Favoritas ao ouro, Martine e Kahena estão preocupadas com o legado
'Tem tido muita coisa errada. Havia coisas prioritárias, como saneamento, que foram deixadas para trás', comentou Martine
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Esporte Olimpíadas
O Comitê Olímpico do Brasil (COB) estabeleceu como meta para os Jogos do Rio que o País termine entre os 10 maiores medalhistas da competição. Para chegar a esse número, a entidade dá como certo o pódio em algumas modalidades. A entidade prefere não dizer em quais. Mas uma dessas é mais do que óbvia: a vela. No esporte que já deu 17 medalhas na história olímpica, o Brasil sempre entra como um dos favoritos. Este ano, a dupla Martine Grael e Kahena Kunze desponta como candidata à medalha na classe 49erFX, já que a disputa será praticamente no quintal de casa.
Martine e Kahena conquistaram os dois eventos-teste realizados na Baía de Guanabara, em 2014 e 2015. Elas lideram o ranking mundial na categoria e vêm de um ciclo olímpico quase perfeito, marcado pela conquista do Mundial de Santander, em 2014, e pela prata nos Jogos Pan-Americanos de Toronto, no ano passado.
Os excelentes resultados jogam uma pressão extra sobre elas. "Temos a noção de que estamos entre os grandes nomes dos Jogos Olímpicos", afirmou Martine. "Conhecemos nossas adversárias e sabemos que vai ser muito difícil. As dez primeiras têm condições de ganhar medalha, mas mesmo assim, estou super tranquilas nesse aspecto (da pressão)", disse.
A tranquilidade veio com o amadurecimento. "Tivemos muitas experiências, com erros e acertos", declarou Kahena. "Agora vamos estar em casa. A gente nunca esteve em uma Olimpíada e vamos começar em casa. Quantas pessoas tiveram essa oportunidade?"
A dupla costuma treinar na Baía de Guanabara, local da disputa nos Jogos do Rio. Isso não é visto pelas duas como uma vantagem. "Todo dia tem um desafio diferente. Não é um lugar constante", afirmou Martine. "Quem vencer a Olimpíada, realmente, é um velejador que sabe competir tanto com vento forte ou fraco, com onda ou sem onda. É um velejador completo", complementou Kahena.
Elas procuram neutralizar a expectativa com treinos constantes e dias de lazer, com moderação nos dois aspectos. "No começo a gente treinava muito mais. Agora estamos aproveitando melhor em termos de qualidade", disse Martine.
CIDADE OLÍMPICA - As velejadoras sempre tiveram um tom crítico sobre as condições de limpeza da Baía de Guanabara, mas a preocupação agora se estende também para aquilo que está sendo feito fora da água. "Tem tido muita coisa errada. Havia coisas prioritárias, como saneamento, que foram deixadas para trás", comentou Martine.
Ela demonstrou preocupação com os "elefantes brancos". Para ela, "as obras, às vezes, são muito grandes, desnecessárias, e talvez não venham a ser muito utilizadas. Quando você faz uma coisa, precisa fazer com que ela dê o máximo de proveito possível".
Kahena, por sua vez, reclamou da falta de compromisso com as promessas apresentadas antes dos Jogos. Ao saber que a obra da Linha 4 do metrô ficará pronta apenas parcialmente a tempo dos Jogos - e isso na promessa mais recente e otimista do governo do Estado -, a velejadora demonstrou descontentamento.
"Isso me preocupa um pouco. A gente tinha um objetivo, que era entregar todas as obras prontas para a Olimpíada. Não vai ficar pronto, e depois? O meu medo é parar", comentou. "Você vê uma cidade como Barcelona, em que investiram (para os Jogos Olímpicos de 1992). Se você for pra lá hoje pode fazer uma nova Olimpíada. Aqui, nada é planejado". Com informações do Estadão Conteúdo.