Suspenso, Brasil passa por auditoria da Agência Mundial Antidoping
A comitiva da agência ainda quer saber se normas de testes e investigações estão de acordo com o que preconiza
© REUTERS/Denis Balibouse
Esporte Testes
A ABCD (Autoridade Brasileira de Controle de Dopagem), órgão federal atrelado ao Ministério do Esporte, está passando nesta semana por uma auditoria da Wada (Agência Mundial Antidoping).
Três oficiais enviados pela organização que regula o controle antidoping em nível mundial vão verificar a aplicação de padrões técnicos internacionais previstos no Código Mundial Antidoping.
A atitude também evidencia uma insatisfação da agência mundial com a conduta da entidade brasileira, que foi criada em novembro de 2011.
O procedimento é raro e só havia sido executada com a Rússia, cujo esporte está fustigado por recorrentes casos e denúncias de doping, e o Quênia, outro país na alça de mira da agência mundial.
A federação russa de atletismo está descredenciada pela IAAF (Associação Internacional das Federações de Atletismo) desde o final de 2015 e foi banida da Rio-2016.
O Brasil não passa por situação tão delicada quanto à do país europeu, mas convive há meses com um quadro difícil.
A ABCD está descredenciada pela Wada desde novembro, por não estar em conformidade com o código mundial, e reduziu seu número de testes antidoping, principalmente aqueles fora de competição. Por isso a agência mundial resolveu intervir.
Três integrantes da comissão de conformidade chegaram a Brasília nos últimos dias para verificar se a ABCD cumpre recomendações e os padrões em áreas de gestão de resultados e procedimentos técnicos. Também para identificar se todas as regras do Código Mundial Antidoping têm sido respeitadas. À Folha, a Wada confirmou a auditoria.
A comitiva da agência ainda quer saber se normas de testes e investigações estão de acordo com o que preconiza.
Outra preocupação é averiguar se a ABCD tem cumprido a norma internacional para conceder Autorizações de Uso Terapêutico. Essas autorizações permitem que atletas consumam substâncias que constam da lista proibida da Wada mediante autorização médica -serviriam para um tratamento de doença crônica, por exemplo.
O trabalho da comitiva da agência mundial deve durar cerca de uma semana.
A reportagem apurou que serão feitas entrevistas com funcionários das áreas operacionais da ABCD, mas de maneira isolada. Não será permitido que integrantes da chefia da autoridade nacional participem dos questionamentos.
Após as conferências, a comitiva da Wada fará recomendações ao conselho da entidade a respeito da conformidade da ABCD. O crivo ou não pesará na situação da agência, que tenta voltar a ser credenciada.
TRIBUNAL
A Folha de S.Paulo publicou no último dia 18 que outro questionamento da Wada à ABCD diz respeito à composição do Tribunal de Justiça Antidopagem, criado no final do ano passado para acelerar a tramitação de casos positivos -até então, cada modalidade tinha seu próprio STJD (Superior Tribunal de Justiça Desportiva).
Cinco dos integrantes do tribunal único brasileiro têm ou tiveram recentemente ligação com confederações ou outros tipos de entidades esportivas, o que a Wada desaconselha.
O presidente do tribunal, Luciano Hostins, por exemplo, é responsável jurídico da Confederação Brasileira de Triatlo, integra o STJD do judô e trabalhou para a confederação nacional de ciclismo.
Enquanto descredenciada pela Wada, a ABCD não pode atuar como autoridade de testes. Ou seja, ela não pode requisitar testes diretamente. Assim, a realização de exames antidoping no Brasil tem cabido sobretudo às federações internacionais de cada esporte. Com informações da Folhapress.