Guardiola espalha filhotes treinadores e exibe sua influência no futebol
Na próxima rodada do Campeonato Espanhol, no dia 14, o Barcelona poderá ser campeão nacional. O comando está nas mãos de Xavi, talvez a expressão máxima, depois de Lionel Messi, de um dos maiores times da história do futebol: o mesmo Barcelona que, entre 2009 e 2011, ganhou todos os títulos possíveis sob a égide de Guardiola.
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Esporte Pep Guardiola
ALEX SABINO
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A expressão "guardiolismo", se existe, não caiu no gosto popular. Deveria. Os tentáculos da escola do treinador espanhol se espalham no futebol. Se a influência intelectual já existia antes, os resultados dos filhotes de Pep Guardiola ficaram mais evidentes nesta temporada.
Na próxima rodada do Campeonato Espanhol, no dia 14, o Barcelona poderá ser campeão nacional. O comando está nas mãos de Xavi, talvez a expressão máxima, depois de Lionel Messi, de um dos maiores times da história do futebol: o mesmo Barcelona que, entre 2009 e 2011, ganhou todos os títulos possíveis sob a égide de Guardiola.
Em clube de limitados recursos financeiros, o Arsenal de Mikel Arteta liderou o Campeonato Inglês e ainda briga pelo título com o Manchester City, equipe em que foi o número 2 de Pep.
Também no City, por anos o capitão de Guardiola foi o zagueiro belga Vincent Kompany. Com o estilo de toque de bola, pressão e atuação sempre no ataque, características que estão no centro do "guardiolismo", ele revolucionou o Burnley.
Até o rebaixamento na temporada 2021/22, a equipe vinha se mantendo na primeira divisão com um futebol bruto e de lançamentos longos, dirigida por Sean Dyche. Sob Kompany, adotou outra estratégia, venceu a segunda divisão com antecedência e assegurou o retorno à elite, a Premier League.
"Guardiola é o guia do que quero fazer com minhas equipes", afirmou o ex-defensor.
"Ele é um professor de futebol. Quando joguei no Barcelona, ele vinha com ideias diferentes, inovadoras. Pep vive o futebol e se entrega totalmente. Não é por acaso que obtém os resultados", observou o lateral brasileiro Adriano, com passagem pelo clube catalão entre 2010 e 2016.
Guardiola dispensa rótulos ao seu trabalho e foca o que pode conseguir no presente. O Manchester City é o líder da Premier League e está perto do terceiro título consecutivo, o quinto em seis anos. Contra o Real Madrid, disputa as semifinais da Champions League, o sonho máximo do projeto de "sportswashing" da família real dos Emirados Árabes, dona, em última instância, da agremiação inglesa.
O treinador sempre rejeitou a palavra "obrigação" quando questionado sobre ganhar a taça continental. Costuma responder que as pessoas não têm ideia de como é difícil vencê-la. Ele fez isso uma vez como atleta (1992) e duas como treinador (2009 e 2011). Todas pelo Barcelona.
A influência do espanhol aparece mesmo em quem ainda não conseguiu os resultados que planeja. Erik ten Hag saiu do Ajax para o Manchester United com a missão de acordar um gigante adormecido. Ganhou a Copa da Liga Inglesa na atual temporada e vai enfrentar o próprio City na decisão da Copa da Inglaterra.
Ele não tem o menor pudor de admitir que se inspira na filosofia de Guardiola, com quem trabalhou no Bayern. Tanto que ganhou o apelido, na Holanda, de "mini Pep".
"Conversar sobre táticas com Guardiola é como ganhar na loteria", declarou.
"O segredo dele é a simplicidade. É simples como planeja as coisas, como elas são executadas e como são transmitidas para os jogadores", explicou Sylvinho, que atuou sob o comando de Pep no Barcelona e, como técnico, passou pelo Corinthians antes de chegar à seleção da Albânia.
O catalão rejeita expressões ou ideias definitivas porque busca sempre o novo. O caso mais clássico foi quando teve a ideia de escalar Messi como falso 9 em partida que o Barcelona contra o Real Madrid, em 2009. Os catalães venceram por 6 a 2, jornada tratada como um dos momentos transformadores do futebol neste século.
É o mesmo espírito com o qual ele rejeita (detesta, na verdade) a expressão "tiki taka" para definir o estilo de toques constantes que se tornou marca também da seleção espanhola. O termo designa, originalmente, uma maneira de trocar passes de forma infrutífera. É o oposto do que Guardiola pretende.
"Tiro coisas dos grandes técnicos com os quais trabalhei, mas não considero que copio alguém. Quero controlar o jogo. Joguei no meio-campo", disse Xabi Alonso, hoje no Bayer Leverkusen.
Guardiola não era veloz, não costumava fazer gols ou chegar ao ataque, mas foi parte central do que ficou eternizado como o "Dream Team" (time dos sonhos, em inglês), o Barcelona campeão europeu de 1992 sob o comando de Johan Cruyff, este, sim, a inspiração maior de Pep. Uma das frases mais conhecidas de sua carreira é: "Antes de [conhecer] Cruyff, eu não entendia nada de futebol".
Há também discípulos do espanhol na América do Sul, como Gabriel Milito, hoje à frente do Argentinos Juniors, adversário do Corinthians na Copa Libertadores. Javier Mascherano assumiu a seleção sub-20 da Argentina, mas durou pouco no cargo.
"Meu ego fica feliz", afirmou Guardiola, sobre a influência que exerce.
"Mas o futebol é futebol desde que foi criado. As linhas são as mesmas, o campo é o mesmo. Não são 14 contra 14, são 11 contra 11. Trata-se de quão bem você lê as situações durante a partida. É sempre possível dar um passe, o tempo todo. Isso é 100% certo. Depois disso, é a qualidade dos jogadores que você tem que vai resolver tudo. Hoje ainda é possível jogar como o Brasil de 1970 ou como as equipes dos anos 1980 e 1990. Claro que é."
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