Austrália está no meio de disputa comercial entre China e EUA
Entre as economias avançadas, a da Austrália é a que está mais exposta ao comércio chinês, já que exporta grandes volumes de minério e outras commodities para a China
© David Gray/Reuters
Economia reformas econômicas
O governo australiano prepara reformas econômicas para diminuir os riscos de possíveis interrupções comerciais decorrentes da disputa crescente entre os EUA e a China.
Entre as economias avançadas, a da Austrália é a que está mais exposta ao comércio chinês, já que exporta grandes volumes de minério e outras commodities para a China. Ao mesmo tempo, a Austrália possui fortes laços estratégicos de segurança com os EUA.
"A Austrália está em meio a uma posição muito constrangedora entre os EUA e a China. Riscos de crescentes tensões econômicas entre esses dois países se tornam uma grande preocupação", disse Roland Rajah do Instituto Lowy com sede em Sidney.
Apesar do presidente dos EUA Donald Trump e o primeiro-ministro australiano Malcolm Turnbull prometerem aprofundar a cooperação econômica bilateral no início deste ano, um realinhamento do comércio exterior da Austrália levaria anos, significando que uma ruptura comercial com a China poderia reduzir pontos percentuais do PIB australiano.
A Austrália recentemente marcou mais de um quarto de século sem recessão. "Como um país comercial, a Austrália tem muito a perder com a guerra comercial. Independentemente de estarmos isentos ou não de proteções específicas, a deterioração do sistema global de comércio prejudicará nosso futuro", comentou Andrew Charlton, diretor da AlphaBeta de Sydney.
As exportações de commodities da Austrália para a China aumentaram significativamente no último ano. As exportações de carvão aumentaram 99% no período de 12 meses, as de bebidas alcoólicas cresceram em 44%, as de madeira em 41%, enquanto as exportações de produtos farmacêuticos, minério de ferro, lã e alumínio registraram aumentos de 20% para 34%.
O governo australiano avalia agora várias opções para impulsionar a demanda doméstica e a produção interna para dinamizar sua expansão econômica. Os formuladores de políticas do país estão avaliando medidas econômicas de oferta que foram bem sucedidas nos EUA como cortes de impostos e desregulamentação.
A economia da Austrália cresceu 2,4% no ano passado — impulsionada principalmente por uma sólida demanda por commodities da China e um consumo interno intenso de bens de consumo predominantemente chineses. Agora, o gabinete do primeiro-ministro Turnbull está mudando o foco para outras fontes de crescimento.
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O Tesouro sublinha que cortar as altas taxas de imposto corporativo da Austrália — atualmente em 30% — poderia ajudar a estimular a expansão do PIB. De acordo com as projeções do Tesouro, cortar as taxas de impostos em apenas 5% e, no máximo até 25%, estimularia o crescimento do PIB em 1% ao ano, algo em torno de US$ 17 bilhões.
Posteriormente, o corte de impostos seria repassado aos consumidores em forma de preços mais baixos para bens e serviços, aos acionistas por meio de uma recuperação do mercado de ações e retornos mais substanciais e aos trabalhadores e suas famílias através de salários mais altos e bonificações.
"Se o imposto de renda da empresa for cortado, os principais beneficiários serão os trabalhadores", afirma o ex-secretário do Tesouro, Ken Henry.
A desregulamentação é outra opção. Atualmente, a pesada carga da Austrália de aprovações governamentais, proteções ambientais e outros obstáculos burocráticos à iniciativa privada estão devorando cerca de US$ 176 bilhões da produção anual do país, ou seja, 11% do PIB, segundo as estimativas do Instituto de Relações Públicas (IPA, sigla em inglês).
"Uma mina de minério de ferro localizada em Pilbara, no oeste da Austrália, demandou cerca de 4.697 licenças, aprovações e condições apenas para a fase de pré-construção", escreveram especialistas da IPA.
No entanto, os defensores do planejamento governamental rejeitaram por muito tempo a noção de políticas de oferta como "economia de fluxo". Isso apesar de uma maior liberdade de incentivo privado que poderia potencialmente tornar os australianos menos dependentes de assistências governamentais ou corporativas, ao contrário do caso do planejamento estatal e demanda econômica orientada pelo crédito do neokeynesianismo.
O gabinete australiano está atualmente observando de perto o desenvolvimento do comércio entre os Estados Unidos e a China na expectativa de uma solução mutuamente benéfica, permitindo que o país continue em sua terceira década ininterrupta de crescimento. Com informações do Sputnik Brasil.