A seleção cubana de lutas olímpicas abriu mão do conforto de um hotel para ficar hospedada em um albergue na Vila Isabel, bairro da zona norte do Rio. A opção foi justificada pela proximidade com o local de treinamento, na sede da CBLA (Confederação Brasileira de Lutas Associadas), na Tijuca.

Os atletas ocupam três quartos coletivos no albergue, que cobra tarifas que variam entre R$ 60 e R$ 200. Apenas o bicampeão olímpico Mijaín López, de 33 anos, está em um quarto privativo, acompanhado de seu técnico. Ele ganhou medalha de ouro em Londres e Pequim.

"O bairro é maravilhoso, as pessoas são carinhosas e o local de treinamento é perto. Temos tudo o que necessitamos aqui na preparação para vencer uma competição. Não precisamos de luxo", disse López, que vai conduzir a bandeira de Cuba na cerimônia de abertura da Olimpíada.

A estadia dos 11 atletas e comissão técnica começou no dia 18 de julho. Eles optaram por chegar ao Brasil com antecedência para facilitar a adaptação ao clima e iniciar os treinamentos.

A escolha do albergue foi mediada pela CBLA. A confederação foi acionada pelo governo cubano para ajudar na escolha de hospedagem próxima ao local de treinamento. Os atletas mantêm uma rotina de 5h diárias de treino.

A equipe vai para a Vila Olímpica, na Barra da Tijuca, no dia 2 de agosto. Na ocasião, os lutadores vão estrear os uniformes assinados pelo estilista francês Christian Louboutin, famoso pelos sapatos com sola vermelha.

A entrada no alojamento oficial da Olimpíada ocorre conforme as datas de competição. O torneio de lutas olímpicas começa dia 14 de agosto.

Diferente do aparato de segurança na Vila Olímpica, não há detectores de metais ou agentes da Força Nacional na entrada do albergue. Nem mesmo homens do governo cubano, uma vez que 30 atletas do país desertaram ano passado durante os Jogos Pan-Americanos, em Toronto, no Canadá.

"Há desertores em todo o mundo, não só em Cuba. Todos os dias a gente tem imagens de pessoas morrendo no Mar Mediterrâneo ao deixarem seus países", disse o técnico-chefe da seleção de luta livre, Raul Trujillo.

"As pessoas não escolhem o país onde vão nascer. Ela pode escolher onde quer viver. Mas pátria é pátria. Tem muita gente querendo voltar para Cuba e não é porque há uma aproximação com os Estados Unidos. É porque elas viram que o mundo não é uma maravilha", afirmou Trujillo.

O mais próximo da cúpula do poder em Cuba a passar pelo albergue foi Antônio Castro, médico da equipe de beisebol, que já está instalada na Vila Olímpica. Ele é filho do ex-ditador cubano Fidel Castro.

Antônio Castro esteve no albergue na última quarta-feira (27) à noite. O médico jantou com os atletas no bar da esquina, conheceu as acomodações e conversou com os atletas.

Enquanto aguardam o início da competição, os atletas aproveitam para comprar produtos que são comercializados mais caros em Cuba. Na tarde de sábado (30), os lutadores compraram quatro aparelhos de ar condicionado, mas pediram para a imprensa não fotografar os equipamentos.

"Eles aproveitam essa tradição de trocar objetos, muito comum nesses grandes eventos, para conseguir eletrônicos. Muitos deles oferecem os agasalhos e charutos por videogames e celulares", contou Guilherme Carames, um dos donos do Maraca Hostel.

O albergue preparou uma festa de despedida para a delegação, no sábado, com a apresentação da bateria escola de samba Vila Isabel, acompanhada por duas passistas. Com informações da Folhapress.