Primeiro dia de saques do FGTS tem desencontro de informações
A Caixa espera que mais de 4 milhões de pessoas nascidas em janeiro e fevereiro retirem o benefício em todo o Brasil
© Reuters / Pilar Olivares
Economia Caixa
Trabalhadores têm enfrentado alguns problemas para sacar o FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço) nesta sexta-feira (10).
Até as 11h da manhã, 700 mil pessoas já haviam sacado o dinheiro, totalizando R$ 300 milhões em pagamentos. As agências funcionam até as 16h em todo o país e há atendimento também nas lotéricas. A Caixa espera que mais de 4 milhões de pessoas nascidas em janeiro e fevereiro retirem o benefício em todo o Brasil.
Há relatos de pessoas que sabem que têm dinheiro para sacar, mas encontram apenas R$ 2 nos caixas eletrônicos. Há também quem esteja sendo mandado para casa por não estar com a carteira de trabalho, mesmo com valores baixos para retirar.
A Caixa afirmou que pode haver divergência de cadastro, por isso, para algumas pessoas, seria necessário apresentar a carteira. Antes, o banco havia informado que apenas trabalhadores com mais de R$ 10 mil seriam obrigados a levar a carteira de trabalho ou rescisão de contrato para atendimento presencial.
As divergências de cadastro podem ser desde ter uma conta inativa com nome de solteiro até falta de informações sobre quando o contrato de trabalho foi encerrado.
Por isso, o ideal é levar a carteira de trabalho para retirar o dinheiro nas agências.
Em alguns casos, a carteira de trabalho também não traz a informação da rescisão do contrato. Neste caso, é preciso apresentar o termo de rescisão do contrato de trabalho, segundo a Caixa.
Entre as 12h e às 15h, os caixas eletrônicos apresentaram lentidão.
Na agência da Caixa da Casa Verde, zona norte de São Paulo, o tempo de espera do atendimento presencial chegou a 1h30, segundo os atendentes, com os problemas nos caixas.
Irene Santos, 43, foi à agência para conferir se o dinheiro de sua conta inativa tinha caído em sua conta corrente da Caixa. "Vou investir o dinheiro abrindo um restaurante", afirma a auxiliar administrativa.
Já para Débora Pazelo, 36, o dinheiro vai "dar uma segurada" enquanto ela estiver afastada do trabalho de licença médica. "Ainda não recebi o auxílio do INSS", afirmou.
Às 15h50, cerca de 70 pessoas ainda aguardavam para serem atendidas dentro da agência.
A professora Rose Ramos, 48, não conseguiu tirar o dinheiro porque o sistema não reconheceu seu Cartão do Cidadão . "É menos que R$ 3 mil, mas é meu dinheiro. Vou usar para pagar minha dívida de IPVA", disse.
SÓ COM CARTEIRA DE TRABALHO
Daniel Barbosa, 35 anos, diz ter pouco mais de R$ 1.000 para retirar. Ao chegar ao caixa eletrônico, o valor disponível era de apenas R$ 2.
José Aldo, 45, corrigiu os dados divergentes de uma saída do emprego na quarta-feira, em uma agência da Caixa. Ele queria que tudo estivesse certo nesta sexta para receber os cerca de R$ 2.000 a que tem direito.
A frustração veio quando chegou no caixa eletrônico e também encontrou apenas R$ 2 no fundo. Às 8h45 ele estava na fila pra ser atendido presencialmente.
Gilmar Cabral de Oliveira, 32, tem cerca de R$ 4.000 para retirar, de três empregos anteriores. Chegou à fila por volta das 8h30 da manhã, mas também foi informado que precisaria da carteira de trabalho para entrar na agência. A orientação foi dada na própria fila.
"No site, dizia que seria preciso trazer apenas o RG e o Cartão do Cidadão", afirmou.
Procurada, a assessoria de imprensa da Caixa afirmou que a orientação é exigir a carteira de trabalho apenas das pessoas que terão mais de R$ 10 mil a receber.
SEM CRÉDITO AUTOMÁTICO
Patrícia Stevanin, 45, não conseguiu sacar todo o dinheiro esperado. Ela esteve na quinta-feira em uma agência da Caixa para conferir se estava tudo correto. Cliente do banco, esperava que o valor pudesse ser creditado automaticamente.
No entanto, divergências em duas das três contas inativas impediram o saque hoje.
Em uma delas, a informação foi corrigida, mas o dinheiro será liberado apenas na semana que vem. Em outra, com menos de R$ 500, de um emprego que ela deixou em 1993, a Caixa exigiu o termo de rescisão de contrato de trabalho. A carteira de trabalho não foi suficiente.
"Esse dinheiro vai ficar pra quando eu me aposentar ou for comprar uma casa", diz. "Não é como o governo falou. Não é facinho, só chegar e sacar".
