Estado agrícola enfrenta dilema da guerra comercial
Iowa, além de ser um dos mais vulneráveis à guerra declarada pelo presidente ao comércio global, comemora hoje uma das menores taxas de desemprego do país
© Joshua Lott/Reuters
Economia EUA
Situado no centro agrícola dos Estados Unidos, o Iowa está com o coração dividido. O estado, que foi reduto eleitoral de Donald Trump na eleição de 2016, comemora hoje uma das menores taxas de desemprego do país, com salários subindo quase duas vezes acima da inflação. Mas é também um dos mais vulneráveis à guerra declarada pelo presidente ao comércio global.
Cerca de 20% de seus habitantes têm empregos ligados à cadeia do agronegócio. Os postos de trabalho estão amparados no setor, desde grandes companhias como a produtora de equipamentos agrícolas John Deere até fabricantes de cercas metálicas.
Os efeitos do confronto comercial já são sentidos. O preço das commodities despencou graças às tarifas e ao excesso de oferta. Produtores estão relutantes em comprar equipamentos, e bancos locais têm perspectivas sombrias.
No fim de agosto, EUA e China intensificaram o conflito com a adoção de tarifas de 25% sobre US$ 16 bilhões (R$ 66,3 bilhões) em mercadorias um do outro. Em aceno político aos agricultores que o ajudaram a chegar à Presidência, Trump anunciou em julho um pacote de auxílio de US$ 12 bilhões (R$ 49,7 bilhões).
O apoio, que veio acompanhado de uma visita presidencial a Iowa, foi visto como um paliativo, segundo David Hemesath, da Farmers Union Cooperative (sindicato de cooperativas de agricultores) da cidade de Ossian.
"Os produtores preferem ter seus mercados em vez do apoio do governo. Eles levaram anos para desenvolver negócios no exterior." Christopher Gibbs, um ex-funcionário do Departamento de Agricultura americano, traduziu a decepção dos produtores em veículos como o New York Times e jornais locais.
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Seu lamento mais repercutido veio em uma coluna de um jornal do Ohio, em que ele compara o apoio financeiro ao setor agrícola com o pagamento feito à Stormy Daniels, a atriz pornô que diz ter feito sexo com Trump.
"Dormi com um bilionário porque ele disse que me amava. Na manhã seguinte percebi que fui enganada, ele me ofereceu dinheiro. Quem sou eu? Não sou alguém conhecida como Stormy. Sou o agricultor americano", escreveu Gibbs. A tensão alertou políticos republicanos às portas das eleições para Câmara e Senado.
Para o deputado Rod Blum, que concorre à reeleição e manifestava preocupação com a guerra comercial, a negociação com o México trouxe alívio. "Que boa notícia a Casa Branca deu à comunidade agrícola do Iowa no progresso com o México. Estou ansioso para que o Canadá se junte às negociações", disse Blum.
Como o maior exportador de suínos e milho dos EUA e segundo maior de soja, o Iowa tem sua economia amparada na China. Do lado de lá, o crescente consumo de carne aliado à escassez de solo arável aumenta o apetite chinês.
A divisão de sentimentos no Iowa em relação à guerra comercial se confunde com laços afetivos atados por Xi Jinping ao estado desde 1985. Na época, Xi visitou o estado em uma delegação de pesquisa agrícola. Em Muscatine, ele se hospedou na casa de agricultores.
Em 2012, pouco antes de ser nomeado presidente, ele voltou à cidade para tomar chá com os antigos anfitriões. O afeto ganhou contornos institucionais em 2017, quando Terry Branstad, ex-governador do Iowa que Trump nomeou embaixador americano na China, disse que não se podia falar mal do gigante asiático naquele estado. Com informações da Folhapress.