Sem regulação, trabalhar para político é arriscado, afirma publicitário
Fischer, acredita que, na situação atual, é praticamente impossível fazer marketing político
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Economia marketing
O publicitário Eduardo Fischer, fundador e presidente da Agência Fischer, uma das mais tradicionais do mercado publicitário, acredita que, na situação atual, é praticamente impossível fazer marketing político.
Em entrevista na Arena do Marketing, uma parceria da Folha de S.Paulo com a faculdade ESPM, Fischer defendeu uma reforma política que regularize a parte da publicidade. "Hoje não está muito claro o que é ou não legal. É quase crime você trabalhar para um político. Você não tem como receber. O cara não tem como te pagar, o dinheiro que vem é escuso", afirmou.A seguir, os principais trechos da entrevista de Fischer, conduzida pela jornalista Joana Cunha, e que contou com a participação do publicitário Dalton Pastore, presidente da ESPM.
MARKETING POLÍTICO
Eu estava nos Estados Unidos e jantei com um grupo de empresários. Um deles disse: "eu acabo de oferecer US$ 5 milhões a cada senador republicano que votar contra o Donald Trump no caso do Obamacare [programa americano de saúde pública do ex-presidente Obama]". O empresário não foi preso, não é corrupção nem nada, porque lá existe um sistema de lei que protege lobbys abertos, investimentos, onde tudo é declarado. Isso influenciou minha decisão de não trabalhar com campanha. Hoje em dia não está muito claro o que é ou não legal. É quase crime você trabalhar para um político. Você não tem como receber. O cara não tem como te pagar, o dinheiro que vem é escuso. Óbvio que tem que ser feita uma reforma política para que se consiga organizar esse lado da publicidade, está tudo muito obscuro. Hoje é até complicado você ter uma conta pública. O seu telefone já pode estar grampeado. É perigosa a forma como está isso está sendo conduzido.
CRISE DE IMAGEM
Não existe uma regra sobre como lidar com crise [de imagem]. Para cada uma, há um remédio diferente para resolver. Mas o tratamento inicial é sempre o mesmo: reunir especialistas, identificar de onde vem o problema e ver onde você pode atuar para dizimá-la o mais rápido possível.
A Operação Carne Fraca [que apontou irregularidades de fiscalização em empresas como BRF e JBS] teve um efeito sobre a imagem limitada. Não conseguiram provar nada, o que aconteceu foi um malefício absurdo para as exportações [a Agência Fischer tem as contas de marcas do holding J&F, como JBS, Vigor e Banco Original].Dalton Pastore: "A operação da Polícia Federal não foi o seu case mais brilhante, cometeu erros. A própria opinião pública se concentrou em outra direção, ninguém acreditou que foi daquele jeito."Fischer: "Mas a operação poderia ter provocado consequências irreversíveis na imagem da carne brasileira, que levou mais de 30 anos para ser construída."
BANCO ORIGINAL
No início de 2015, havia poucas experiências no mundo com bancos digitais de varejo. O objetivo era lançar um novo banco, mas o momento era difícil: o país passava por uma grande crise financeira e econômica. Estava no nosso planejamento inicial fazer um comercial com o agora ministro Henrique Meirelles [Fazenda], que estava à frente do projeto. Foi roteirizado, desenhado, planejado, mas não chegou a ser filmado. Na última hora, ele recebeu o convite do presidente [Michel] Temer e aceitou. A campanha foi um sucesso, ultrapassou as metas iniciais colocadas pelo banco.
HÁBITOS
O que existe de mais difícil no marketing não é lançar produtos, é criar um novo hábito. Um exemplo é a sandália Havaianas. Hoje todo mundo usa. Mas antes, chinelo era produto que soltava as tiras e tinha cheiro. As Havaianas eram conhecidas como os chinelos que não soltavam as tiras, que não tinham cheiro, mas eram usadas por pedreiros. Hoje é moda no mundo inteiro.RAIO-X
EDUARDO FISCHER - Publicitário e fundador da Agência Fischer
PRINCIPAIS CLIENTES JBS, Flora, Vigor e Sabesp.
Com informações da Folhapress.