Reforma fatiada da Previdência não é necessariamente ruim, diz Itaú
Para o banco, ideia pode indicar foco nas mudanças no regime atual de repartição, deixando a criação de um novo regime de contas individuais para um segundo momento
© Pilar Olivares/Reuters
Economia Avaliação
A ideia de fatiar a reforma da Previdência para encaminhá-la ao Congresso, já divulgada pelo presidente eleito, Jair Bolsonaro, (PSL), não é necessariamente ruim, disse o economista-chefe do Itaú Unibanco, Mário Mesquita.
A ideia pode indicar foco nas mudanças no regime atual de repartição, deixando a criação de um novo regime de contas individuais (capitalização) para um segundo momento, afirmou Mesquita.
"Se o novo governo tiver em mente a adoção de um regime de capitalização para os novos entrantes, fatiar talvez signifique fazer essa reforma atual, voltada para o regime existente, e depois endereçar o regime de capitalização", afirmou o economista em evento do banco realizado nesta quarta (5).
Para o Itaú, o mais importante como ponto de partida é o estabelecimento de uma nova idade mínima e uma regra de transição e isso não significa, necessariamente, 65 anos.
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"O número, 65 anos, 64, ou 62 anos e meio não importa tanto. Posso pensar numa idade mínima de 60 anos a partir de agora, sem transição. Quando se olha a economia nos próximos 10, 20 anos, o mais importante é a velocidade em que se converge para a idade mínima", disse Pedro Schneider, economista do Itaú.
Mesmo sem a reforma da Previdência, disseram os economistas, o novo governo não terá dificuldades, no curto prazo, para cumprir a meta do resultado primário (que não inclui o pagamento de juros) e o teto de gastos.
O futuro governo só vai deixar de cumprir a meta do setor público consolidado em 2019 (de R$ 132 bilhões) se o PIB crescer zero -o que não está descartado se não houver aprovação de alguma reforma da Previdência.
Confirmando-se a projeção do Itaú de um crescimento econômico de 2,5% do PIB no ano que vem, a meta será "facilmente cumprida", disse Schneider.
O Itaú espera um déficit primário de R$ 120 bilhões neste ano (versus uma meta de R$ 161 bilhões para o setor público consolidado), e de R$ 96 bilhões para o ano que vem, em comparação à meta oficial de R$ 132 bilhões.
Quanto ao teto de gastos, o economista disse que, se o gasto não obrigatório se mantiver constante em termos reais, é possível cumprir o teto em 2019. Para 2020, a expectativa é que, se nada for feito, o teto seja rompido em R$ 28 bilhões.
"Um sinal importante de política fiscal do próximo governo será dado em abril, quando ele envia a projeção de salário mínimo nominal para 2020. A redefinição da regra do salário mínimo é um dos três pilares do reequilíbrio fiscal", disse Schneider.
SUPERÁVIT PRIMÁRIO EM 2019
A promessa do futuro ministro da Economia, Paulo Guedes, de zerar o déficit primário em 2019 é possível de ser alcançada, afirmou nesta quarta-feira (5), o economista-chefe do Itaú Unibanco, Mário Mesquita.
Segundo ele, a principal fonte de recursos para cumprir o objetivo seria o leilão do pré-sal e também o leilão de telefonia 5G.
Nas contas do Itaú, será possível obter R$ 68 bilhões com leilão de petróleo e mais R$ 20 bilhões em telefonia.
Existiriam ainda mais R$ 15 bilhões em recursos não carimbados que podem ser usados para economia, o que cobriria o déficit de R$ 96 bilhões previsto pelo banco e geraria um superávit de R$ 7 bilhões.
Sem uma reforma da Previdência, no entanto, o resultado primário cai 0,3 ponto do PIB por ano e chega a um déficit de 2,9% em 2015.
O Itaú espera alta de 2,5% do PIB em 2019, com um cenário que inclui três altas dos juros americanos e alguma reforma da Previdência aprovada no primeiro semestre e, provavelmente, semelhante à proposta apresentada por Temer.
Um crescimento inferior ao previsto para a economia chinesa, no entanto, azedaria o cenário. Se a expansão sair dos 6,1% no ano que vem para algo ao redor de 4,5%, isso retiraria de 0,7 ponto a 1 ponto percentual do PIB brasileiro. Com informações da Folhapress