Três pessoas ouvidas pela reportagem tiveram o mesmo problema em uma agência no bairro da Santa Cecília, também no centro de São Paulo.
ZONA SUL
Mesmo com a abertura antecipada em duas horas para o saque do FGTS, agências da Caixa na zona sul da capital paulista já registravam filas desde as 7h da manhã desta sexta-feira.
A supervisora de segurança Sônia Feltrin, 48, saiu de casa por volta das 6h30 com medo de enfrentar filas para o saque. Ela foi a primeira a chegar em uma agência na avenida Indianópolis, no Planalto Paulista, por volta das 7h. "A causa é boa", disse ela, instantes antes de o atendimento começar, às 8h, e à frente de dez pessoas.
"Esse dinheiro será um alívio muito grande", disse ela, que pretende quitar dívidas.Desempregada, Bruna Reis Leite, 31, também chegou com antecedência. "Vai me dar um bom alívio, ainda mais desempregada", diz ela.
A expectativa dos funcionários da agência é de um dia corrido. A própria gerente geral da unidade orientava as pessoas que chegavam para tratar do tema. Segundo ela, a equipe de atendimento foi reforçada.
O movimento era intenso, mas não havia lotação ate por volta das 8h40. Muitos levavam a Carteira de Trabalho na mão. Geralmente o documento traz o número do NIS, necessário para o saque.
A fila também começou cedo na avenida Jabaquara, em uma agência da Caixa no número 1185. Às 7h, um grupo de 15 pessoas já esperava a abertura do serviço diante da porta giratória.
Após a abertura, o movimento também era grande, mas sem maiores transtornos.
O empresário Fernando Danesi, 35, também aproveitou o horário de funcionamento extra para sacar o FGTS. Ele chegou às 8h40 na agência e demorou 45 minutos para resolver a situação.
Danesi havia trabalhado em uma consultoria por dois anos. "Era um dinheiro que eu não estava esperando, é isso é muito bom", disse ele, que não teve surpresas na operação. "Não é um dinheiro que vai resolver minha vida, mas vai ajudar a pagar algumas contas pendentes".
CENTRO
O aposentado Geraldo Jacques, 71, tentou sacar o dinheiro perto de onde mora, em Guaianases. Mas havia fila na agência da Caixa desde a madrugada. Na lotérica, a informação era de que ele teria apenas R$ 7,15 para sacar. Ele desconfiou o valor e decidiu buscar outra agência. Por volta das 9h da manhã, ele estava na rua das Palmeiras.
Outros trabalhadores na região tiveram dificuldades de retirar todo o dinheiro esperado.
O estudante Diego Ferreira de Freitas, 27, esperava sacar R$ 1.500 de três contas inativas. No entanto, ele conseguiu retirar dinheiro apenas de umas delas no caixa eletrônico. Os demais valores ficaram bloqueados. Atendentes da Caixa informaram que umas das empresas nunca fez os depósitos, embora no site e no extrato dele apareça o valor.
Para resolver o problema, ele precisa falar com o antigo empregador e cobrar o pagamento do FGTS, segundo a funcionária da Caixa.
A Caixa ainda não se pronunciou sobre esse caso.
ZONA LESTE
Em uma agência em Guaianases, a fila era grande. Por volta das 11h, trabalhadores que chegaram às 5h ainda eram atendidos, de acordo com uma funcionária do banco.
O motorista de ônibus Roberto Ferreira, 38, está desempregado há cerca de quatro meses e chegou por volta das 7h30 ao local.
Após quatro horas na fila sob um forte sol, conseguiu entrar na agência para sacar R$ 1.200, que vêm em boa hora. "Vai ajudar a pagar umas contas e dívidas", afirma ele, que demorou mais 50 minutos no ônibus vindo de Cidade Tiradentes (zona leste). "Lá não tem agência", reclama.
Há alguns anos como autônomo fazendo transporte de carreta, o motorista Reinaldo Galvão, 53, também veio de Cidade Tiradentes para sacar R$ 120 das contas inativas. "É o valor que me informaram pelo telefone. Vamos ver se bate", conta ele que chegou por volta das 11h à agência. "Se precisar ficar aqui até 16h, eu fico."
O representante de vendas Elvis Ferreira, 32, estava mais tranquilo. Ele tentava descontrair o público na fila com piadas. Após quatro horas na fila, saiu às 11h30 com o dinheiro em mãos. "Esse valor vai me ajudar na mudança e a pagar o imóvel que comprei agora", diz.
O calor forte foi uma oportunidade para vendedores ambulantes aproveitarem. José Ribamar foi com um isopor com geladinhos para refrescar o público.
Ele conta que costuma vender cerca de 20 por dia, mas que em meia hora em frente à Caixa já tinha saído mais de 30 -cada um a R$ 1. "Se continuar com esse ritmo, vou ter de ir pra casa reabastecer", comemora. Com informações da Folhapress.