Bolsa recua por receio de desidratação da reforma da Previdência
Investidores gostaram da reforma apresentada pelo governo Bolsonaro, que prevê economia de R$ 1,1 tri em 10 anos, mesmo esperando que haja uma redução desse valor
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SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Antevendo dificuldades de aprovação no Congresso da reforma da Previdência tal como foi apresentada pelo governo, a Bolsa brasileira recuou mais de 1% nesta quarta-feira (20), na contramão da tendência positiva do exterior. O dólar subiu.
Investidores gostaram da reforma apresentada pelo governo Bolsonaro, que prevê economia de R$ 1,1 trilhão em dez anos, mesmo esperando que haja uma redução desse valor. O desafio agora é medir a magnitude dessa desidratação em um cenário em que o governo mostra dificuldade de negociar com o Congresso.
"O mercado entende que reforma da Previdência é a única opção possível para resolver o problema fiscal. Tem que ter. Mas com a derrota de ontem [terça-feira], o governo vai ter que aprender a negociar", diz Victor Candido, da Guide.
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Candido fala da primeira derrota do novo governo no Congresso, imposta pela Câmara ao derrubar o regime de urgência na tramitação de mudanças na Lei de Acesso à Informação. Isso ocorreu após uma semana de incerteza com a queda do ministro Gustavo Bebianno, aliado de Bolsonaro desde a época da campanha eleitoral, mas envolvido no escândalo dos candidatos-laranjas do PSL, o partido do presidente.
O economista diz ainda que a ausência dos militares na reforma e a insatisfação dos governadores também foram considerados pontos negativos pelo mercado financeiro.
O Ibovespa, principal índice acionário do país, abriu o dia em alta, mas fechou em queda de 1,14%, a 96.544 pontos. O giro financeiro foi de R$ 17,5 bilhões. No exterior, Bolsas americanas e europeias avançaram.
O dólar chegou a cair para abaixo de R$ 3,70 durante a manhã, mas terminou o pregão em alta de 0,34%, a R$ 3,729.
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Para Alberto Ramos, do Goldman Sachs, a reforma já passou por lavagens políticas para ser discutida no Congresso e não deve ser considerada exclusivamente técnica.
Entre as concessões está a diferença de idade de aposentadoria para homens (65 anos) e mulheres (62 anos), uma exigência do presidente.
"Do ponto de vista técnico, a reforma é muito bem estruturada e dá uma resposta cabal ao problema da Previdência. Agora a questão é o que sobrevive no Congresso", diz Ramos.
Ele diz que há no mercado receio sobre a articulação política no Congresso, mas critica a visão de que uma desidratação da reforma seria uma derrota do governo.
"Se aprovar uma reforma extremamente diluída, não vejo como uma derrota do governo, mas uma derrota do país. Isso não exime o governo de se articular, mas se todo mundo acha que a reforma é ótima, por que precisa de tanto convencimento?"
O Goldman Sachs espera que a reforma encolherá para uma economia entre R$ 500 bilhões e R$ 600 bilhões em dez anos. Segundo ele, uma entrega abaixo de R$ 500 bilhões seria decepcionante, enquanto uma economia acima de R$ 700 bilhões surpreenderia positivamente.
José Francisco de Lima Gonçalves, do banco Fator, diz que a reforma trouxe alguns conceitos decisivos, como a idade mínima, tempo de contribuição e regra de transição, que politicamente têm muito significado.
Para ele, as condições fixadas pelo governo na proposta serão flexibilizadas no Congresso.
"Numa primeira avaliação, [a reforma] não trouxe grande novidade. A apresentação foi, me pareceu, bem feita tecnicamente. Mas quando passa a régua e diz começou, começou o que? Não se tem a menor ideia", diz o economista-chefe do Fator sobre a discussão do texto no Congresso.
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