Presente de colecionador, camisa de Maradona foi resposta de Messi a críticas
Segundo o site da revista El Gráfico, a camisa foi usada por Maradona em uma de suas sete partidas pela equipe.
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Esporte LIONEL-MESSI
ALEX SABINO
BUENOS AIRES, ARGENTINA (FOLHAPRESS) - Lionel Messi recebeu críticas na Argentina pela sua reação à morte de Diego Maradona, ocorrida na última quarta-feira (25). Sua postagem no Instagram se despedindo do campeão mundial de 1986 foi vista por parte da opinião pública como pouca diante do tamanho da perda.
Ele respondeu no domingo (29) com uma das mais belas homenagens ao ídolo: ao comemorar seu gol pelo Barcelona contra o Osasuna, no Camp Nou, tirou a camisa do clube catalão. Por baixo, estava a do Newell's Old Boys, modelo 1993, numero 10 às costas.
Foi o ano em que Maradona atuou no clube de Rosário, cidade de Messi, que é torcedor da equipe.
Segundo o site da revista El Gráfico, a camisa foi usada por Maradona em uma de suas sete partidas pela equipe. Lionel a recebeu como presente de um colecionador e jamais a havia exibido em público.
Foi uma exibição emocionada de um jogador que não costuma demonstrar nenhum sentimento em campo e já foi criticado várias vezes em seu país por isso.
Porque apesar de camisa 10 e melhor do mundo como Maradona, as reclamações são de que ele não seria capaz de sentir a emoção de jogar pela seleção argentina. O maior exemplo disso, por esse raciocínio, era não cantar o hino antes dos jogos na Copa do Mundo.
Tal qual aconteceu na suposta reação discreta à morte de Diego, ele acabou com isso durante o Mundial da Rússia, em 2018. "Por que cantei o hino? Senti vontade de cantar e cantei", disse.
Segundo seu pai, Jorge, as pessoas têm dificuldades em entender como é Lionel. "Ele adora Maradona. É seu ídolo máximo. Sempre foi assim", disse ao jornal Folha de S.Paulo em 2014.
Quando Diego entrou em campo pela primeira vez pelo Newell's, em 7 de outubro de 1993, em um amistoso contra o Emelec (EQU), Messi, então com seis anos, estava na arquibancadas do estádio Marcelo Bielsa ao lado do pai.
O atual craque argentino já reconheceu no passado que o único livro que leu foi "Yo soy el Diego de la gente", biografia oficial do meia-atacante escrita pelo jornalista argentino Daniel Arcucci.
Quando Lionel fez o primeiro gol da carreira pelo Barcelona, em maio de 2005, no dia seguinte Maradona lhe telefonou. O garoto de 17 anos ficou mudo.
A estreia televisiva de Messi foi en La Noche del Diez (A noite do Dez), programa que Maradona teve na TV argentina também em 2005. As imagens foram resgatadas nos especiais mostrados na última semana.
Foi Diego, enquanto era técnico da seleção, o primeiro a perceber que Messi deveria assumir um papel maior de liderança. Deu-lhe a braçadeira de capitão antes do jogo contra a Grécia, na Copa do Mundo de 2010.
"Leo ficou a noite inteira apavorado porque teria de dar ao time as últimas palavras de incentivo antes de entrar em campo. Eu lhe disse para falar o que estivesse em seu coração. Ele tropeçou nas palavras e não saiu nada", recordou o ex-meia Juan Sebastian Verón, colega de quarto de Messi naquele torneio.
Quando queria brincar com o jogador mais jovem, Maradona dizia que era mais fácil falar com Deus do que fazer Messi atender ao telefone.
A adoração da torcida do Newell's e da cidade de Rosário a Maradona continuou por anos, apesar do desempenho curto e discreto dele pelo clube. Dos sete jogos que realizou após uma negociação que incluiu até em quais horários treinaria, apenas cinco foram oficiais. Fez apenas um gol.
"Quando Diego chegou, todos os outros jogadores ficaram admirados com ele. Mesmo os mais brincalhões se tornaram tímidos diante dele. No primeiro treino já fez uma brincadeira em que fazia embaixadinhas, dava um bico para muito alto e fazia de conta esquecer da bola. Quando ela descia, ele dava outro chute e repetia tudo de novo. Ninguém sabia como conseguia aquilo", relembra Juan Manuel Llop, meia daquele elenco e hoje treinador.
A torcida também não o esqueceu. Como técnico do Gimnasia em 2019, Maradona recebeu homenagens de quase todas as torcidas. Nenhuma igual a do Newell's, que levou milhares de pessoas à porta do hotel onde estava Diego e passou horas gritando seu nome.
"Eu sou Lepra e um dia vou voltar", afirmou, citando o apelido do time e fazendo uma promessa que não será cumprida.