Brasileiros da Kraft Heinz retiram oferta de R$ 431 bi pela Unilever
Segundo comunicado conjunto, a Kraft Heinz concordou "amigavelmente" em retirar sua proposta para união das empresas
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Economia Aquisição
A Kraft Heinz, conglomerado de alimentação controlado pelo grupo brasileiro 3G e pelo investidor norte-americano Warren Buffett, anunciou neste domingo (19) que retirou a oferta para comprar a anglo-holandesa Unilever por US$ 143 bilhões (R$ 431,2 bilhões).
Segundo comunicado conjunto, a Kraft Heinz concordou "amigavelmente" em retirar sua proposta para união das empresas.
"A Unilever e a Kraft Heinz se têm em alta estima. A Kraft Heinz tem o maior respeito pela cultura, estratégia e liderança da Unilever", indica a nota.
A oferta foi anunciada na última sexta-feira (17). A Unilever já havia rejeitado a proposta, indicando que o valor, de 112 bilhões de libras (R$ 431,2 bilhões), foi considerado baixo. "Fundamentalmente, isso subestima a Unilever", anunciou a empresa na ocasião. "A Unilever não viu nenhum mérito, financeiro ou estratégico, para seus acionistas".
A Kraft Heinz é comandada pelo brasileiro Bernardo Hees, que antes foi presidente-executivo do Burger King, outro grande investimento do 3G Capital.
O 3G é o segundo maior acionista da Kraft Heinz, com 23,9% de participação, só atrás dos 26,8% da Berkshire Hathaway, holding de Buffett.
O grupo tem sede nos EUA, mas é liderada pelos brasileiros Jorge Paulo Lemann, Carlos Alberto Sicupira, Marcel Telles, Alex Behring e Roberto Thompson Motta.
Lemann, Sicupira e Telles, figuras constantes em lista de pessoas mais ricas do mundo, também estão na liderança da AB InBev, a maior cervejaria do mundo.
Caso fosse concretizada, seria a terceira maior fusão da história, de acordo com o Instituto de Fusões, Aquisições e Alianças (Imaa, em inglês). O negócio seria superado apenas pela compra da Mannesmann AG pela Vodafone, em 1999 (US$ 202 bilhões), e pela compra da Time Warner pela America Online, em 2000 (US$ 165 bilhões).
Uma transação uniria algumas das maiores marcas de bens de consumo do planeta, adicionando linhas como as da Dove e Knorr à carteira da Kraft Heinz, que já responde pelo cream cheese Philadelphia, pelos ketchups Heinz e pela marca Vigilantes do Peso.
Como muitos outros fabricantes de bens de consumo, a Unilever vem sofrendo uma desaceleração de crescimento, porque os consumidores dos mercados desenvolvidos, cada vez menos leais a marcas, vem optando por produtos de empresas iniciantes em busca de novidades que os entusiasmem.
Os mercados emergentes representam 58% das vendas da Unilever, uma proporção maior do que é o caso em companhias rivais, e ela depende muito desses mercados para o seu crescimento.
A Unilever vem criando marcas premium e explorando novas formas de marketing.
No ano passado, ela adquiriu a Dollar Shave Club por US$ 1 bilhão (R$ 3,1 bilhões), não só para elevar sua participação no mercado de produtos de higiene masculinos como para desenvolver o modelo de assinatura por e-mail no qual os negócios da companhia californiana adquirida são baseados.
A Kraft Heinz surgiu depois de uma transação de US$ 100 bilhões (R$ 310 bilhões) orquestrada por Buffett e pelo grupo brasileiro 3G, em 2015, e seu foco vem sendo reduzir custos agressivamente nas companhias adquiridas, com o objetivo de economizar US$ 1,8 bilhão (R$ 5,6 bilhões) por ano até 2018.
Analistas vinham prevendo consolidação adicional no setor, e especulando que a 3G podia atacar de novo, depois de sua mais recente grande transação. Alguns deles viam a Mondelez International como provável alvo.
Em janeiro, Paul Polman, presidente-executivo da Unilever, alertou sobre condições "desafiadoras" no primeiro semestre do ano, depois de um 2016 lento, o que abalou os investidores na fabricante do sabonete Dove e das maioneses Helmman's, gerando uma queda de 5% nas ações da empresa.
A Unilever registrou alta de 3% em seu lucro anterior aos impostos, em 2016 ante o ano precedente, com ajuda de medidas de corte de custos e de uma campanha pela eficiência que elevaram a margem básica de lucro da empresa em 0,5%, para 15,3%, e lhe propiciaram lucro de 7,5 bilhões de euros (R$ 24,7 bilhões).
Polman acautelou, naquele momento, que "as condições difíceis do mercado" só melhorariam no segundo semestre. "Antecipamos um começo lento, com o crescimento melhorando à medida que o ano avança".
A causa imediata de fraqueza no trimestre final do ano passado era o desempenho na Índia e Brasil, respectivamente o segundo e terceiro maiores mercados da Unilever, que respondem por 14% de sua receita. Com informações da Folhapress.