Antes dos Jogos, Nuzman regularizou R$ 3,8 mi por lei de repatriação
Relatório da Receita mostra também que o patrimônio de Nuzman dobrou entre 2013 e 2014, início do ciclo olímpico dos Jogos no Rio
© REUTERS/Fabrice Coffrini
Esporte UNFAIR PLAY
Dois anos antes do início dos Jogos Olímpicos, Carlos Arthur Nuzman regularizou R$ 3,8 milhões ocultados das autoridades fiscais brasileiras no exterior.
O cartola aderiu ao programa de regularização de ativos no exterior. Ela tem sido criticada por abrir brecha para a legalização de dinheiro com origem ilegal.
No seu Imposto de Renda de 2015 , o dirigente informou que era dono de cem ações de uma companhia sediada nas Ilhas Virgens Britânicas.
Segundo o documento, a empresa era proprietária de um apartamento em Nova York e tinha patrimônio líquido de US$ 1,4 milhão (cerca de R$ 4,5 milhões atuais).
No documento, o dirigente não deixa claro se era dono do apartamento em Manhattan. Outros investigados na Operação Lava Jato usaram a mesma estratégia para legalizar bens no exterior, como os empresários Marco Antônio de Luca, Jacob Barata e o doleiro Renato Chebar. Ele afirmou em delação premiada ser "laranja" de Sérgio Cabral, ex-governador do Rio.
BARRAS DE OURO
Nuzman também ocultou das autoridades federais 16 barras de ouro mantidas num cofre na Suíça. Elas valem R$ 1,5 milhão e só foram declaradas à Receita Federal -por meio de uma declaração de retificação- após Nuzman ser intimado a depor na Operação "Unfair Play", em setembro.
Relatório da Receita mostra também que o patrimônio de Nuzman dobrou entre 2013 e 2014, início do ciclo olímpico dos Jogos no Rio.
Os dados revelam que o dirigente disse à Receita ter R$ 8,4 milhões em bens em 2014, o dobro dos R$ 4,2 milhões declarados no ano anterior. Em 2015, Nuzman informou às autoridades ter R$ 9,1 milhões em patrimônio, que foi reduzido ano passado para R$ 7,3 milhões -sem considerar R$ 1,8 milhão adicionados na declaração retificada.
A Procuradoria afirma que as declarações de imposto de renda de Nuzman não registram remuneração do comitê organizador da Olimpíada. O dirigente justifica o crescimento patrimonial apenas com recebimentos de pessoas físicas e do exterior, sem outras informações.
"Enquanto atletas olímpicos buscavam a sua medalha de ouro, dirigentes guardavam suas barras de ouro na Suíça", disse a procuradora Fabiana Schneider.
A alteração na declaração às autoridades fiscais foi interpretada como uma tentativa de obstruir as investigações.
"Toda a receita dele está compatível com seus ganhos, declarada no seu imposto de renda. Essa é uma discussão de mérito, que pouco tem a ver com uma prisão sem a formalização de um processo", disse Nélio Machado, advogado de Nuzman. (Folhapress)