Varejo espera melhor Natal em 10 anos, mas consumidor ainda não comprou
Os varejistas permanecem crentes de que a soma entre segunda parcela do 13º e procrastinação do preparo da ceia podem salvar as vendas de um ano marcado por greve dos caminhoneiros e eleições, que atingiram as vendas em cheio
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Economia Comércio
Trânsito de carrinhos, filas e confusão. É o que espera arduamente o varejo para os últimos quatro dias que antecedem o Natal. O otimismo pós-eleitoral do consumidor, conforme previram os analistas, não se solidificou em aumento de vendas em outubro e novembro, e a alta movimentação típica do mês do Natal ainda não aconteceu.
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Os varejistas permanecem crentes de que a soma entre segunda parcela do 13º e procrastinação do preparo da ceia podem salvar as vendas de um ano marcado por greve dos caminhoneiros e eleições, que atingiram as vendas em cheio. Serão 9,3 milhões de consumidores fazendo compras na última semana antes do Natal, de acordo com pesquisa do SPC Brasil (Serviço de Proteção ao Crédito) e da CNDL (Confederação Nacional dos Dirigentes Lojistas).
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Segundo dados da consultoria Nielsen, em 2017, 48% dos consumidores fizeram suas compras de carnes para a ceia de Natal na última semana. Dois anos antes, o índice era de 36,5%. A rede de supermercados Hirota, com 46 lojas em São Paulo, espera um crescimento de 15% nas vendas de ceias prontas nesse Natal e aposta na véspera. Ano passado foram 1800 unidades vendidas. Até o último final de semana, já tinham cerca de 500 encomendas. "A maioria das encomendas acontece entre os dias 21 e 23", afirma Hélio Freddi Filho, diretor geral da rede.
Na zona cerealista de São Paulo, região que concentra lojas de alimentos, na última sexta-feira o clima natalino ainda não tinha chegado. Ronaldo Dias de Andrade, gerente do Laticínios Camanducaia, diz acreditar nas compras de última hora, quando se vende o equivalente a três dias em um. Com isso, ele ainda espera um Natal com 8% mais vendas do que em 2017.
Segundo lojistas da região, a cautela dos consumidores se refletiu no preço das castanhas, que não subiu. Já o bacalhau ficou cerca de 10% mais caro neste ano, reflexo da alta do dólar, e, como consequência, sua demanda na região caiu em torno de 20%. Se as castanhas e o bacalhau não animam os vendedores, os vinhos e espumantes têm trazido mais otimismo para as marcas.
Jones Valduga, diretor comercial da Domno Importadora e sócio do Grupo Famiglia Valduga, afirma que o último trimestre vai ajudar a equilibrar as contas, depois de "um ano muito sofrido" por causa da paralisação dos caminhoneiros e das eleições. Além de já ter percebido aumento na demanda dos lojistas, ele espera vender ainda mais até o dia 31.
"Não importa a crise, todo fim de ano, na última hora, as pessoas vão aos mercados para comprar, nem que seja um espumante, para estourar no Réveillon", afirma Luciana Salton, diretora de marketing da vinícola Salton. Líder do mercado nacional, a vinícola cresceu 10% em 2018, segundo Luciana, e espera fechar o ano com 85 milhões de unidades vendidas -10 milhões a mais que 2017.
Além de procrastinar as compras, os consumidores também esperam os preços caírem. Segundo Carolina Araújo, líder da consultoria Nielsen para a indústria de alimentos, durante os anos de crise, o consumidor aprendeu a deixar as compras para a última hora a espera de promoções -os valores podem diminuir até 10%.
O comportamento se reflete nos supermercados, segundo Thiago Berka, economista da Apas (Associação Paulista de Supermercados). A associação afirma que o crescimento do setor no mês deve ser moderado, de cerca de 2% em relação a dezembro passado. Segundo a Apas, a dificuldade para uma recuperação mais robusta também vem do aumento de preços de alimentos ao longo do ano, o que deve levar consumidores a buscar opções mais baratas, inclusive substituindo peru por frango e preferindo vinhos nacionais aos importados.
PRESENTES
Com uma perspectiva mais otimista, a FecomercioSP espera um crescimento de 5% nas vendas de dezembro deste ano em comparação a 2017 (já descontada a inflação). Com isso, seria o melhor resultado desde o início da série histórica, em 2008.
Guilherme Dietze, assessor econômico da FecomercioSP, diz que a previsão se baseia em fatores como as melhoras, ainda que limitadas, do nível de emprego, da disponibilidade de crédito e do aumento da confiança de empresários e consumidores na economia. Por outro lado, ele pondera que o faturamento deve ficar próximo ao obtido em 2013, o que indica que o setor poderia estar em patamar muito superior, não fosse a queda resultante da crise econômica nos últimos anos.
A previsão da federação vai na mesma direção ao esperado pela indústria.Segundo pesquisa da Abinee (de eletroeletrônicos), 49% dos associados esperam um Natal melhor em 2018 do que em relação ao ano passado. "Esse número poderia ser maior nesta época do ano. A expectativa é positiva, mas não de um desempenho fantástico, não", diz Humberto Barbato, presidente executivo.
Heitor Klein, presidente-executivo da Abicalçados (do setor calçadista), afirma que as empresas esperam incremento nas vendas de 5% neste Natal, levando em conta as encomendas recebidas pelo setor nos últimos três meses. "Esse ano será de recuperação, de interrupção de uma série de quedas." Com informações da Folhapress.