Investidores veem risco de reforma da Previdência travar no Congresso
Desconfiança foi expressa pelo diretor adjunto do Departamento de Pesquisa do Fundo Monetário Internacional (FMI), Gian Maria Milesi-Ferretti
© Marcos Oliveira/Agência Senado
Economia Dúvida
No discurso de abertura do Fórum Econômico Mundial, o presidente Jair Bolsonaro vai falar da importância da reforma da Previdência para o País, mas investidores internacionais têm dúvidas se o novo governo conseguirá apoio do Congresso Nacional para aprová-la.
Essa desconfiança foi expressa na segunda, 21, pelo diretor adjunto do Departamento de Pesquisa do Fundo Monetário Internacional (FMI), Gian Maria Milesi-Ferretti, a jornalistas brasileiros, em Davos. "Na área fiscal, a reforma da Previdência é importante, mas pode não passar pelo Congresso", disse Milesi-Ferreti.
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O executivo de um banco suíço de investimentos diz que não vê mudanças no Congresso brasileiro a ponto de garantir a aprovação da reforma. Ele lembrou da dificuldade que Michel Temer teve quando tentou, sem sucesso, mudar as regras de aposentadoria no País.
A proposta começou com uma economia de R$ 800 bilhões em 10 anos. Com as modificações feitas para conseguir aprovar o texto no Congresso, esse ganho foi desidratado para menos de R$ 400 bilhões e virou motivo de incerteza entre os investidores diante da perda de força do seu impacto para as contas públicas e para a sustentabilidade da Previdência.
Agora, a equipe do ministro da Economia, Paulo Guedes, estuda entre as propostas uma reforma que tenha impacto de até R$ 1 trilhão em dez anos - o que, segundo esse investidor, também é um fator de incerteza.
Em conversas informais na véspera da abertura, investidores também manifestaram preocupação de que as denúncias envolvendo Flávio Bolsonaro, o filho mais velho do presidente, minem o capital político de Bolsonaro entre os parlamentares justamente no momento de votação da proposta.
A expectativa em Davos é de que Bolsonaro e Guedes avancem em detalhes da proposta durante o evento. Um assessor do presidente que está em Davos informou ao Estadão/Broadcast que essa é uma possibilidade. O deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente, disse, no entanto, que os detalhes serão dados no Brasil, por ser um assunto que interessa mais aos brasileiros do que à comunidade internacional. "Todos sabem que estamos estudando. Mas isso é para apresentar no Brasil."
Bolsonaro recebeu a proposta na última quinta-feira, 17, e aproveitou a viagem para discutir a estratégia com seus ministros. Um ministro que integra a comitiva do presidente disse que os militares vão entrar na reforma da Previdência em linha com as declarações presidente em exercício Hamilton Mourão.
Na segunda, em Brasília, ele defendeu um período de transição para aumentar de 30 para 35 anos o tempo mínimo de serviço para que militares se aposentem. Além disso, voltou a propor o fim do pagamento integral de pensão por morte de integrantes das Forças Armadas. Ele negou que haja resistência a esses temas. "São assuntos que estão sendo discutidos. Militar não resiste, militar é tranquilo, são os mais fáceis", declarou.
Mourão disse que a proposta de reforma da Previdência deverá ser apresentada pelo governo só depois das eleições para a presidência da Câmara e do Senado. E negou que o caso envolvendo Flávio Bolsonaro atrapalhe a negociação da proposta no Congresso. "Isso não tem influência."
Na segunda, Guedes disse ao governador de São Paulo, João Doria, que a reforma é "prioridade absoluta" e pediu apoio para que o texto seja votado no primeiro quadrimestre deste ano. Os dois se encontraram rapidamente no hotel onde estão hospedados em Davos. Ao chegar para a reunião do fórum, Bolsonaro disse que está lá para mostrar que "o Brasil mudou". As informações são do jornal O Estado de S. Paulo e Estadão Conteúdo.