos. Nós temos uma janela de oportunidade para fazer reformas." Com informações do Estadão Conteúdo.